Sempre que vejo um programa de televisão em que o telespectadores podem telefonar para intervir na discussão ou para dizer a sua opinião fico com a sensação de que uma boa parte das chamadas têm pouco de espontâneo, são uma mistura de posições partidárias com as ideias dos telespectadores. Já há algum tempo que me parece que os partidos, ou pelo menos alguns partidos têm uma estratégia concertada para intervir nestes programas, inundando-os com opiniões que lhes são favoráveis.
Trata-se de uma estratégia de manipulação da opinião pública muito inteligente, ao multiplicarem as intervenções de militantes seus os partidos tentam confundir opinião pública com a sua própria opinião. Dá o seus resultados mas trata-se de uma estratégia política que tende a ser pouco eficaz, esquece que uma boa parte do eleitorado não actua como um cardume de carapaus, tem opinião própria e vai para onde entende e não para onde se supõe ser o desejo de uma suposta maioria criada artificialmente.
Os partidos não só tentam manipular os espaços públicos saturando-os com as suas opiniões como se esforçam por manipular as audiências. Ainda há pouco tempo chegou-me um sms de um destacado responsável de um grande partido, alertando-me para a entrevista que o seu líder daria nesse dia à RTP 1.
Uma observação atenta da caixa de comentários d’O Jumento leva-me a crer que os blogues também já são visados pelos partidos, o Palheiro tem alguns “comentadores residentes” cuja única função é defender o partido das críticas que o podem atingir. Nalguns casos a estratégia é ainda mais agressiva e a função do comentador” residente é tentar denegrir sistematicamente tudo o que o autor escreve, numa tentativa clara de lançar o descrédito no blogue. Não participam em qualquer discussão, não dizem o que pensam, não lança uma única sugestão para discussão, limitam-se simplesmente a cumprir a obrigação militante de denegrir O Jumento. É evidente que estes “comentadores residentes” só apareceram quando O Jumento adquiriu dimensão e começou a ser referido na comunicação social.
Com estas estratégias percebe-se que os partidos não só receiam a opinião pública, como adoptaram estratégias que visam inquinar a opinião pública, recorrendo a todos os meios para que os sinais visíveis dessa opinião públicos sejam as suas próprias opiniões. Descobriram que as suas opiniões podem chegar a mais eleitores do que os outdoors, e é mais barato. Só que ao tentarem substituir a opinião pública estão a querer transformar esta num teatro de marionetas, e ainda por cima de má qualidade pois os militantes que se prestam a este serviço é gente que está ao nível intelectual dos jagunços da Amazónia.