quarta-feira, janeiro 21, 2009

O elogio da maioria absoluta


A meio ano das eleições legislativas estão claras as condições em que vão decorrer as eleições, o que os partidos propõem aos eleitores não são programas de governo alternativos, de um lado o PS vai propor um programa para governar com maioria absoluta, do outro os partidos da oposição vão pedir aos portugueses que não votem na maioria absoluta e apresentam razões para não votarem no partido ao lado.

O caso mais paradigmático desta estratégia eleitoral é o do PSD, precisamente o partido de que se esperaria um programa alternativo de governo. Desde que chegou à liderança do partido Manuela Ferreira Leite tem-se desdobrado em mudanças de estratégias, já optou pelo silêncio monástico, do silêncio passou ao banzé, já se armou em senhora séria e daí evoluiu para o argumento rasca como a recente acusação de que Sócrates é o “coveiro da Pátria”. Cada vez que sai uma sondagem Manuela Ferreira Leite ensaia uma nova mutação e de sondagem em sondagem leva o PSD para patamares eleitorais a que os seus militantes não estão habituados nem psicologicamente preparados para suportar.

Portas assumiu claramente no último congresso do CDS que o seu programa político é esperar que nenhum partido tenha a maioria absoluta dispondo-se a negociar com quem precisar dos seus deputados, se forem suficientes para transformar uma maioria relativa em maioria absoluta.

O próprio Manuel Alegre decidiu ganhar protagonismo político graças à maioria absoluta de José Sócrates, se o PS estivesse na oposição o seu discurso cairia no ridículo, os seus votos desalinhados com os do partido ou as suas moções de votos seria peças que cairiam no ridículo. Convencido de que Sócrates repetirá a maioria absoluta ameaça o seu próprio partido de retirar-lhe essa maioria constituindo o seu próprio partido ou forçando Sócrates a dar-lhe um mini grupo parlamentar que em cada votação coloque o PS e o governo na dependência da sua decisão. É por isso que a ameaça de criar um partido é só isso, uma ameaça, Manuel Alegre sabe que só é alguém enquanto estiver em condições de fazer chantagem sobre o seu próprio partido, ninguém lhe garante que o seu partido teria sucesso e muito menos que Sócrates viesse a fazer alianças com alguém que muda de posição diariamente.

Quanto ao PCP e ao BE esta estratégia não é nova, para estes partidos o pior que pode suceder é um governo do PS e uma maioria absoluta retira-lhes protagonismo parlamentar. Uma maioria relativa é a solução ideal para votarem favoravelmente uma moção de censura apresentada pelo PSD quando este partido estivesse em condições de ganhar eleições. Para o PCP e BE o discurso da maioria de esquerda é puro oportunismo, odeiam mais o PS do que qualquer partido de direita. Basta ver o comportamento do BE na CM de Lisboa e as alianças que o PCP fez com o PSD em muitas outras autarquias para o perceber.

Só que entretidos a procurar argumentos para a rejeição da maioria absoluta ou usando lutas sindicais corporativas para criarem um ambiente de rua favorável aos seus objectivos, com o PCP e BE a fazerem-no às claras e o PSD a usar as caixas de mail dos seus militantes (como sucedeu com os apelos à adesão à última greve dos professores), os partidos da oposição esquecem-se de ser alternativas. E sem alternativas os eleitores renovarão a maioria absoluta de José Sócrates por mais que isso signifique a reforma de Manuela Ferreira Leite ou a desilusão dos intriguistas do Palácio de Belém.