Em Portugal nem todas as empresas sabem o que é a crise, não sabem o que é ter prejuízos, não sofrem muito com a carga fiscal e estão ao abrigo de decisões incómodas dos políticos. São empresas que consideram Portugal o seu território de caça, para as quais o mercado não tem o incómodo da concorrência, a concorrência entre elas é substituído por um código de cortesia na partilha dos recursos e mercados nacionais. São empresas que apesar de o país não se desenvolver têm crescido exponencialmente nas últimas décadas.
Sem princípios e desprezando quaisquer objectivos de ordem nacional, revelam um total desprezo pela situação económica do país e pelas dificuldades que possam sentir os seus clientes. São os grandes gatunos de Portugal:
1.º Lugar: A Banca
Com crise ou sem crise a banca tem sempre lucros e estes só não cresceram por má gestão e ganância que levou a perdas no valor das participações. Aliás, a crise tem servido para os bancos aumentarem os spreads com o argumento do risco, ainda que no momento de concessão do crédito a redução do spread dependa mais da diversidade de produtos adquiridos pelo cliente do que do seu risco. Num ambiente de menor risco, pois a banca só concede crédito seguro, as taxas aumentaram com o argumento do risco, apesar de o dinheiro estar muito mais barato e de os seus clientes, enquanto contribuintes, contribuírem com o aval do Estado para que a banca consiga empréstimos mais baratos.
Os spreads na ordem 17 a 18% no crédito ao consumo não chegam para a ganância dos bancos e o argumento do risco é uma mentira, para os clientes que não conseguem cumprir com os pagamentos os bancos criaram empresas como a Capital + que emprestam com spreads na ordem dos 28% sem olhar a riscos.
2.º Lugar: As grandes superfícies
As mesmas grandes superfícies que oferecem preços baixos aos clientes são as grandes ganhadoras de uma crise que leva muito dos seus fornecedores à falência, as pequenas e médias empresas que fornecem as grandes superfícies estão sujeitas à sua chantagem, são obrigadas a vender ao preço que lhes exigem e a aceitar condições de pagamento absurdas.
As mesmas superfícies que se desdobram em promoções para agradar aos clientes levam as empresas onde trabalham esses mesmos clientes à falência ou a situações que as impedem de remunerar condignamente os seus trabalhadores.
3.º Lugar: As empresas de Telecomunicações
Graças à Internet e ao Audiovisual estas empresas superaram a morte anunciada das comunicações telefónicas assentes na rede de cobre. O crescimento exponencial do acesso à Internet e a moda das redes de cabo e da comunicação móvel permitiu-lhes atingir lucros nunca imaginados pelo sector.
Beneficiando da passividade do organismo regulador estas empresas podem vender com qualidade muito inferior ao que contratam com os clientes. Ninguém neste país acede à Internet com as velocidades prometidas.
4.º Lugar: O Estado
Os políticos descobriram uma fórmula mágica de ganharem eleições, cobram mais impostos a uns para distribuir por muitos outros, como os ricos não declaram rendimentos, é a classe média que suporta a despesa pública. Ainda por cima a mesma classe média que paga os impostos é obrigada a colocar os filhos em escolas públicas ou a recorrer à medicina privada. Como se tudo isto não bastasse é a mesma classe média que é vítima das sucessivas reformas que supostamente modernizam um Estado que está sempre na mesma.
5.º Lugar: As empresas de Obras Públicas
A transferência de Jorge Coelho da política para uma dos maiores fornecedores de obras públicas ao Estado diz tudo sobe a razão do sucesso destas empresas. Dir-se-ia que se os políticos são os filhos das ditas, então as ditas são as empresas de obras públicas.