Os polícias ingleses que há anos não respondem a uma carta rogatória da PGR decidiram ser eles a tomar a iniciativa e sem adiantarem quaisquer provas mandam investigar por conta deles um batalhão de gente que sem mais são catalogados de suspeitos. Se não estivesse em causa José Sócrates isto seria motivo para muitos protestos pois os polícias de Sua Magestade acham que nós portugueses somos uns pobres diabos que investigamos os nossos cidadãos como se isto fosse uma república das bananas.
Do pouco que sei de direito e de investigação criminal não basta que um polícia suspeite de um cidadão para lhe ir ver as contas bancárias ou colocar-lhe os telefones sob escuta, para se ser suspeito é preciso um pouco mais, em Portugal, no Reino Unido e até em muitas repúblicas das bananas. Será que um juiz inglês autorizava a polícia britânica a investigar a rainha ou o Gordon Brown apenas com uma carta a dizer que essas personalidades são suspeitas de um qualquer crime.
É evidente que não, da mesma forma que é evidente que nenhum polícia inglês ousaria investigar o seu primeiro-ministro com base numa mera suspeita lançada por um gestor interessado em a tirar a água do capote. Só o fazem, depois de terem mandado para o lixo a carta rogatória remetida pelo Ministério Público porque nos consideram uns pelintras, gente que desconhece a defesa dos direitos dos seus cidadãos e que está disposta a entregar um primeiro-ministro a um qualquer cabo da polícia britânica. Hoje era o primeiro-ministro, amanhã o Presidente da República e um dia destes até quereriam levar a Padeira de Aljubarrota.
Se o tal senhor disse que andou a dar dinheiro por aí então que prove o que disse, demonstre que levantou o dinheiro, que o transferiu para qualquer lado, que viajou com ele para algum país. Depois de investigado o rasto desse dinheiro e apontando esse rasto para alguém, então sim, mandem as provas cujas confirmação só pode ser feita a Portugal e solicitem a investigação que por cá saberemos quem investigar.
Por incrível que parece os nossos jornalistas nem se deram ao cuidado de questionar a legitimidade e consistência do pedido inglês, foram muito mais corruptos do que o neurónio criativo e optaram por ganhar mais uns cobres publicando a carta rogatória, usando-a como prova e sem questionarem a sua consistência, as provas em que se fundamentava ou a sua própria legitimidade.
O tal dinheiro até pode ter vindo para cá (nos tempos que correm até deviam mandar mais algum) mas isso não implica que se aceite que seja um qualquer sargento de sua Majestade a sujar o nome de um português, seja ele qual for, sem apresentarem provas. Mais interessados na peixeirada os nossos jornalistas trataram o país como uma colónia britânica, ou pior, duvido que numa colónia de Sua Majestade a polícia britânica mande investigar cidadãos com base em palpites.
E se um qualquer português disser que deu umas coroas a Gordon Brown? Talvez não seja má ideia mandar cartas anónimas ao Ministério Público dizendo que alguém deu dinheiro a Gordon Brown ou mesmo à Rainha de Inglaterra, pode ser que o Ministério Público mande uma carta aos ingleses dando conta que o primeiro-ministro e Sua Majestade são suspeitos de corrupção e solicitando que os mesmos sejam investigados.
Não houve um único jornalista português que se tenha lembrado de questionar a carta rogatória? É pena, foi o Ministério Público a dizer o evidente:
«Ninguém está acima da lei, mas nenhum cidadão português pode ser considerado arguido, nem sequer suspeito, unicamente porque a polícia de outro país o coloca sob investigação com base em hipóteses levantadas e não confirmadas e que servem somente para justificar um pedido de colaboração.» [Comunicado PGR]
Perderam a oportunidade de mostrarem que são bons jornalistas, começando pelo jornalista da TVI que parecia estar à beira de um orgamo quando ontem abriu o telejornal com a grande notícia. Grandes lambe-botas!