Muitos portugueses que estão no desemprego dificilmente conseguirão voltar a ter emprego ou, se o conseguirem, a ter um emprego estável e remunerado como aquele que perderam nos últimos anos. Os próximos anos serão difíceis para quem perdeu o emprego, não só terão dificuldades de encontrar ofertas de emprego como quando a economia recuperar o nível de qualificação exigido pelos novos investimentos será mais elevado.
Todavia, muitos trabalhadores que por falta de qualificações não encontram emprego seriam capazes de lanças pequenas iniciativas empresariais, como o tem demonstrado o sucesso do microcrédito. São pequenas empresas que criam emprego estável, que estabiliza o tecido social de regiões fortemente atingidas pela desertificação social ou penalizadas por sucessivas crises económicas.
Se em condições económicas normais estas iniciativas deveriam merecer mais apoio por parte dos governos, numa crise gerada pelas dificuldades de acesso ao crédito a criação de pequenas iniciativas empresariais deveriam ser uma prioridade governamental.
Em Portugal as pequenas iniciativas empresariais são fortemente penalizadas pela corrupção na infinidade de instituições envolvidas no licenciamento de projectos, pelas normas e burocracias feitas à medida dos grandes projectos e pelas autoridades que preferem dar milhões a projectos que proporcionam vistosas cerimónias de inauguração.
Lançar uma pequena empresa em Portugal, cumprindo todas as regras é um inferno, quando as licenças camarárias são emitidas já caducaram as dos organismos governamentais e quando todas as licenças foram concedidas já o pequeno investimento se multiplicou ao ponto de se tornar insuportável. Isto na hipótese de o pequeno investidor ter recorrido a poupanças pois se investiu com recurso ao crédito bancário quando começar a produzir já os juros duplicou a dívida.
Para promover estas iniciativas é necessário apoiar, simplificar procedimentos e desburocratizar os serviços do Estado, para além de desenvolver uma cultura de serviço do cidadão ainda inexistente. É necessário igualmente proporcionar o acesso ao crédito com juros razoáveis e sem o oportunismo das chorudas comissões de análises do processo e outros truques dos bancos para ficarem com parte do crédito que concedem ainda antes de o disponibilizarem.
Se o Estado dá avales de milhares de milhões de euros aos banqueiros porque não adopta medidas equivalentes para pequenas iniciativas de emprego? Se joga dinheiro à rua com falsa formação profissional porque não promove formação de apoio e estímulo a estas iniciativas?
Este desprezo do Estado pelas pequenas iniciativas empresariais é um erro, perde-se a oportunidade de criar muitos milhares de empregos com um investimento mínimo e, ao mesmo tempo, o Estado vai jogando dinheiro à rua com formação profissional para inglês ver, subsídios de desemprego, apoios sociais dos mais diversos tipos e investimentos públicos para empregar serventes de pedreiro.
O desenvolvimento não está apenas nas mães dos grandes empresários ou dos banqueiros, esse modelo de desenvolvimento marginaliza muitos portugueses que têm tanto direito aos apoios do Estado como os banqueiros que investiram as poupanças dos seus clientes em operações desastrosas, ou empresários que estão não estão em condições de enfrentar a crise porque quando tiveram lucros se esqueceram de apostar na modernização das suas empresas, optando por aplicações financeiras ou pelo consumo privado.