sexta-feira, fevereiro 27, 2015

2011-2015

Com os actuais níveis da dívida, com um défice acima dos 3% do PIB, com os elevados níveis de desemprego, com um crescimento anémico e com uma carga fiscal brutal, se neste momento ocorresse uma situação de instabilidade nos mercados financeiros internacionais e a posição do BCE em relação à intervenção nos mercados em defesa do euro fosse a que existia em 2011 Portugal ficaria na bancarrota numa questão de semanas.
  
 Podemos gabar-nos de conseguirmos financiamento no mercado mas a verdade é que a notação da nossa dívida é neste momento pior do que quando se começou a equacionar o risco de pedir ajuda. Com uma notação de lixo, sem nada para vender, sem investimento desde há quatro anos Portugal está hoje mais vulnerável do que nunca. Mas a verdade é que Portugal conta hoje com um apoio que não contava no passado e uma boa parte da nossa dívida não está no mercado.
  
E o que mudou desde então? O Estado está de braços caídos, um jovem médico do SNS ganha pouco mais do que uma empregada doméstica, o país está sendo abandonado pelos seus quadros mais promissores, empresas como a EDP foram “democratizadas” sendo vendidas ao Partido Comunista da China, em três anos não ocorreu nenhum investimento digno de nota.
  
O turismo cresceu mas seguindo uma tendência anterior à crise, as exportações aumentaram mas sem que isso tivesse resultado de qualquer ajustamento, alguns sectores seguiram uma tendência anterior á crise, noutros surgem agora os resultados dos investimentos realizados no passado (olival ou refinarias), noutros as empresas procuram no estrangeiro os mercados que deixaram de ter em Portugal. Só uma percentagem marginal das exportações se explica por um suposto aumento da competitividade. Empresas sem mercados em Portugal, a desvalorização do euro, os investimentos na refinaria de Sines ou no olival, são os principais impulsionadores de exportações. Só na agricultura e na refinação se pode falar de aumento da capacidade de produção, em nenhum sector se pode falar de um investimento significativo nestes quatro anos.

Portugal não está muito diferente? É evidente que está, há mais desigualdades sociais, as empresas estão descapitalizadas e com vários anos de desactualização dos equipamentos, os melhores quadros estão abandonando o país, deixou de ter capacidade de resposta para assegurar que o SNS tenha médicos e enfermeiros que substituam os que se reformam, os que optam pelo sector privado ou os que abandonam o país, no Estado cresce a desmotivação e os únicos investidores estrangeiros limitam-se aos chineses que procuram vistos gold e que nuns dias são gente duvidosa e nos outros são investidores exemplares.
  
É uma injustiça atribuir aos emigrantes chineses as responsabilidades por aquilo que em Portugal está diferente, é um exagero dizer que eles acreditaram no país que agora está numa estado miserável, como ainda esta semana a Comissão Europeu confirmou. António Costa foi muito injusto para com o chineses, o facto de terem aberto umas centenas de frutarias ou de terem comprado uns quantos apartamentos de luxo a preços especulativos não explica a desgraça em que estamos. 

Acho que António confundiu a troika com uma tríade e só isso permite explicar que atribua aos pobres dos chineses, como os meus vizinhos do primeiro andar, a responsabilidade por muito do que mudou em Portugal.