Mas imagine-se que a situação fiscal de Passos Coelho aparecia escarrapachada no Correio da Manhã ou que depois de grandes noites mal passadas a investigar as compras de Cavaco Silva a conhecida jornalista de investigação publicasse no Sol que graça ao e-fatura tinha apurado que Cavaco Silva a prenda de Natal da Dona Maria para Cavaco Silva tinha sido um pijama de flanela às riscas? Bastaria do director-geral do fisco anunciar que iria ser aberta uma investigação e depois viesse com um comunicado assegurar que até ver não se sabia se as riscas do pijama eram verticais ou horizontais, pelo que não faria sentido fala em violação do sigilo fiscal.
Se isso acontecesse cairia o Carmo e a Trindade, Cavaco chamaria Passos Coelho e a Procuradora-Geral a Belém exigindo a demissão dos responsáveis do fisco e uma investigação, à saída Passos garantiria que já tinha telefonado à ministra das Finanças dando instruções para demitir os gestores do fisco enquanto a Procuradora-Geral anunciava a constituição de uma equipa com os melhores procuradores para identificar os responsáveis. Até o SIS faria saber que já estava a investigar o assunto pois estava em causa um problema de segurança nacional, ver a cor das gravatas de Cavaco é uma coisa, mas conhecer a cor das riscas do pijama é algo que nem o Fernando Lima contaria a um jornalista do Público.
Imagine-se agora que em ter investigado a compra do pijama através do e-fatura a perspicaz jornalista de investigação do Sol tivesse entrado nos meandros dos movimentos bancários, tendo acedido aos movimentos da conta da primeira dama, sabendo das despesas que a senhora faz com os parcos tostões que sobram das pensões de miséria, através dos movimentos do cartão multibanco. Era o ai Jesus, quem sem o sigilo bancário os bancos iriam ruir, que os depositantes fugiriam para o estrangeiro, que os investidores não confiariam no país.
Lá ia o pessoal da associação dos bancos a Belém, o PSD exigiria a Vítor Constâncio que desse explicações pois o responsável era ele, Cavaco interrompia a ida para a Praia dos Tomates para fazer uma comunicação ao país pois num país onde se sabe o que o presidente compra com o MB está em causa a democracia e a Constituição que ele jurou defender.
Mas se a notícia do pijama tiver saído na primeira página do Correio da Manhã e tivesse como origem uma fonte próxima do Ministério Público já nada sucederia, a Procuradora-Geral anunciaria um inquérito mas uns tempos depois viria dizer que se o problema da flanela não chegar a julgamento n ada garante que as riscas não foram imaginação de algum jornalista. Sendo Cavaco um político não está acima dos princípios do direito e muito menos da justiça, o próprio Cavaco viria a pública assegurar que confia na justiça. A procuradora dos olhos roxos viria dizer que no fim só se escapariam os que usassem pijamas com riscas verticais, o sindicato dos polícias de toga viria exigir que se confie na justiça e a associação sindical dos juízes viria exigir um aumento salarial que garanta a dignidade de quem tem de julgar se as riscas dos pijamas de flanela devem ser horizontais ou verticais.