A necessidade de acusar qualquer forma de austeridade ou de rigor de todos os males do mundo, bem como a estratégia manhosa e oportunista da esquerda conservadora de iludir os cidadãos passando a ideia de que do PS ao CDS é tudo igual apenas tem servido a estratégia da direita. Não é nada de novo, anos de má oposição e a utilização de chavões por parte da esquerda conservadora apenas serviram para ajudar Passos Coelho, Paulo portas e Cavaco Silva.
Aquilo que se passou em Portugal nos últimos anos foi algo bem mais grave do que muita austeridade ou a adopção de uma política liberal. O governo não se limitou a cumprir o memorando, Passos Coelho aproveitou-se de uma troika liderada inicialmente por um etíope e depois por um indiano para implementar em Portugal um modelo social incompatível com os actuais valores civilizacionais e com os princípios constitucionais.
Passos Coelho foi muito claro ao afirmar que queria ir além da troika e ao contrário do q muitas vezes foi dito pela esquerda não se estava a referir a mais ou a menos austeridade. Ir além da troika significava romper com um modelo social e económico, mesmo que isso violasse a constituição. Um presidente dócil e domesticado pelo seu detestado ex-líder da JSD e a chantagem da Troika criou as condições necessárias para desrespeitar a Constituição.
Passos Coelho escondia a sua política atrás do memorando e isso servia os objectivos da esquerda conservadora, dessa forma podia criticar acusar o PS pela responsabilidade moral de todas as políticas da direita. Mais do que a verdade e o bem do povo o importante é os votos, um cinismo político que noutras paragens teve condições dramáticas, que o digam os polacos do tempo da II Guerra Mundial.
Contado com uma esquerda conservadora interessada numa cassete oportunista e com um Seguro que dois anos depois da direita governar ainda estava mais empenhado em culpabilizar Sócrates do que em fazer oposição, o governo implementou um modelo social e económico imaginado por Vítor Gaspar e apoiado por Passos. Foi o tempo da experimentação, um tempo em que Portugal serviu de banco de simulação de um livro de dois professores de Harvard de quem já ninguém fala.
Mas, não foi apenas este golpe de Passos que passou em branco perante uma oposição imbecil, foi também a incompetência generalizada do governo. Desde a ministra da Justiça ao da Educação o governo foi uma verdadeira orgia de incompetência. Mesmo que os pressupostos da sua política e se Portugal não estivesse sujeito ao memorando este governo ter sido um desastre, algo bem pior e mais incompetente do que o governo trapalhão de Pedro Santana Lopes.