Paulo Rangel disputou a liderança do PSD com Passos Coelho e não parece ter aceitado bem a derrota devidamente remunerada com um tacho no parlamento europeu, volta e meia o pequeno eurodeputado acha que deve dar uma mãozinha ideológica a um Passos Coelho em cuja inteligência não parece confiar. Foi o que já tinha sucedido quando Rangel animado com a fuga de quadros do país sugeriu que fosse criada uma agência destinada a ajudar os jovens a fugirem do país. Agora achou que Passos Coelho não sabia como envolver Sócrates na campanha eleitoral Rui Rangel resolveu dar-lhe uma preciosa dica, que use Sócrates como troféu de caça do PSD e do CDS.
O argumento não tem nada de novo, há muito que a desastrada e por vezes destrambelhada ministra da Justiça tinha decretado o fim da impunidade em Portugal. A ministra assumiu que até este governo chegar os crimes não eram investigados e por várias vezes referiu-se a processos judiciais chamando a si os louros pelo fim da impunidade. Ou porque os tempos eram outros ou por muita gente não leva esta senhora a sério foram raras as vozes vindas da magistratura a questionar a ministra. Afinal de contas os estatutos e as benesses ainda estavam por distribuir.
O que Paula Teixeira da Cruz disse foi quase o mesmo que disse Rangel, por exemplo, a propósito de uma investigação do MP às PPP, de que nunca mais se ouviu falar mas que na ocasião foi notícia devido às buscas realizadas nas residências de ex-governantes, a destrambelhada da senhora ministra disse que “ninguém está acima da lei, sejam 'ex' ou atuais”. Mais clara não podia ter sido.
Talvez motivado pelo nervosismo ou animado pelo ambiente informal criado pelos pirralhos da JSD Rangel foi bem mais longe e atribuiu ao CDS e ao PSD o mérito e responsabilidade pela perseguição a Sócrates. Isto é para o jurista e eurodeputado Sócrates só está preso porque Passos Coelho é primeiro-ministro. Em bom português o que Rangel disse é que cabe a Passos Coelho decidir sobre quem deve ser perseguido judicialmente e quem o não deve ser.
A partir de agora devemos interpretar a acção da justiça à luz dos desejos do PSD e do CDS e isso é válido para todos os processos judiciais iniciados, conduzidos ou que ficaram por iniciar durante o mandato deste governo. Se alguma dúvida subsiste atente-se ao silêncio da Procuradora-Geral da República, uma responsável que já festejou sentenças envolvendo políticos e que agora parece preferir um silêncio comprometedor.