É uma pena que o terceiro resgate grego não decorra em simultâneo com o resgate a Portugal, de um lado teríamos novos ideólogos da direita, diria que quase da extrema-direita, e do outro uma esquerda radical que se vai tornando reformista e acabará por ocupar o espaço da social-democracia e muito provavelmente por adoptar os seus próprios valores. Seria uma experiência interessante comparar as políticas adoptadas para além da Troika em Portugal e na Grécia, isso ajudaria a perceber que nem tudo o que se passou foi da responsabilidade dos credores, como Passos Coelho tenta fazer crer.
Lamentavelmente sabemos menos do que se passa dentro dos governos do século XXI do que o que ocorria dentro da corte de D. João II, estamos mais documentados sobre a conquista de Ceuta que agora se evoca do que sobre as sucessivas renegociações do memorando. O governo e a Troika nunca deram a cara pelas sucessivas medidas não previstas no memorando inicial, não sabemos se eram ideias extremistas do governo que a troika aceitou dar cobertura, ou se foram imposições da troika. Esta confusão é legítima pois na famosa reforma do Estado ficou óbvio que o FMI assinou por baixo um trabalho do governo.
É muito pouco provável que terminar o terceiro resgate da Grécia Passos Coelho ainda conste entre os vivos políticos, torna-se inútil a comparação entre um governo que optou «por uma combinação entre oportunismo e subserviência e um governo que desde o princípio optou pela defesa dos interesses do seu país e que não aceitou a lógica cavaquista da subserviência que por cá assume a forma da síndrome do bom aluno.
É possível ter uma abordagem social-democrata (num sentido histórico e não a definição oportunista de Sá Carneiro) da governação mesmo num quadro muito apertado como o que resultou da assinatura do memorando. Além disso, muito do que ficou por fazer nada tinha de mais ou menos austeridade, é o caso da reforma d justiça que foi tão atabalhoada que deixou tudo pior do que estava e a famosa reforma do Estado que nunca foi feita.
Com o resgate português chegado fim e o terceiro resgate grego a iniciar-se seria interessante uma comparação entre os dois programas e uma avaliação rigorosa da forma como se governou em Portugal para se perceber quais os erros que podem ser atribuídos à Troika e o que foi resultado da incompetência e extremismo ideológico de Passos Coelho.