sexta-feira, março 14, 2008

Se não comes a papa vais para professor!


Os tempos estão difíceis para quem tem de educar filhos, começa a ser difícil convencê-los, persuadi-los ou mesmo assustá-los, técnicas como as do lobo mau ou da bruxa já não servem, prometer-lhes carreiras bem sucedidas é coisa do passado e nem sequer podemos recorrer à técnica do avião para os convencer a comer a sopa.

Com a extinção da espécie o lobo mau já não mete medo a ninguém, depois dos livros e filmes do Harry Potter de pouco serve dizer-lhes que vem aia a bruxa, ou não acreditam ou são capazes de achar divertido, convencê-los a comer a sopa começa a ser problemático.

E se a sopa é um tormento, o que dizer de os levar a estudar? Se lhes dizemos que se não estudarem para ser excelentes alunos não serão bem sucedidos lembram-nos o caso de José Sócrates que começou a desenhar monos na Guarda e acabou a mandar construir aeroportos. Se os ameaçamos com o desemprego dizem-nos que ganham mais um repositor do Continente do que um jovem arquitecto no atelier do Manuel Salgado ou que a empregada doméstica tem mais sucesso profissional do que os jovens advogados que não ganham para os fatos que compram na Zara.

Nem sequer o chumbo os assusta, respondem-nos que daí a uns tempos voltam a estudar nas Novas Oportunidades, não só levam o diploma como ainda podem ter um computador quase à borla e, se o primeiro-ministro voltar às cerimónias do género Taparware para distribuir PCs, ainda poderão levar uma medalha.

Nos tempos que correm a vida dos pais não é nada fácil, uma palmada é agressão, dizer que não vão sair à noite é coacção psicológica, os fantasmas foram desmascarados, o sucesso depende mais da conta bancária dos pais do que do esforço dos filhos.

Acho que só me resta dizer-lhes que se não comem a papa vão para professores! Ganham mal, são desconsiderados socialmente, têm emprego precário, sujeitam-se a tudo o que os alunos dizem e fazem e no fim são obrigados a manter o sorriso, tratar os mariolas como crianças vulneráveis, trabalhar em escolas que parecem aquartelamentos no Iraque e aturar sucessivas reformas pedagógicas e da carreira.