sábado, março 22, 2008

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Queda de Água, Parque das Nações, Lisboa

IMAGENS DO DIA

[Eraldo Peres - AP]

«March 20: Hooded penitents take part in the "Torches Procession of Brotherhood" up the stairwells of the church of San Francisco, during Holy Week ceremonies in Goias, Brazil. The penitents, known as Farricocos, represent the soldiers of the Praetorian guard who arrested Jesus Christ. » [Washington Post]

[Adek Berry - AFP]

«March 20: Muslim men pray for the Prophet Mohammed in Jakarta. Muslims around the world celebrate this day as the birthday of the Prophet Mohammed. » [Washington Post]

JUMENTO DO DIA

Oportunista

Estabelecer um relação entre as cenas de violência recentemente colocadas no Youtube com a política a actual ministra ou de qualquer outro responsável pela pasta da Educação é puro oportunismo, tanto oportunismo que qualquer cidadão mesmo incauto percebe que o porta-voz do CDS é um político sem escrúpulos, mais preocupados em aproveitar os problemas para tentar salvar Paulo Portas do que em resolver os problemas.

O problema da violência nas escolas têm múltiplas e antigas causas começar pela forma como foi introduzida a democracia nas escolas, passando por experiências pedagógicas idiotas e acabando na demissão e cobardia colectiva. Há muito que desapareceu a autoridade nas escolas e que os professores preferem evitar processos disciplinares a exercer autoridade.

Um sistema idiota que levou a que qualquer gesto de autoridade pode ser entendido como coacção ou violência e promove o aluno indisciplinado "criança vulnerável" só podia dar nisto. Antes de terem medo dos alunos os professores aprenderam a ter medo das consequências de qualquer gesto de autoridade, o resultado está à vista.

A SAÍDA DE ABEL MATEUS DA AdC

A saída de Abel Mateus da AdC não me deixou admirado ainda que essa saída possa não ter nada que ver com os motivos pelos quais não apreciei o seu trabalho. A ausência de concorrência em mercados importantes para os consumidores como o da banca ou o das telecomunicações é mais do que uma evidência, os portugueses estão sujeitos a preços oportunistas praticados pela generalidade das grandes empresas sem que se tenha assistido a uma acção da AdC.

A ausência de concorrência nos mercados da nossa economia é um forte entrave ao desenvolvimento económico e social, esperemos que o próximo responsável faça mais do que Abel Mateus fez durante o seu mandato.

BEIJING 2008 [Link]

NÃO CHAMEM PALHAÇO AO ALBERTO JOÃO, NÃO

«Claro que se uma pessoa vai ao dicionário ver o que quer dizer palhaço e lê "personagem cómica e burlesca de circo que diverte o público com facécias, anedotas, etc; arlequim; saltimbanco; bobo", só pode perguntar: "E o Alberto João nunca me fez rir? Quando chama nomes a torto e a direito não está a tentar ser engraçado?" Confesso já, e sem tortura: acho o Alberto João altamente cómico. Um bocado trágico, também, mas sobretudo cómico. Se é crime, olha, paciência, vou de cana. Mas logo eu, que até já entrevistei, com foto e tudo, uma honrada família lisboeta de apelido Palhaço (há muitas no País, presume-se que na Madeira também) . E que já li a sentença de 2007 do Tribunal da Relação do Porto em que se aprecia o substantivo do ponto de vista penal, para concluir: "E mesmo concordando com a pergunta/afirmação do assistente, quando refere que 'com toda a certeza não há ninguém que não se considere injuriado por lhe apelidarem palhaço, a não ser provavelmente os palhaços' nem por isso a expressão adquire dignidade penal: é subjectivamente relevante mas não é suficiente para despoletar a intervenção do direito, porque não é socialmente relevante." Posso então julgar com segurança não ser certo que se não possa chamar palhaço a Alberto João Jardim. Difícil difícil é decidir se será rico ou pobre - e não serão os dois mil euros de Daniel Oliveira a fazer a diferença.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A CÔR (SUJA) DO DINHEIRO

«Parece que, afinal, as notícias de que a Santa Sé teria declarado como novo pecado mortal ser-se rico demais eram ligeiramente exageradas. A Santa Sé não disse tanto - aliás, não se atreveu a relembrar o que está escrito no Novo Testamento há dois mil anos sobre o camelo e o buraco da agulha. Bem o podia ter feito, que vinha mesmo a calhar, agora que o mundo vive na iminência de uma recessão económica global e grave, causada pelo excesso de ganância dos muito ricos.

Alan Greenspan, ex-presidente da Reserva Federal americana, lembrou-se agora de avisar que vem aí a maior recessão económica dos últimos sessenta anos. Pena que não se tenha lembrado de avisar antes, quando, do alto do seu imenso poder de controlo e influência sobre o governo federal e o sistema financeiro americano, assistiu tranquilamente ao crescimento da ‘bolha imobiliária’ nos Estados Unidos, à ganância de banqueiros de vão de escada (escudados em bancos mais poderosos e supostamente mais responsáveis), incentivando os consumidores a recorrerem desenfreadamente ao crédito e assim manterem os preços especulativos do imobiliário. E quando assistiu também, sem uma palavra, aos esforços perseverantes do sr. Bush para derreter os excedentes orçamentais herdados de Clinton e voltar a endividar os Estados Unidos até ao tutano, para melhor satisfazer a sua clientela de amigos e correligionários com interesses no petróleo, na indústria de armamento ou na ‘reconstrução civil’ do Iraque.

E é pena, porque há centenas ou milhares de milhões de pessoas no mundo inteiro que agora vão pagar a factura dos lucros episódicos da banca e dos amigos de Bush, para quem a destruição e posterior ‘reconstrução’ do Iraque foi um negócio de mão cheia. Com o dólar em queda livre, a Europa vai pagar o reequilíbrio da balança comercial e do défice americano: excelentes empresas portuguesas, a cuja capacidade de reconversão e de inovação deve Portugal muito da recuperação do défice, vão agora ver todo o seu esforço comprometido pela concorrência desleal dos produtos americanos, vendidos mais baratos apenas porque o dólar implodiu. Pior ainda (sem, ao menos, terem a protecção de um espaço comum e uma moeda comum forte) estão os países emergentes do Terceiro Mundo, como a Índia ou a China, cujo esforço titânico para arrancar da miséria biliões de pessoas vai agora esbarrar com as dificuldades de exportação e com o preço do barril de petróleo, que não têm, a escalar todos os dias, na proporção em que o dólar vai descendo e devido a essa descida. Milhares de pessoas em todo o mundo vão ser devolvidas à mais infame miséria de que se tinham conseguido erguer para pagar as aventuras da Halliburton, do sr. Dick Cheney, do sr. Donald Rumsfeldt e dos amigos do Texas desse completo cretino que é o Presidente dos Estados Unidos da América. Mas, mesmo nos Estados Unidos, e como seria de esperar, são os pobres que vão pagar a factura do desgoverno dos milionários: vinte ou trinta milhões de americanos estão condenados a virar «homeless» a curto prazo, se medidas como a que propôs a candidata e senadora Clinton (seis meses de moratória para a execução de qualquer hipoteca sobre casas) não forem adoptadas de emergência. Os Estados Unidos vão precisar de injectar biliões de dólares de dinheiros públicos para evitar a falência em série do sistema financeiro e, por arrasto, de todo o sistema empresarial. O que lhes poderá evitar a repetição de 29 é que agora a economia é global e eles esperam poder evitar a falência de um Estado já altamente endividado através das trocas comerciais: vendem ao mundo inteiro mais barato e não compram nada de volta porque, com o euro a 1,60 dólares, ninguém consegue vender nada aos americanos. Ou seja: provocaram a crise e agora somos nós que temos de a pagar. Eis a demonstração prática da frase do Hamlet: “a loucura dos poderosos não pode passar sem vigilância”. Espero que alguém se lembre de escrever isto no caixão do sr. Greenspan.

Obviamente, devia haver lições a extrair deste cenário de catástrofe e das razões para ele. Entregue a si próprio, após a queda do muro de Berlim, o capitalismo internacional parece que fez questão de confirmar que tudo o que de pior os marxistas tinham dito dele ao longo de um século só pecava por defeito. Só pode ser uma comédia histórica ver a Igreja Católica (decerto impressionada pelo exemplo indecente dos irmãos da Opus Dei no nosso tão católico BCP e outros) insinuar que ser escandalosamente rico é capaz de ser pecado mortal, e ver o Partido Comunista da China declarar que “ser rico é glorioso e revolucionário”. O mundo está de pernas para o ar. Pois está, mas há lições a extrair.

Marx dizia que o dinheiro faz dinheiro e esse era o pecado original do capitalismo. Em contraponto, os capitalistas juravam que o dinheiro produz riqueza e, entre os dois, os sociais-democratas propuseram que o dinheiro criasse então riqueza e que o Estado tributasse essa riqueza - “de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades”. Mas tudo isso foi antes da globalização.

Agora o que vemos é que, dos cem homens tidos como os mais ricos da Alemanha, quarenta tinham uma conta secreta numa «off-shore» do Liechtenstein, para fugirem ao fisco (também lá estão alguns portugueses, mas desconhece-se se o Governo se vai atrever a pedir os seus nomes à chanceler Merkel e agir em conformidade). Razão tinha o nº 1 da lista da ‘Forbes’, Warren Buffet, quando disse que doava um bilião de dólares para assistência social se houvesse um só presidente de banco americano que lhe conseguisse provar que pagava uma taxa mais alta de imposto que a sua secretária. (Já agora é interessante constatar que todos os bilionários do mundo - Buffet, Bill Gates, Carlos Slim, etc. - são conhecidos também pela sua veia filantrópica. E quantos milionários nossos conhecemos que financiem uma ala de hospital, um programa de saúde, um laboratório ou Faculdade na Universidade, um prémio literário ou artístico, um bairro social, um parque natural? Pior ainda é quando olhamos para a lista da ‘Forbes’ e constatamos que os grandes milionários portugueses que lá figuram devem a sua fortuna a relações íntimas com o poder, aqui ou em Angola, ou a simples especulação bolsista, sem que dêem ao país qualquer contrapartida de valor).

Tarde e a más horas outra vez, Alan Greenspan vem dizer que espera que a crise ensine que o sistema financeiro não pode continuar em auto-regulação. Infelizmente, não é certo que, mesmo agora, os governos aprendam a lição. Eles acham que o sistema financeiro é tão importante que não se lhe pode tocar nem com uma flor. E um dia, como agora sucedeu em Inglaterra e nos Estados Unidos, acordam em sobressalto e correm a meter dinheiro dos contribuintes para evitar a falência dos bancos - enquanto os seus administradores se retiraram com reformas escandalosas em paga do bonito serviço que deixaram. É verdade que a economia não é uma ciência certa. Mas a ética nos negócios e o decoro são-no: têm regras que todos conhecemos.

P.S.: Sempre detestei usar este meu espaço para contas pessoais e, por isso, vou restringir-me ao mínimo: a idade ensinou-me que não vale a pena gastar tempo e energias a discutir com pessoas de má-fé. Isto aplica-se ao director do ‘Público’.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

ESTE PARTIDO NÃO É PARA VELHOS

«São tempos dominados pelo pragmatismo e não por ideais, pela defesa de objectivos e a medição de resultados e não por valores.

Veja-se o Benfica - o clube dos ‘barba-rija’ - que se equipa de cor-de-rosa - a cor das ‘meninas’ - para vender mais camisolas!

São tempos em que se vendem ideias e se compram votos.

São tempos em que o altruísmo e o sentimento são esmagados pelo marketing.
Será que vale a pena?»
[Expresso assinantes]

Parecer:

Por Manuela Ferreira Leite.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

COMARCAS E AUTARQUIAS

«A mudança do mapa judiciário está aí em cima da mesa. Há que registar a coragem que teve o Governo em enfrentar o problema. Embora se possa dizer que é evidente que a reforma era indispensável, o facto é que (com a excepção de Aguiar Branco, mas não teve tempo para levar ao fim as suas ideias) ninguém ousara avançar com ela.

Mexer na organização de serviços essenciais do Estado que estão disseminados no território é sempre muito doloroso e controverso, como se confirma com o que se passa com a Educação e com a Saúde. Contra esta reforma vão revoltar-se as autarquias (e para o ano há eleições...), os advogados das pequenas comarcas, os funcionários e até os procuradores. Admito que os juízes a apoiem pelo menos em parte.

Mas a reforma era inevitável. O mapa judiciário, com alguns remendos, mantém-se como no tempo de D. Maria II. Desde então as populações deslocaram-se no território de forma tal que a geografia política portuguesa é hoje totalmente diferente. Os meios de transporte e as acessibilidades passaram por sucessivas e relevantes alterações, desde a carroça numa estrada em terra batida para o automóvel numa auto-estrada, para já não falar de comboios e aviões. E as tecnologias passaram por revoluções profundas e cumulativas, com a invenção de meios de comunicação que não existiam no tempo da nossa última Rainha, desde o telégrafo e o telefone fixo ao computador e ao telemóvel, para não falar da Internet.

O adiamento das necessárias reformas teve como efeito que, sendo Portugal depois da Alemanha o país da Europa com mais juízes per capita, o sistema se manteve muito ineficiente. Para perceber as razões, basta dar como exemplo o facto de haver actualmente juízes com muito mais de 3000 processos e outros com pouco mais de 30 assuntos para tratar.

E a ineficiência era também acentuada pela dificuldade que havia em desenvolver tribunais especializados. Não sendo realista continuar a aumentar o número de magistrados judiciais, e sendo obrigatório manter uma cobertura territorial pletórica, o resultado é que nunca são suficientes os juízes para a justiça especializada, o que tem como efeito que tais tribunais (como é o caso dos tribunais de comércio) estão permanentemente "afundados".

Poderia falar-se de outras medidas positivas desta reforma, como a criação de 39 juízes presidentes em cada uma das novas comarcas, a criação de serviços de apoio ao juiz, o aumento da especialização dos tribunais em todo o país. Mas não é sobre isso que quero convocar a atenção dos amáveis leitores.

Assumida está a necessidade desta reforma territorial da Justiça. Assim sendo, a questão que considero merecer reflexão é a da reestruturação da forma de viver em Portugal, em função da inevitabilidade da redução das redundâncias da função pública, da sua adaptação à realidade demográfica do país e às acessibilidades, novos meios de transporte e novas tecnologias.

As coisas são o que são. Goste-se ou não que assim seja, as populações deslocaram-se e há zonas do território que são economicamente sustentadas praticamente apenas por uma aposta no emprego autárquico. Seria interessante revelar a percentagem de emprego público em cada município, pois facilmente chegaríamos à conclusão de que uma pequena reforma do mapa autárquico permitiria poupanças muito mais relevantes do que as que estão a ser feitas na Saúde, na Educação e na Justiça.

E não faz nenhum sentido preservar situações endémicas de subemprego, apenas para criar a ilusão de que se mantém uma cobertura populacional do território que não tem realmente nenhuma correspondência com a realidade. Os argumentos que coligi para justificar a reforma do mapa judiciário servem perfeitamente, e por maioria de razão, para exigir a reforma do mapa autárquico.

ambém essa reforma será dolorosa, mas também ela é inevitável. Precisamos de densificar a qualidade da administração pública e concretizar a descentralização política. Operar descentralização sem reforma autárquica é irrealista ou insuportável financeiramente. E, na organização política do território, a deslocação de populações, as acessibilidades e meios de transporte e as novas tecnologias permitirão reduzir o número de autarquias em todo o país, mas sobretudo no interior.

Há um argumento evidente acima de todos: não haverá ninguém no seu são juízo que considere adequado que se reduza o número de urgências, de escolas primárias e de tribunais, por se entender que critérios financeiros devem ser ponderados, e não fazer o mesmo com câmaras municipais e juntas de freguesia.

E, neste caso, o problema nem é exclusivo do interior. Nas grandes cidades os fluxos populacionais também ocorreram e, por exemplo, em Lisboa há juntas de freguesias na Baixa e nas outras zonas da cidade antiga que deveriam ser fundidas para lhes dar a massa crítica essencial a um bom desempenho das relevantes funções que possuem.

Algo semelhante se passa com os subsídios financeiros de que beneficiam os partidos políticos, como já referi mais de uma vez, e que julgo continuarem a aumentar devido a serem indexados ao salário mínimo, apesar das reduções que todos acabam por ter de sofrer quando remunerados com dinheiros públicos.


O sistema político português precisa muito de credibilizar o seu pessoal. E, se houver a coragem de reduzir o pessoal político, os portugueses perceberão que os sacrifícios que lhes estão a ser pedidos serão também suportados pelos que dirigem os nossos destinos, como classe e como titulares de poderes estaduais e autárquicos. E todos ficaremos mais predispostos a aceitar o que nos calhar em sorte.

Fica feita a sugestão. Veremos se há coragem para essa nova reforma.» [Público assinantes]

Parecer:

Por José Miguel Júdice.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

EXTRAORDINÁRIAS OU EXTRA-ORDINÁRIAS?

«As receitas extraordinárias do Estado têm estado num nevoeiro desde 2002. Necessitamos de um pouco de Primavera para dissipar a neblina.

Ponto assente desde o início deste Governo tem sido não realizar receitas extraordinárias (de valor significativo) e, assim, obter vitórias orçamentais duvidosas. Mas, antes de mais, as receitas extraordinárias não devem existir porque são sempre um mau negócio para o Estado e, portanto, para todos nós. Esta tem sido a política. E bem.

Recentemente, foram "reclassificadas" como "receitas extraordinárias" apenas aquelas que tenham o objectivo (subjectivo) de melhorar as contas públicas. O fim último da acção humana é do domínio da metafísica ou da psicanálise, em qualquer caso fora da minha competência. Para fugir a discussões metafísicas ou psicanalíticas, chamemos então de extra-ordinárias (com hífen) às receitas (até há pouco) extraordinárias, seja qual for a sua motivação última.

1. O Estado (tal como as famílias) tem todos os meses pequenas receitas e despesas extra-ordinárias, mas que, normalmente, não são relevantes para o seu orçamento. Deixemos estas de fora, e consideremos apenas as de valores significativos do ponto de vista nacional, qualquer coisa que tenha expressão em percentagem do PIB, digamos, de 200 milhões de euros para cima.

Porque é que as receitas extra-ordinárias são sempre e necessariamente um mau negócio para o Estado e devem ser evitadas? A razão é simples: o Estado pode sempre financiar-se a taxas de juro mais baixas que os privados. É tão simples quanto isto e deveria ser cristalino para qualquer economista.

2. Mas para quem não tenha tal formação, vejamos um exemplo (meramente um exemplo) que se aplica a muitas situações actuais.

Suponhamos que o Governo tem uma barragem (mas também pode ser uma auto-estrada) que aluga por 30 anos e pela qual pode receber uma renda anual de 20 milhões. Imagine ainda que a renda anual pode ser actualizada pela inflação esperada de longo prazo, digamos dois por cento. Essas rendas anuais pagas não são receitas extra-ordinárias porque são recorrentes e fruto de investimento realizado (1). Suponhamos agora que, em alternativa, o Governo pede para que lhe sejam pagas já todas as rendas futuras. Qual o valor mínimo que o Governo deve pedir? E qual o valor máximo que a empresa privada está disposta a pagar?

O valor mínimo que o Estado deve exigir é o valor actual das rendas futuras, descontadas à taxa das obrigações do tesouro, que ronda os 4,5 por cento. No caso do exemplo, resulta que o valor mínimo exigível pelo Estado é de 441,4 milhões. Abaixo disto o Estado fica a perder, sendo preferível financeiramente o pagamento anual das rendas. Valores acima ficaria a ganhar com o pagamento a pronto.

Por outro lado, a empresa privada, para renegociar o contrato de arrendamento e pagar hoje todas as rendas futuras, terá de se financiar. E fá-lo-á a uma taxa necessariamente bastante superior ao Estado - digamos, 6,5 por cento. O que implica que o valor máximo que o privado poderia pagar é de 349,2 milhões.

Como vemos, não pode haver acordo: o mínimo que o Estado deve aceitar é 441 e o máximo que o privado pode pagar é 349. Ou melhor, quando há acordo é porque esse Estado aceita, na melhor das hipóteses, o valor máximo que a empresa pode pagar (perde mais de 90 milhões no exemplo dado). Por outras palavras, o Estado faz (necessariamente) um mau negócio com as receitas extra-ordinárias, por negociar com a corda na garganta ou por outras razões que a razão bem conhece.

3. Vejamos, sete conclusões e um desejo.

Primeira: o compromisso solenemente reafirmado de recusar receitas extra-ordinárias relevantes tem sido um compromisso de boa gestão da coisa pública.

Segunda: o Estado quando pede um pagamento a pronto daquilo que deveria (ou poderia) ser uma renda anual está sempre a perder; na melhor das hipóteses, está a financiar-se implicitamente às taxas de uma empresa privada. Na pior, dá uma boa negociata a privados.
Terceira: o exemplo numérico é meramente ilustrativo do mau negócio que necessariamente tem de ser uma renegociação das concessões das auto-estradas.

Quarta: houve há pouco a concessão da exploração do Alqueva, que implicou uma receita extra-ordinária de 0,1 por cento do PIB ao Estado. Cai dentro daquela categoria, embora se reconheça como pouco relevante. Mas, também por isso, deveria ser evitada.

Quinta: caem no (mau) exemplo a receita da CREL ou a venda da rede fixa à PT há uns cinco anos; do mesmo modo, também o são as recentes concessões de troços portajados de auto-estradas. E são receitas extra-ordinárias.

Sexta: o Estado, de acordo com a imprensa, renegociou com a EDP os prazos das concessões das barragens e daí terá recebido 800 milhões (ie, cerca de 0,5 por cento do PIB). São negócios que, a serem exactos, caem também na categoria de receitas extra-ordinárias. Foi um mau negócio e já é significativo.

Sétimo: inspirado por Padre António Vieira, também me apetece acabar dirigindo-me aos peixes: eu falo, mas vós não ofendeis a deus com palavras; eu lembro-me, mas não ofendeis a deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a deus com o entendimento... Tal como António Vieira, também entendo deus como sendo o governador do céu e da terra.

Desejo: que Deus nos ajude neste período da Páscoa!


(1) Poderia em alternativa vender a barragem e seria uma privatização, indo directamente à dívida e sem efeitos relevantes para o Orçamento.»
[Público assinantes]

Parecer:

Por Luís Cunha.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

DIVÓRCIOS VÃO SER MAIS RÁPIDOS

«O PS está a preparar um projecto de lei que diminui os prazos de divórcio, sobretudo em caso de separação litigiosa. Um dos pontos que será alterado prende-se com a separação de facto - actualmente a lei impõe três anos de afastamento da vida em comum como motivo para divórcio, período que vai ser diminuído. Para quanto é um dado que os socialistas se escusam, para já, a adiantar.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Preparem-se para a reacção da Igreja Católica, até porque o DN teve o cuidado de recorrer a esta notícia para fazer a primeira página na Sexta-Feira Santa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao cardeal se vai tomar posição sobre o divórcio nos casamentos civis, casamentos que a Igreja nem reconhece.»

MARCELO ACHA QUE PSD DEVE CLONAR PS

«Marcelo Rebelo de Sousa está de volta. Durante três dias, o antigo presidente do PSD deu aulas de formação política a militantes de base do partido, percorreu a sua história e ainda deu cognomes e falou do melhor e do pior de cada líder. Na madrugada de ontem, no Hotel Eduardo VII, em Lisboa, Marcelo sugeriu que o PSD caminhe para o centro-esquerda, seduza independentes e faça os seus Estados Gerais ou umas Novas Fronteiras.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Deve ser da idade, o professor está a ficar sem ideias novas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Marcelo se achar que Menezes também deve adoptar o cabelo curtinho para ficar mais parecido a José Sócrates.»

ESTÁDIO DE ALVALADE SERVE PARA CASAMENTO

«O Pedro é um adepto apaixonado do Sporting. A Cátia, a noiva, nem tanto. Mas o coração tem razões que a razão desconhece, e o Pedro e toda a sua família de sportinguistas lá a convenceram a casar no Estádio José Alvalade. E marcaram o casamento para amanhã nos relvados do campo de futebol do Sporting, o que acontece pela primeira vez. Daí serem notícia.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Está-se mesmo a ver que o divórcio vai ser na sede da Liga.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se aos nubentes se os baptismos vão ser em Sete Rios.»

ESTADO TAMBÉM INVESTE EM «OFF-SHORES»

«De seguida surgem as seguradoras, com um valor muito próximo, e só depois a banca. Curiosamente, o Estado tem também 235 milhões de dólares investidos nestes destinos. Não foi possível obter uma explicação do Ministério das Finanças para esta situação, que preferiu não comentar. O mais provável, dizem alguns especialistas, é poderem ser aplicações realizados em fundos domiciliados nestas regiões por parte de entidades públicas.» [Expresso assinantes]

Parecer:

No melhor pano cai a nódoa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Solicitem-se explicações ao ministro das Finanças.»

VELHOTA MALUCA

«A PSP de Viana do Castelo "apanhou", anteontem, uma mulher de 72 anos a conduzir com uma taxa de alcoolemia de 2,64 gramas por litro de sangue, o que poderá ser o "recorde feminino" no concelho.

Segundo fonte da PSP, a mulher, comerciante, terá embatido com a sua viatura contra outra na Estrada Nacional 13, na zona da Areosa, em Viana do Castelo, num acidente que se registou pouco depois das 14 horas e não teve consequências graves.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Lá se vai o estereótipo do jovem responsável.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Apreenda-se a carta da senhora.»

CAVACO SILVA NÃO VAI A PEQUIM

«Cavaco Silva não irá à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, a 8 de Agosto, "por razões de agenda". A declinação do convite foi comunicada ao Comité Olímpico Internacional a 11 de Janeiro - há mais de dois meses -, confirmou fonte de Belém ao JN.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

A ausência de qualquer explicação para o problema de agenda é estranha. De qualquer das formas é bom que o Presidente da República não esteja presente nestes jogos, organizados por ditadores sem grandes escrúpulos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Cavaco Silva no que vai estar ocupado.»

DECLARAÇÃO RASCA

«Em conferência de Imprensa, disse ser "bom recordar" ao líder do PS a campanha para a liderança em 2004, e as "suspeições sobre a transparência desse acto eleitoral, o roubo de votos, os boatos, as insinuações, o medo e as alegadas pressões exercidas sobre militantes ou mesmo a polémica à volta do pagamento de quotas".

Gomes da Silva acrescentou que José Sócrates continua a ver a sua política contestada por destacados militantes, como Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, António José Seguro, Ana Benavente ou Ana Gomes. Sendo o único governante que se pode "gabar" de sido alvo de uma manifestação de protesto de uma classe profissional com mais de 100 mil pessoas. » [Jornal de Notícias]

Parecer:

Este santanista continua a ser muito rasca.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Menezes se acha que é com a tralha santanista que chega a primeiro-ministro.»

A ESCOLA NÃO SABE O QUE SE PASSA LÁ DENTRO?

«Contactada pelo PÚBLICO, a presidente do conselho executivo, Carla Duarte, disse não poder falar sobre o caso, já que está em curso um processo de averiguações, aberto ontem, no dia em que a escola foi avisada pela Direcção Regional de Educação do Norte da existência do vídeo. E adiantou que já ontem "tinham sido ouvidos vários miúdos". O PÚBLICO sabe que um deles é o presumível autor das filmagens. » [Público assinantes]

Parecer:

O que incomoda nesta notícia é o facto de ter sido necessário ver o vídeo no Youtube para que se tenha feito alguma coisa, isto é, ou a professora não relatou a situação ou o conselho executivo nada fez.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proceda-se a um processo de averiguações para se perceber porque motivo o conselho executivo da escola não actuou de imediato.»

OS ARQUIVOS DOS CANDIDATOS À CASA BRANCA FORAM VIOLADOS

«O porta-voz do Departamento Estado, Sean McCormack, disse nesta sexta-feira que funcionários do Departamento examinaram indevidamente os arquivos dos passaportes dos três candidatos à eleição americana, o republicano John McCain e os pré-candidatos democratas Barack Obama e Hillary Clinton, violando regras de sigilo do governo americano.» [BBC Brasil]

QUARESMA QUER IR PARA O REAL MADRID

«Si el delantero del Oporto, Ricardo Quaresma, decide salir al fin de la presente temporada su club preferido es el Real Madrid y ya hubo contactos en ese sentido, según informa hoy el suplemento deportivo de "Diario de Noticias.

Según la fuente, el director deportivo del Real Madrid, Predrag Mijatovic, ya contactó con la empresa que representa a Quaresma con el objetivo de "obtener un derecho de preferencia" para la temporada 2008-2009.

"Cuando la propuesta fue transmitida a Quaresma, el jugador dio su consentimiento, porque su preferencia es el Real", comenta el diario. » [20 Minutos]

FILIPINO JÁ FOI CRUCIFICADO 22 VEZES

«Al menos 30 personas han pedido ser crucificadas hoy en varias poblaciones del norte de Filipinas, mientras docenas de flagelantes recorren las calles con las cabezas cubiertas y las ropas ensangrentadas con motivo de las celebraciones del Viernes Santo.

En San Pedro Cutud, donde las crucifixiones se han convertido en un acontecimiento anual que atrae a miles de turistas, 20 personas estaban dispuestas a recorrer los dos kilómetros con la cruz a cuestas para luego ser clavados al madero.» [20 Minutos]

LÍDER DA OPOSIÇÃO DO REINO UNIDO NÃO RESPEITA O CÓDIGO DA ESTRADA

«J"e sais qu'il est important de respecter le code de la route, mais j'ai de toute évidence commis des erreurs en cette occasion, et je m'en excuse." Photographié et filmé en train de commettre plusieurs infractions au code de la route, alors qu'il se rendait au Parlement à vélo, le leader de l'opposition conservatrice britannique David Cameron a décidé, vendredi 21 mars, d'adresser ses plus vives excuses à ses concitoyens.» [Le Monde]

Parecer:

Cá nem o vice de Menezes em Gaia o respeita e nem se deu ao trabalho de pedir desculpa, ainda tentou incriminar os agentes da GNR.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento ao Marco António, pode ser que ele fique mais British.»

JORNALISTA RESPONSÁVEL POR ARTIGOS SOBRE O CÁUCASO MORTO EM MOSCOVO

«Un journaliste de la chaîne de télévision d'Etat russe Pervyï Kanal, auteur de reportages sur le Caucase, a été retrouvé mort, vendredi 21 mars, dans son appartement à Moscou, ont annoncé les agences d'information russes citant des sources concordantes.» [20 Minutos]

FUNCIONÁRIOS DO FISCO ENTREGUES À SUA SORTE

«O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI) garante que “muitas vezes os inspectores de Finanças não visitam as empresas que deveriam porque se sentem pressionados e incomodados quando desempenham as suas funções”. O problema sente-se, sobretudo, ao nível das empresas com capacidade para contratar serviços de consultoria fiscal, diz Marcelo Castro, vice-presidente do STI. “É inaceitável que sejamos praticamente a única Administração Fiscal da Europa com contrato individual de trabalho”, considera o sindicalista, frisando a necessidade do “Grupo de Pessoal da Administração Tributária vir a ser considerado uma função de soberania do Estado”. São duas carreiras especiais (inspecção e pessoal das repartições e direcções de Finanças) e isso implicaria que estes trabalhadores mantivessem o actual vínculo à Função Pública - que se irá perder com a revisão das carreiras.» [Expresso assinantes]

Parecer:

O actual ministro das Finanças foi o que mais ignorou os funcionários do fisco.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se.»

O JUMENTO NO TECHNORATI

  1. "O Flaviense" também acha que o incidente de violência na escola se resolvia com um "põe-te no olho da rua". Mas o "Aliás" discorda. No fim disto ainda vou a ver a professora a ser acusada porque tirou o telefone à aluna o que configura um abuso da propriedade alheia.
  2. O "Arquipélago" não gostou da minha resposta ao facto de me ter atribuído uma etiqueta. Não contra argumentou na questão que estava em causa e achou que não aceito a etiqueta por vergonha. Meu caro amigo, nunca fui, não sou nem tenho intenções de ser do PS, mjas se fosse não teria vergonha disso, seria militante de um partido com valores democráticos. Votei Sócrates e ainda ninguém me convenceu a votar noutro partido, nunca votarei nem no PCP nem no BE porque têm vergonha de assumir o seu programa político, escondendo-se a trás de falsas siglas ou de "modernices" e teria vergonha de votar em Portas ou em Menezes. Da próxima terei muito gosto em discutir ideias em vez de ver as minhas destruídas por um carimbo.

ÁGUIA CURIOSA? [imagem original]

ÁRVORE NA CAROLINA DO SUL [imagem original]

2007 YOUTUBE VIDEO AWARDS [Link]

FRANÇOIS BENVENISTE

DE FICAR COM OS OLHOS EM BICO ?

UM GNU CONTRA QUATRO RINOCERONTES

TRÊS PRESERVATIVOS, POR FAVOR


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NUNCA CARREGUES NO BOTÃO VERMELHO DA ESTAÇÃO DE SERVIÇO

GOLO!

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