quarta-feira, agosto 19, 2009

A crise política desejada

Os políticos que desejam o poder político em Portugal já não se afirmam pelos seus projectos, limitam-se a esperar que a economia portuguesa ceda ao impacto de um qualquer facto externo. Com uma economia frágil, sofrendo de desequilíbrios estruturais que ninguém tem a coragem de enfrentar esta estratégia é a mais fácil.

Nem a direita, nem a esquerda conservadora se dão ao trabalho de apresentar um projecto político coerente, sabem que não têm solução ou que as soluções de que dispõem são tão antipáticas do que as que criticam. Por isso limitam-se a sugerir um sonho fácil, disputam, à direita e à esquerda, as mezinhas mais milagrosas. A esquerda conservadora resolve o desemprego por decreto, basta proibi-lo, é evidente que seria ridículo proibir despedimentos em empresas com prejuízos, pelo que dão mostras da sua generosidade propondo a proibição apenas às empresas pecadoras, as que têm lucros. A direita não se fica atrás, descobre que são as PME que criam emprego e sugerem que o IVA seja pago após recibo, como se as PME ficassem endinheiradas com tão brilhante medida.

Esta estratégia tem resultados, não são os cidadãos que têm opiniões que decidem as eleições, estes há muito que decidiram os seus votos. São os que acreditam em mezinhas, que consideram o Francisco Louçã o equivalente à santinha da Ladeira na política, que decidem as eleições. Apresentar um projecto coerente poderia ajudar louça ou Manuela Ferreira Leite a conseguir alguns votos mais esclarecidos, mas o que lhes interessa é conquistar votos fáceis, desde o desempregado em desespero, ao jovem da classe média alta que decide mais depressa votar BE do que a escolher o próximo shot.

Não admira que quer a direita, liderada por Cavaco Silva, quer a esquerda conservadora, inspirada no sucesso fácil de Louçã, apostem na crise política, é por isso que estão unidos num objectivo comum, livrarem-se de Sócrates.

Cavaco Silva sonha com a crise e a instabilidade política, os caudilhos sempre deveram a sua ascensão à estabilidade e às crises políticas, os regimes políticos desejados e pela esquerda conservadora nunca foram aceites como alternativa credível em países desenvolvidos. A miséria social, o desespero, a crise económica são os maiores aliados de caudilhos e de todos os tipos.

É por isso que Cavaco Silva se recusa a comentares indicadores económicos que dão esperança aos portugueses com o argumento de que se avizinham eleições, mas dias depois mandam os seus assessores canídeos soprar para a comunicação social que em Belém se receia que os movimento dos assessores estão a ser vigiados. Se a esquerda conservadora diz mata, a direita liderada por Cavaco Silva diz esfola, todos apostam na crise política pouco importando qual a solução que daí resultará.

Cavaco sonha com uma primeira-ministra de fracas capacidades que mais não será do que um pau mandado seu e dos seus assessores, a esquerda conservadora sonha com o colapso da economia. Ambos esperam apresentar-se como salvadores.