terça-feira, março 15, 2011

No recreio do manicómio

Algum alienígena que por acaso aterre neste país fica convencido de que finalmente encontrou o Eldorado, por aqui a riqueza abunda e os seus cidadãos apenas têm que se preocupar com a melhor forma de a distribuir, cada um saca o que pode, os políticos dedicam-se a propor soluções para a desbaratar. E se, por acaso, se enganar e aterrar no aeroporto internacional de Beja achará mesmo que entrou directamente num manicómio, ao ver um grande aeroporto imagina-se a aterrar numa grande metrópole mas engana-se, para além de Beja apenas encontra Ferreira do Alentejo, Mértola, Alcoutim e Martilongo! Perde-se no Alentejo e vai ter a um enorme lago a que os locais chamam Alqueva, espera encontrar grandes produções agrícolas mas engana-se, os locais construíram tudo aquilo para que dois ou três barquinhos possam levar turistas a passear.

Perante tão grandes manifestações de abundância não duvida que está na mítica cidade de ouro, liga a televisão e só vê indígenas a discutir a melhor forma de gastar, uns querem a regionalização porque nas regiões gasta-se melhor do que na capital, outros exigem mais crescimento para que todos possam ter com que passar o tempo, até têm um ministro para construir um TGV que terá tanta utilidade como a barragem que encontro quando cá chegou. Não discutem sobre como podem produzir mais, políticos, jornalistas e comentadores engalfinham-se a discutir sobre a forma de gastar melhor.

Se ler os jornais, ver as televisões, ouvir os políticos não vai acreditar que aterrou num país endividado, que consome mais do que produz, que exporta menos do que importa, num país onde o Estado gasta mais do que as receitas que consegue, onde os cidadãos estão a gastar hoje o ordenado do mês que vem, mais o que gastam com o cartão de crédito e que ganharão daqui a dois meses, usam carro que pagarão com o que vão ganhar nos próximos anos e vivem numa casa que terão paga com o que ganharão daqui a cinquenta anos.

Dá uma volta por Lisboa e dá com uma manifestação de jovens, não percebe muito bem o que é isso de enrascanço mas depressa conclui que o problema mais grave deste país é não conseguir ter 50 mil vagas para jovens jornalistas, 70 mil para jovens especialistas em relações internacionais, 100 mil para futuros especialistas em marketing, 30 mil técnicos de multimédia, cem mil juristas e outras profissões que estranhamente abundam neste país. Tropeça nos buracos, corre o risco de atravessar em passadeiras que há dez anos não levam tinta, pica-se em matos de urtigas e interroga-se porque razão este país não tem cursos de doutores calceteiros, doutores pintores ou doutores jardineiros.

O alienígena só não ficará verde quando souber disso porque, segundo consta, já verde. Não admira que em Portugal não haja qualquer registo da presença de alienígenas, se algum aterrou por não tardou muito a pensar que o tinha feito em pleno recreio de um manicómio e desapareceu tão depressa que nem deu tempo para o vermos!