terça-feira, março 01, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Abelha no Parque da Bela Vista, Lisboa

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Escada [A. Cabral]

IMAGEM DO DIA

«La aurora boreal ilumina el cielo sobre la población noruega de Ersfjordbotn, cerca de Tromso, hoy, lunes, 21 de febrero de 2011.» [El Pais]

JUMENTO DO DIA

José Sócrates

Ainda na semana passada José Sócrates gabava o sucesso da execução orçamental em Janeiro e assegurava que a alta dos preços dos combustíveis não teria impacto orçamental. Parece que mudou rapidamente de ideias e já ameaça com mais cortes.

«O primeiro-ministro José Sócrates sublinhou hoje que o Governo fará tudo o que for necessário para chegar ao final deste ano com um défice orçamental de 4,6 por cento, mesmo que isso implique vir a tomar mais medidas de austeridade.» [Público]

A DEMORA DA INVESTIGAÇÃO

«Os dois casos mais mediáticos de desaparecimentos de crianças em Portugal são trágicos para a reputação da investigação criminal portuguesa. Sobre o caso Maddie, já se disse quase tudo: n teorias depois, variadíssimas suspeitas nunca confirmadas, a verdade é que nada de sabe em concreto e de forma confirmada sobre o que aconteceu à criança inglesa; sobre o caso de Rui Pedro, que agora voltou à actualidade, passa-se praticamente o mesmo.

A criança desapareceu em 98. O actual e único acusado foi constituído arguido logo em 99. Mas em 2003, quando o processo passa da PJ para a Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), não havia quaisquer indícios consistentes. O caso volta para uma nova equipa da Judiciária em 2007. Que reaprecia de novo o caso e fecha todas as pistas internacionais. E o que é que fica? O indício inicial a apontar para o único suspeito de sempre ao qual se arrancaram contradições que permitem a acusação, 13 anos depois. Que acusação? Apenas a de que terá levado a criança, sua amiga, de um local para outro no seu carro, o que, tratando-se de um menor sem vontade própria e sem autorização paternal, lhe valerá quando muito uma pena máxima de três anos por rapto qualificado. Mas não há nenhuma indicação relevante sobre a única coisa que importa: o que aconteceu a Rui Pedro.

Estamos a falar de casos prioritários. Maddie e Rui Pedro são apenas dois de muitos. Dois em que a colaboração com as autoridades internacionais parece ter sido um fracasso. À demora da investigação em casos cujo impacto nas famílias é tremendo junta-se uma taxa de sucesso muito baixa. Mais uma machadada na credibilidade da nossa investigação e da nossa justiça.» [DN]

Autor:

Editorial do DN.

UMA HISTÓRIA MODERNA

«Como todo político moderno, o presidente da Câmara de Madrid Ruiz-Gallardón tem uma página na Internet. Há dias, colocou lá uma foto, rodeado de conterrâneos, como indicava esta frase inspirada em conhecida canção do Manu Chao: "Nos gusta Madrid, nos gustas tú" ("Gostamos de Madrid, gostamos de ti"). Acontece, porém, que a foto fora comprada num banco de imagens, um tipo de empresas que vende fotografias sem cuidar do que irá o cliente fazer com elas. Os fotografados não sabiam o que é "salir de copas", eram incapazes de dizer um "chiste" e provavelmente nunca ouviram falar de Xabi Alonso - eram dinamarqueses. Gallardón só aparecia no meio deles por causa dessa maravilha da aldrabice que é o Photoshop, capaz de tirar as rugas a Elizabeth Taylor e fazer de um nórdico um especialista de "tortillas". Alguém topou a trapaça e logo o site de Gallardón se tornou um sítio muito frequentado. Podia ser uma daquelas vergonhas menores que caindo em políticos se transforma em catástrofe, mas o "alcalde" soube tirar partido. Fez outra foto desta vez (julgo) com madrilenos e anunciou no Twitter o novo cartaz: "Mudamos os dinamarqueses por madrilenos. Como dizia Groucho Marx, estas são as nossas fotos, mas, se não gostam delas, temos outras." Na verdade, na frase original, Groucho fala de princípios, não de fotos. Mas um político dizer que muda de princípios se tiver de ser não chegava a ser notícia. » [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.

A CASINHA DOS PAIS

«Sem que nada o justificasse, eis que um grupo musical com nome de mulher se vê guindado a um estatuto de referência sociopolítica. Um punhado de rimas de inspiração pequeno-burguesa (como certeiramente assinalou Vicente Jorge Silva) bastou para que alguns dos nossos melhores espíritos perdessem a perspectiva analítica das coisas e se deixassem embalar pela conveniência juvenil do momento. Resta o mérito de ter reavivado o debate sobre o emprego, as qualificações, o mercado do ensino dito superior e as necessidades da economia portuguesa.

Comecemos pelo óbvio - licenciaturas para a escravidão, trabalho sem remuneração e outras tiradas quejandas não passam de estereótipos urbanos para radical ver. Não é de hoje a dificuldade das saídas profissionais pós-universitárias. Muitas gerações, entre as quais a minha, confrontaram-se, à saída da licenciatura, com um cenário de penúria de emprego bem mais grave do que o dos tempos actuais. O meu primeiro salário era, grosso modo, comparável aos mil euros de que os recém-formados de hoje tão amargamente se queixam, embora a precariedade se resumisse então ao período experimental, após o que a efectividade estava garantida.

Se olharmos com atenção para as estatísticas, verificaremos que o número de desempregados entre os recém-licenciados tem vindo a aumentar, mas que esse aumento é inferior aos das restantes categorias e que a sua evolução não diverge da do índice geral de emprego. Não serão, por outro lado, necessários grandes dotes analíticos para nos apercebermos de que a maioria dos recém-formados no ensino superior encontra colocação quase imediata no mercado de trabalho. Para muitos deles, na forma de estágios remunerados, recibos verdes e contratos a prazo, é certo, mas essas formas de precariedade, por indesejáveis que sejam, são hoje comuns para a generalidade dos candidatos ao emprego, sejam eles jovens ou seniores, com baixas ou altas qualificações.

O problema do acesso ao mercado de trabalho não pode, pois, deixar de ser visto numa perspectiva sistémica. A sua maior ou menor fluidez depende, em primeiro lugar, do ambiente económico geral. Perante uma demografia relativamente estável, os lugares em aberto variam ao ritmo do crescimento da economia. Neste domínio, não se devem esperar grandes melhoras, em Portugal como no resto do mundo ocidental, dado o actual estado de depressão.

Em simultâneo, coloca-se um outro problema, que não é novo, o da adequação da matriz de ensino às necessidades das empresas portuguesas. Muito se joga neste terreno, que é também o das percepções e expectativas dos jovens quanto à sua futura carreira profissional. Como explicar a avalanche de licenciados em Comunicação Social ou em Relações Internacionais? Um amigo meu, com algum sarcasmo, avança uma tese - os primeiros sonham em ser entrevistadores, os segundos em ser entrevistados. O resultado, porém, é bem diverso - amontoam-se sem destino os CV de tais candidatos.

E como explicar a extraordinária procura de cursos de arquitectura, ao ponto de as médias de entrada serem as mais elevadas do ensino superior, num país onde todos os ateliês estão em crise e os jovens arquitectos sabem de antemão que os espera um penoso caminho de busca de trabalho, as mais das vezes sem que nunca possam vir a aplicar os conhecimentos adquiridos? Ou a aversão às Ciências, onde as saídas profissionais são fáceis, em prol de um qualquer domínio recôndito no campo das Humanidades, sem encaixe nem futuro?

Num mercado livre, as escolhas dos agentes não podem ser ditadas por sistemas planificados de tipo soviético. O único caminho é a selecção natural das melhores escolas e dos cursos mais adaptados às necessidades da economia. Mas então, o que fazer das vocações, dos sonhos? Recomendo uma aproximação semelhante à do professor de História inglês, que há uns meses relatei nesta coluna - prof por vocação, dono de uma micro-empresa de canalizações por necessidade.

Enquanto isso, ficam os lamentos do patrão da Jerónimo Martins por não conseguir preencher as muitas vagas de talhante e profissões afins nos supermercados Pingo Doce. Enquanto isso, amontoam-se jovens doutores na casinha dos pais. » [Jornal de Negócios]

Autor:

Luís Nazaré.

A ANEDOTA LOUÇÃ

«Francisco Louçã disse esta segunda-feira, junto do Centro de Emprego de Loures, que a moção de censura ao Governo é uma forma de corrigir as injustiças sociais e de trazer estabilidade e desenvolvimento ao país.

O deputado frisou que «com esta moção aquilo que o Bloco diz ao país é que não desiste e vai em frente, que dá o corpo à luta». «É assim que é preciso nos momentos difíceis. Política mesquinha é esta tentativa do PSD manter a situação a pior possível». » [Portugal Diário]

Parecer:

parece que Louçã teve mais um dos seus momentos originais, mas enganou-se, em vez de ter escolhido os desempregados deveria ter ido explicar a moção aos empregados. Com o ambiente de crise política defendido por Loução não seriam os desempregados a encontrar emprego, mas sim os empregados a perdê-lo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

MAIS AUSTERIDADE NO BOLSO DE TEIXEIRA DOS SANTOS

«Podem ser necessárias medidas mais duras pois, assume Teixeira dos Santos, pode haver toda a vontade política, mas também existem riscos para a execução orçamental. Existe um risco operacional que tem a ver com a eventual dificuldade em implementar as medidas e um risco de natureza económica ligado, sobretudo, aos mercados de matérias primas e, em especial, ao petróleo. Aconteça o que acontecer tudo faremos para cumprir os objectivos orçamentais, avisou.» [DN]

Parecer:

Há poucos dias, quando questionado pelos jornalistas sobre o impacto dos peços dos combustíveis, José Sócrates informou que não teriam impacto directo nas receitas fiscais o que, obviamente, mostra que o primeiro-ministro tem fracos conhecimentos de economia e ignora que o aumento do preço do crude pode reduzir os lucros de muitas empresas e por essa via traduzir-se em diminuição da receita fiscal, designadamente, dos impostos sobre o rendimento e sobre o valor acrescentado.

Agora vem Teixeira dos Santos dar o dito pelo não dito e contesta o primeiro-ministro defendendo que o aumento do preço do petróleo pode conduzir a mais medidas de austeridade. Ou Teixeira dos Santos não ouviu o primeiro-ministro ou está a preparar o ambiente para mais medidas, até porque alguns dos seus colegas não foram capazes ou não quiseram conter a despesa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se a confusão que existe no governo.»

JÁ HÁ SINAIS DE CRESCIMENTO!

«O maior produtor nacional de urnas funerárias iniciou a fase de testes das suas novas instalações, em Amarante, que vão permitir produzir mais de 200 caixões por dia, parte dos quais para exportação.

A empresa Joriscastro, que há seis anos lidera o sector em termos nacionais, investiu 6,5 milhões de euros numa nova linha de montagem que vai permitir quadruplicar a sua produção actual. Este investimento incluiu um novo pavilhão industrial em Fregim, Amarante, e a aquisição de equipamento.» [DN]

Parecer:

Ainda bem que o crescimento se deve à procura externa...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»

EX-SECRETÁRIO-GERAL DO PSD VAI SER JULGADO POR GESTÃO DANOSA E OUTROS CRIMES

«O ex-presidente dos Correios Carlos Horta e Costa é um dos onze arguidos que vão a julgamento no caso dos CTT. Os onze arguidos, de um total de 16 que existem neste processo, enfrentam acusações de gestão danosa e participação económica em negócio, entre outros crimes.» [Público]

Parecer:

O mais engraçado é que a comunicação social omite o currículo político de Horta e Costa apresentando-o apenas como ex-gestor dos CTT. Pois, mas este senhor também tem um currículo político ao mais alto nível, foi secretário-geral do PSD com o comentador Marcelo e membro da Comissão Nacional com Marques Mendes, um outro comentador televisivo muito activo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se aos comentadores Marcelo e Marques Mendes se não têm nada a comentar.»

GRUPOS DE TRABALHO, COMISSÕES E OBSERVATÓRIOS

«O actual Governo de José Sócrates já criou 42 grupos de trabalho, 20 comissões, dois conselhos, dois grupos consultivos, uma coordenação nacional, um observatório e uma estrutura de missão desde que tomou posse no final de 2009. A pesquisa efectuada pelo PÚBLICO nos despachos publicados em Diário da República permitiu concluir que há grupos de trabalho que se sobrepõem a comissões, e comissões que se justapõem a outras e à actividade que deveria ser realizada por organismos e entidades já existentes na Administração Pública.» [Público]

Parecer:

Há muita gente para empregar e promover...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Teixeira dos Santos se a sua caça pessoal aos chefes é para compensar os cargos que vão sendo criados.»

NYIRAGONGO CRATER: JOURNEY TO THE CENTER OF THE WORLD [Boston.com]

MONIKA EICHERT & WOLFGANG GRASER