segunda-feira, março 28, 2011

O tudo ou nada

Nestas eleições não se vai escolher apenas um novo governo, são vários os políticos ou mesmo partidos que jogam o tudo ou nada, delas não vão sair apenas vencedores e vencidos ligeiramente feridos, seja qual for o seu resultado serão vários os que dificilmente sobreviverão.

A primeira morte anunciada poderá ser a do Bloco de Esquerda que só escapará à decadência se conseguir um bom resultado em termos absolutos e em relação ao PCP. Quando está em causa uma situação de crise grave vai ser nítida como nunca foi nas eleições anteriores a inutilidade de um partido sem projecto político, que vende utopias e falsas soluções, que apensas visa destruir adversários políticos e que cujos militantes é gente que vive muito bem sem ter feito grande coisa na vida.

Se a direita ganhar o PCP tem uma vitória de Pirro mas não se escapará ao estatuto de muleta do PSD e do PCP, estatuto que, aliás, assumiu claramente nesta legislatura, da mesma forma que assume em muitas legislaturas. Não admira que Bagão Félix proponha uma aliança da direita com o PCP e o super-merceeiro do Pingo Doce o sugira num governo de salvação nacional. Para um PCP cujo único projecto político é a destruição do PS esta era a única vitória possível, ainda que pouco provável.

Pedro Passos Coelho nem teve tempo para reflectir, a a revolta anti-PEC no interior do grupo parlamentar foi de Manuela Ferreira Leite e a partir desse momento o actual líder ficou a saber que quem estava aos comandos do PSD era Cavaco Silva. Pedro Passos Coelho que há meses esperava pelo momento adequado para assaltar o poder foi empurrado para o fazer no pior momento e nas condições mais adversas. Se perder é o fim de uma carreira política precoce e regressará às suas aulas numa universidade da geração rasca, onde ajudará a preparar os futuros enrascados que saem das universidades com um diploma que vale menos do que as acções da Torralta. Nestas legislativas Pedro Passos Coelho não passa de uma marioneta de Cavaco Silva.

Conhecendo Cavaco como poucos José Sócrates escolheu o momento em que levaria o Presidente da República na barca de Pedro Passos Coelho, empurrando-os depois em direcção aos rápidos de umas eleições antecipadas. Sócrates pressionou Cavaco e este fez o seu jogo, fê-lo no discurso de posse e voltou a fazê-lo quando optou pelo silêncio depois do primeiro-ministro se ter esquecido de lhe dar a conhecer o PEC. Cavaco disse que havia limites para a austeridade e Sócrates fez-lhe a vontade e lançou um PEC que mereceu um aplauso da Europa. Sócrates sabia que teria de enfrentar Cavaco e Passos Coelho e optou-os por os juntar. Mesmo que perca ainda sobreviverá e poderá regressar brevemente ao poder, basta que a direita não consiga uma maioria absoluta.

Cavaco está a ter uma dura lição, o primeiro-ministro pelo qual nutre o maior dos desprezos, contra o qual os seus assessores conspiraram inventando escutas e que os magistrados amigos tentaram derrubar saiu-lhe melhor do que a encomenda, é um político de maior dimensão do que a sua, tem-lhe destruído a imagem e não me admiraria nada que o resultado destas eleições antecipadas seja a antecipação de eleições presidenciais. Se Sócrates vencer o grande derrotado não é Passos Coelho mas sim Cavaco Silva e então teremos um presidente em cujo palácio já se conspirou contra a democracia, que recebia magistrados para dar força a supostas pressões de Sócrates sobre a justiça, que convidava personalidades que só iam a Belém para no fim da reunião falarem mal do governo aos jornalistas, que permitiu ou mandou os assessores a fazerem intriga contra o governo. Uma vitória política de Sócrates é a morte política de Cavaco Silva e o enterro definitivo do Cavaquismo, resta saber se neste contexto Sócrates ajudará Cavaco Silva a terminar o mandato com dignidade ou se lhe sugere que diga aos portugueses que se retira por questões de saúde. Se Sócrates ganhar isso significa que Cavaco foi à lã e saiu tosquiado.