Desde que me conheço que a questão da maternidade foi objecto de debate público apenas duas vezes, pelo pior dos motivos e da pior forma. Em Portugal a maternidade é uma maçada, uma perturbação para os serviços, uma importante causa de absentismo, um incómodo para os empresários e meia dúzia de parágrafos politicamente correctos no Diário da República.
As aldeias despovoam-se, as escolas fecham nos meios rurais, os infantários escasseiam, o negócio dos infantários e escolas privadas floresce, a população envelhece e o país continua impávido e sereno, sem políticas de longo prazo, sem visão de futuro. E numa semana em que todos afirmaram ser contra o aborto, quase todos contra a sua penalização e no próximo domingo saberemos quantos serão contra a criminalização, ficámos com a sensação de que o rejuvenescimento dos portugueses passaria por não haver abortos, houve mesmo que concluísse que a sua proibição contribuiria para esse objectivo.
É evidente que o problema não se resolve com natalidade forçada, senão daqui a uns anos a conversa entre os jovens seria sobre qual o acidente que os tinha trazido ao mundo, uns diriam que nasceram porque os papás seguiam os valores da Santa Madre Igreja e a ovulação veio três dias antes do previsto, outros agradeceriam a vida ao farmacêutico que se tinha esquecido de reabastecer a máquina de venda de preservativos, haveriam os filhos dos shots e ainda os que agradeceriam à mãe as faltas às aulas de educação sexual.
Uma população saudável pressupõe uma distribuição estatística equilibrada mas também as condições para que a infância e a juventude sejam felizes, as escolas tenham qualidade e os poderes públicos apostem nos jovens em vez de descarregar nas suas costas todas as desgraças do país. Em Portugal nasce-se já com uma pesada vida pública, com o estatuto de cidadão de segunda condenado a pagar os desvaneios e corrupções do passado, sem grandes perspectivas de futuro e para viver em casas onde não se cabe e em escolas onde o prazer de ensinar quase não existe.
Se o “não” voltar a ganhar teremos mais uma década que em vez de discutirmos a maternidade problematizamos o código penal. Se ganhar o “sim” corre-se o risco de dar o problema por resolvido.
Defendo uma maternidade como opção de liberdade, mas para que essa liberdade exista é necessário que os portugueses tenham condições para terem um filho quando o desejarem e para isso não basta que hajam uns catequistas simpáticos que de vez em quando troquem as discotecas por uma noite de trabalho voluntários em que distribuirão meia dúzia de fraldas e que outros fiquem tranquilos porque nenhuma mulher será humilhada em público.
Que o fim do debate do aborto dê lugar à discussão das dificuldades que é ser pai ou mãe em Portugal e do que espera os futuros portugueses, nasçam por acidente, por determinção divina ou desejo dos pais.
As aldeias despovoam-se, as escolas fecham nos meios rurais, os infantários escasseiam, o negócio dos infantários e escolas privadas floresce, a população envelhece e o país continua impávido e sereno, sem políticas de longo prazo, sem visão de futuro. E numa semana em que todos afirmaram ser contra o aborto, quase todos contra a sua penalização e no próximo domingo saberemos quantos serão contra a criminalização, ficámos com a sensação de que o rejuvenescimento dos portugueses passaria por não haver abortos, houve mesmo que concluísse que a sua proibição contribuiria para esse objectivo.
É evidente que o problema não se resolve com natalidade forçada, senão daqui a uns anos a conversa entre os jovens seria sobre qual o acidente que os tinha trazido ao mundo, uns diriam que nasceram porque os papás seguiam os valores da Santa Madre Igreja e a ovulação veio três dias antes do previsto, outros agradeceriam a vida ao farmacêutico que se tinha esquecido de reabastecer a máquina de venda de preservativos, haveriam os filhos dos shots e ainda os que agradeceriam à mãe as faltas às aulas de educação sexual.
Uma população saudável pressupõe uma distribuição estatística equilibrada mas também as condições para que a infância e a juventude sejam felizes, as escolas tenham qualidade e os poderes públicos apostem nos jovens em vez de descarregar nas suas costas todas as desgraças do país. Em Portugal nasce-se já com uma pesada vida pública, com o estatuto de cidadão de segunda condenado a pagar os desvaneios e corrupções do passado, sem grandes perspectivas de futuro e para viver em casas onde não se cabe e em escolas onde o prazer de ensinar quase não existe.
Se o “não” voltar a ganhar teremos mais uma década que em vez de discutirmos a maternidade problematizamos o código penal. Se ganhar o “sim” corre-se o risco de dar o problema por resolvido.
Defendo uma maternidade como opção de liberdade, mas para que essa liberdade exista é necessário que os portugueses tenham condições para terem um filho quando o desejarem e para isso não basta que hajam uns catequistas simpáticos que de vez em quando troquem as discotecas por uma noite de trabalho voluntários em que distribuirão meia dúzia de fraldas e que outros fiquem tranquilos porque nenhuma mulher será humilhada em público.
Que o fim do debate do aborto dê lugar à discussão das dificuldades que é ser pai ou mãe em Portugal e do que espera os futuros portugueses, nasçam por acidente, por determinção divina ou desejo dos pais.