sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Overdose

Já aqui defendi muitas vezes que não considero o emprego como uma prioridade absoluta da política económica, promover o emprego a qualquer custo significa aceitar o círculo vicioso do subdesenvolvimento gerado por um modelo de desenvolvimento assente numa competitividade externa alimentada por salários baixos.

Mais emprego à custa de indústrias sem futuro, de contratações massivas de funcionários públicos, de obras públicas de necessidade duvidosa fica bem a qualquer político na hora da divulgação dos indicadores de emprego e dá jeito na hora das eleições mas a longo prazo poderá resultar em novos ciclos de desemprego e o adiamento da revolução económica de que Portugal carece.

Portanto, nunca teria prometido criar 150.000 empregos como o fez José Sócrates que há muito que terá esquecido os cartazes que espalhou pelo país. Foi uma promessa idiota a não ser que alguém tenha dito a Sócrates que a Ota mais o TGV criariam lugar para 100.000 serventes de pedreiro, vendedores de sandes de courato e raparigas dos shoppings que a SONAE construirá nos novos dormitórios criados à volta.

Mas o facto é que Sócrates prometeu e em vez de emprego as suas políticas estão a resultar em desemprego, seria razoável que explicasse aos portugueses se as coisas não correram bem, se mudou de política, se as suas políticas não estão a ter os resultados esperados ou se, afinal, se tratou de uma mera promessa eleitora. Não basta invocar a conjuntura externa pois como se sabe desta vez nem pode usar esse argumento.

E devia explicar porque as suas políticas estão a tornar a vida de muitos portugueses num inferno, os mesmos portugueses que diariamente se confrontam com as opas, a divulgação de lucros fenomenais ou de outras histórias como a da contratação do responsável da REFER que foi despedido com uma choruda indemnização.

Não estará a economia portuguesa a ser sujeita a uma overdose de austeridade? Ao mesmo tempo que o desemprego aumentou soube-se que o Governo registou um grande sucesso ao nível orçamental, cobrou mais e gastou menos do que previu, ou seja, a dose de austeridade foi maior do que a definida há um ano.

Com este excesso de medicação não existirá o risco de em vez de se morrer da doença a economia soçobrar devido à cura?