Poucos dias depois de o país ter andado em sobressalto com o caso da Esperança e ao mesmo tempo que todas as boas almas lusas se desfazem em promessas de apoio à maternidade leio no Jornal de Notícias [Link] que duas filhas foram retiradas a uma mãe de Salvaterra de Magos porque esta é pobre:
«No dia 19 de Janeiro, pelas 16 horas, Isabel Silva não teve sequer oportunidade de se despedir das suas filhas. Enquanto a trabalhadora rural estava numa reunião no Instituto de Reinserção Social de Alverca do Ribatejo - para onde tinha sido convocada -, a 50 quilómetros dali, a GNR invadia o pavilhão da colectividade de Foros de Salvaterra e, em plena aula de ginástica, levava a Daniela. Os gritos e a revolta da menina não passaram despercebidos aos colegas e funcionários. Minutos depois, era a vez da pequena Bruna ser arrancada dos braços da bisavó. "A minha avó diz que pediu para lhe vestir uma camisolinha e que eles nem a deixaram aproximar-se", conta Isabel, desolada.»
Já aqui tenho questionado por várias vezes se em Portugal não se está a correr o risco de os pobres não poderem ter filhos, há um grande risco de funcionários com empregos seguros ou de magistrados bem alimentados pela democracia chegarem à conclusão de que o filhos serem levados para instituições de acolhimento.
Onde estão os jornalistas da TVI, os advogados em busca de notoriedade à custa de habeas corpus, os bons cristãos que não se cansam de prometer apoios a quem não aborta, as ex-primeira.damas cheias de compaixão e os procuradores-gerais incomodados com as justiças deste mundo?
Se uma família é pobre deve ser apoiada, se esse apoio é insuficiente aumente-se o apoio, se a casa não tem condições ajude-se a melhorá-la, tudo o que for investido numa família para que os seus filhos vivam felizes com quem devem viver é bem investido, muito melhor do que o dinheiro do rendimento mínimo que vejo ser convertido em cerveja nos cafés do meu bairro. O que não é aceitável é que os pobres vejam os seus filhos tirados pelas mesmas autoridades que não são igualmente eficazes a combater a corrupção e outros males que forçam o país à pobreza.
Espero que em nome da felicidade das crianças se resista à tentação de aplicar princípios nazis aos pobres deste país.