Quando se fala em gerações surgem definições parta todos os gostos, as mais frequentes são a de geração perdida e, mais recentemente, a geração rasca, no passado até tivemos uma enclítica geração. Mas não há dúvidas de que as gerações são como as colheitas de vinho, umas são boas, outras são assim, assim e outras nem tanto. Apesar de nos últimos tempos se ter falado muito da geração rasca, nunca os historiadores, sociólogos ou economias tentaram estabelecer uma relação entre a qualidade das gerações e o progresso dos países. De vez em quando fala-se das gerações de políticos para se dizer que já não há políticos da dimensão de Brandt ou Delor e muitos outros, mas fica-se por aí.
Por cá todos apontam o dedo à chamada geração rasca, mas esquecemos a geração ou gerações que a antecederam, as gerações que permitiram que a ditadura quase entrasse pelo século XXI se não fosse meia dúzia de oficiais de baixa patente menos conformados, a maioria dos quais acabou perseguida e marginalizada quando o país entrou na “normalidade”, como sucedeu com Salgueiro Maia. Que país deixaram as gerações anteriores à geração “rasca”?
Um país onde os advogados instalados pagam menos aos jovens advogados do que pagam às empregadas domésticas, um país de poucas oportunidades que empurram jovens qualificados para a emigração, um país onde o condicionamento industrial foi substituído por uma protecção blindada por compadrios e corrupção, um país com um Estado arruinado e uma dívida pública abusiva, um país com uma classe política sofrível. É a geração rasca que vai ter que trabalhar a recibos verdes para suportar a competitividade das empresas, que quase prescindir da Segurança Social e suportar contribuições elevadas para evitar a sua ruína, que pagar uma boa parte das obras públicas apesar das ajudas comunitárias. É este o país que as gerações brilhantes deixaram à geração rasca.
A geração brilhante geriu o poder nos últimos trinta ou quarenta anos criando um país à imagem e semelhança das suas utopias, em vez da competitividade inventou a falsa igualdade, em vez de obrigações multiplicou os seus direitos, em vez de promover o trabalho gerou preguiça, em vez de empresas competitivas promoveu empresários oportunistas, em vez de justiça fiscal ajudou à evasão fiscal, em vez de criar um Estado moderno serviu-se dele. Por fim reformaram-se aos cinquenta anos deixando o défice da Segurança Social para ser suportado e pago pela geração rasca, mudaram-se de políticos para gestores quando acharam que está na hora de ganhar mais algum, transformaram os seus direitos nos últimos direitos adquiridos coisa de que a geração rasca não pode beneficiar, porque a escassa riqueza do país não dá para mais e ficou reservada a essa geração brilhante.
Portugal pouco deve nada a esta geração brilhante, está para a história do país como as más colheitas estão para produção de vinho, é nos anos maus que mais se produz vinho a martelo.