Independentemente das considerações éticas e morais que se possam tecer sobre a ida de Jorge Coelho para a presidência da Mota-Engil, ou mesmo sobre o facto de aquele justificar a decisão afirmando que não era rico, será interessante reflectir sobre a decisão dos accionistas da empresa na perspectiva da competitividade das empresas e da própria economia portuguesa.
Nada impede que um político se transforme num bom gestor de uma grande empresa, alguém que tem experiência em decisões de grande complexidade e responsabilidade adquire competência para decidir, algo indispensável a um bom gestor. Só que o processo de decisão político exige menos conhecimentos técnicos do que a decisão empresarial o sucesso do político mede-se em votos e para os obter nem sempre se adoptam as melhores decisões, se assim fosse ainda Correia de Campos seria ministro da Saúde.
As grandes empresas procuram criar a sua própria escola de gestão, começam por recrutar os melhores alunos das melhores universidades, na esperança de ter bons quadros, de entre os melhores serão escolhidos os principais dirigentes. Então porque razão os accionistas da Mota-Engil esperam obter mais lucros com um político do que com um gestor? A resposta é simples, porque em Portugal o poder das influências tem mais peso na rentabilidade de muitas empresas privadas do que a qualidade da gestão, é por isso que muitas das empresas que têm sucesso em Portugal mal saem das nossas fronteiras e quando o conseguem é em países onde o peso do estado é muito grande.
Não penso que Jorge Coelho seja corrupto ou se transforme em corruptor activo. Mas para que muitas decisões sejam influenciadas pelo seu nome nem é necessário que ele disque um número de telefone. Jorge Coelho foi um homem forte do Governo de António Guterres e manteve esse estatuto no governo de Sócrates, a sua influência esteve presente na nomeação de muitos dirigentes do Estado, da mesma forma que muitos autarcas devem o seu lugar à influência de Jorge Coelho na escolha dos candidatos, não é por acaso que o futuro gestor sempre foi conhecido como o homem forte do aparelho do PS. Para além do poder no PS sabe-se que Jorge Coelho nunca será questionado pelo CDS de Paulo Portas (outro Sacadura) ou do PSD do compadre Dias Loureiro, Menezes já veio em defesa de Jorge Coelho e o inquiteo Paulo Portas não abriu nem vai abrir o piu.
A regra na Administração Pública é a subserviência e a graxa, fenómenos que serão agravados pelo novo sistema de avaliação. Quantos funcionários proporão que uma pretensão da Mota-Engil seja preterida se sabe que os seus dirigentes são pessoas que devem as suas carreiras brilhantes a Jorge Coelho?
O lado mais negativo da escolha de Jorge Coelho para a Mota-Engil está no facto de os seus accionistas considerarem que a influência política é mais importante do que a boa gestão para a competitividade da empresa. Isso significa que os mercados não são competitivos no sentido em que vencem as empresas que conseguem servir melhor os clientes e serem mais eficientes.
É por isso que a economia portuguesa não consegue sair da cepa torta, uma economia que não é competitiva não estimula a competitividade das suas empresas, dando lugar a empresas capazes de criar valor dentro ou fora das nossas fronteiras. Foi assim no anterior regime com o condicionamento industrial, foi da mesma forma com as nacionalizações e é-o agora com a valorização dos gestores em função do poder da sua rede pessoal de influências. É por isso que mesmo quando cresce a nossa economia aumenta a pobreza, o mesmo aumento de pobreza com que resolve as suas crises, é uma economia miserável.
Ao escolherem Jorge Coelho para presidente da Mota-Engil os accionistas desta empresa conseguem com um único gesto explicar o que tem queimado as pestanas de muitos dos nossos pensadores económicos, porque razão Portugal nem mesmo com ajudas comunitárias fabulosas consegue sair do seu ciclo de subdesenvolvimento e pobreza.
Resta-nos felicitar Jorge Coelho que não sendo um homem rico tem agora a oportunidade de alcançar a riqueza, todos os outros pobres sentirão inveja pelo seu sucesso, foi como se tivesse saído o Euromilhões a um dos nossos.