Por mais que Pacheco Pereira se esforce o PSD não tem nem um projecto político que o identifique, nem valores ideológicos que unem os seus membros, o PSD é um projecto que une uma imensa direita que nunca se esforçou muito para estruturar um programa político. Existe quando está no poder e desaparece quando o perde, une-se em vésperas de chegar ao poder e desune-se quando este não está ao seu alcance.
O que neste momento se discute no PSD não é qual o projecto que se deve apresentar aos portugueses nas próximas legislativas ou qual o melhor primeiro-ministro para o liderar, mas sim se vai ser ou não possível impedir que Sócrates tenha uma maioria absoluta para existir um factor de crise política que conduza a eleições antecipadas antes do termo da próxima legislatura. Menezes ganhou facilmente as directas para a liderança do PSD porque na ocasião não se vislumbrava qualquer hipótese de regresso ao poder, nos últimos tempos os opositores a Menezes agitaram-se porque o governo enfrentou dificuldades e a crise económica mundial sugere um ano difícil para José Sócrates.
Anunciada a demissão de Menezes e apresentadas as candidaturas temporãs os principais interessados em eventualmente discutir a liderança vão entrar em período de reflexão, dando tempo a que as alternativas sejam testadas junto do eleitorado e avaliadas por sondagens, nenhum deles estará interessado em suportar mais uma legislatura na oposição, a não ser, eventualmente, Manuela Ferreira Leite que pela sua idade não pode esperar por mais uma legislatura para tentar a sua oportunidade.
É evidente que Luís Filipe Menezes sabe muito bem que os seus opositores não querem o seu lugar de líder do PSD, querem sim o seu lugar de candidato a primeiro-ministro e esse lugar apenas é cobiçado se houver hipóteses de ganhar eleições, ou as próximas ou as que resultarem de uma crise de ingovernabilidade se o PS não conseguir a maioria absoluta.
O problema é que se os candidatos credíveis apenas avançam se tiverem a perspectiva de chegar ao poder a curto prazo dificilmente estas perspectivas existirão o que os levará a recuar, deixando o caminho aberto para que Luís Filipe Menezes continue no cargo. Não foi por acaso que Menezes decidiu demitir-se quando as sondagens bateram no fundo, ele sabe que o preço cobrado pelos candidatos a salvadores do PSD é o acesso ao governo, se este acesso não é viável eles deixarão a salvação do partido para outra oportunidade.