Seguindo a velha máxima do “não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu” o PCP e o PSD decidiram ficar preocupados com a saúde da democracia, integrando essa preocupação no seu programa político e fazendo interpelações parlamentares para dar visibilidade televisiva a estas suas preocupações. Apesar de todos os relatórios de organizações não governamentais apontarem em sentido inverso o PCP tenta fazer-nos crer que “Sócrates e os seus lacaios”, expressão que gosta de usar no Avante, são fascista, estratégia definida pelo PCP antes de qualquer incidente relevante a que o PSD se colou como tem vindo a ser hábito nos últimos tempos.
Em apoio destas teses aproveitaram-se três incidentes, o caso do professor que se entretinha a chamar f. da p. ao primeiro-ministro nos corredores de um serviço público, o caso do sindicato da Covilhã e, mais recentemente, o caso da ida da polícia à escola, tentou-se usar estas situações para fazer renascer os medos do passado. Só que o professor estava longe de ser o modelo de opositor perseguido pelas suas ideias (que bela ideia essa de chamar f. da p. ao primeiro-ministro), os incidentes na Covilhã e na escola não parecem ter passado de aproveitamentos. Três incidentes infelizes e que deveriam ter sido evitados, que mereciam outra resposta do governo, mas não mais do que isso, incidentes.
Mas o PSD e o PCP têm alguma razão em estarem preocupados com a saúde da democracia, têm-se multiplicado formas de intervenção política menos próprias da democracia, nalguns casos revelam mesmo tácticas políticas e de propaganda mais próprias de organizações fascistas. Um bom exemplo destas tácticas é a organização de manifestações supostamente espontâneas e anónimas para perturbar iniciativas partidárias, fazendo esperas a líderes partidários à porta das sedes dos partidos. Ou manifestações igualmente anónimas e igualmente espontâneas para fazer esperas a membros do governo ou, como sucedeu no Porto, para perturbar iniciativas partidárias.
O mesmo PSD que anda preocupado com a saúde da democracia chama “bando de loucos” aos deputados da oposição ao governo regional da Madeira, impondo naquela região uma versão soft do regime político do Zimbabué. É o mesmo PSD que em tempos recorreu à insinuação de que Sócrates era gay para obter proveitos políticos, o mesmo partido que já se esqueceu dessa insinuação para agora descobrir que Sócrates não só tem namorada, como esta é jornalista e ganha contratos graças à influência do primeiro-ministro. Depois da insinuação e perante a evidência do golpe sujo veio depois Ribau dizer que o problema não estava nos lençóis, que era o facto de a jornalista não ser simpática com o PSD.
Com o PCP a sucumbir a estratégias de propaganda de outros tempos e o PSD a fazer da insinuação e difamação, para não recordar o BE e os seus verde-eufémios, há mesmo razões para estarmos preocupados com a qualidade da democracia. Há sinais de intolerância, de golpes baixos, de insinuação e de difamação, pouco próprios em democracia e inaceitáveis em partidos que dizem estar preocupados com a democracia.