sexta-feira, abril 18, 2008

PSD: uma equação a onze incógnitas


Os últimos dias mostraram um PSD vergado pelas sondagens, pela incompetência de Menezes e pela perseguição a uma jornalista conduzida por uma das personagens mais cinzentas e cretinas que passaram pela direcção deste partido. Em poucos dias Menezes prometeu transformar Portugal num paraíso fiscal, Rui Gomes da Silva promoveu um ataque fascista a Fernanda Câncio, o PSD votou contra um projecto autárquico que propôs e votou favoravelmente na generalidade e voltou a propor uma nova Constituição, desta vez elaborada por Alberto João. A crise era inevitável.

Agora o PSD está transformado numa equação a dez incógnitas:

Manuela Ferreira Leite: será que a velha senhora aproveitar a última oportunidade antes de se reformar? Ferreira Leite é um general sem tropas, a última vez que esteve no poder rodeou-se de uma pequena guarda pretoriana, onde pontuavam personalidades como António Preto e Vasco Valdez, que à primeira oportunidade a abandonaram para se juntar a Pedro Santana Lopes. Tenta cultivar uma imagem de rigor mas a verdade é que as suas passagens pelo governo foram desastrosas, foi uma má ministra da Educação e enquanto ministra das Finanças iludiu a crise financeira com vendas de dívidas e de património. A sua vitória seria o regresso do cavaquismo, desta vez com uma maioria relativa, a sua derrota seria uma derrota do cavaquismo, passaríamos a ter um Presidente da República derrotado nas legislativas o que significaria o fim do sonho de Cavaco Silva de ficar na história de Portugal.

António Borges: desta vez o economista conseguiu que o seu calendário pessoal se ajustasse ao calendário político, recentemente foi dispensado pela Goldman Sachs e as portas do PSD abrem-se de par em par a eventuais salvadores. Só que os primeiros-ministros são escolhidos em eleições e não por avaliação curricular, para além disso ainda falta mais de um ano para eleições, demasiado tempo para incertezas e para que Borges dispense outras alternativas profissionais. Entre um futuro incerto na política e um bom emprego Borges não terá dúvidas em escolher, faz o que sempre fez, escolhe o bom emprego.

Aguiar Branco: o ex-ministro da Justiça de Durão Barroso é tão conhecido dos eleitores como o presidente da junta de freguesia do Castelo e o seu discurso político não estimula ninguém.

Pedro Santana Lopes: o líder derrotado nas últimas legislativas sabe que nunca chegará ao poder, ainda por cima com um Presidente da República que o designou por “má moeda”, Santana Lopes é um político morto que não enterraram por esquecimento. Como ninguém lhe ofereceu emprego no sector privado tem que se ir servindo da sua escassa influência para sobreviver da política, sempre vai ganhando uns contratos de consultorias em autarquias lideradas por autarcas amigos e um biscate aqui e acolá para compor o vencimento de deputado. Santana Lopes é um proletário da política, ainda que Cavaco Silva o enquadre mais no lumpen proletariado.

Marques Mendes: vencido nas directas e empregado no sector privado graças a uma mão amiga, o líder do PSD que estendeu o tapete a Menezes terá poucas hipóteses, foi derrotado porque os militantes perceberam que nunca ganharia as legislativas e desde então remeteu-se a um silêncio que faz lembrar Fernando Nogueira. Se Santana Lopes é um político morto que ficou por enterrar, Marques Mendes é um político enterrado vivo e sem direito a exéquias fúnebres.

Pedro Passos Coelho: sem grande projecto e contando apenas com a opinião do seu próprio espelho Pedro Passos Coelho tem poucas hipóteses, para ele a carreira política é como a carreira dos pilotos de fórmula um, começou por pilotar os kartings na JSD, tem-se entretido a tentar sponsors para conseguir uma escuderia que lhe proporcione um carro e tenta agora entrar para uma grande equipa na esperança de poder vir a disputar um futuro campeonato.

Rui Rio: fiel ao princípio de que “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar” o autarca do Port espera que o próximo líder seja tão bom quanto baste para impedir uma nova maioria absoluta de Sócrates que viabilize uma crise política no momento certo para se mudar para Lisboa.

Luís Filipe Menezes: é evidente que o actual líder voltará a candidatar-se a não ser que chegue à conclusão de que a reeleição é impossível. Os seus críticos beneficiam com as sondagens e com as críticas dos opinion maker mas são os militantes do PSD que irão a votos para escolher o seu sucessor. O PSD é hoje mais o partido de líders como Santana ou Menezes do que o partido daqueles que em tempos foram designados pela elite da Linha de Cascais, a maioria do aparelho depende mais das autarquias do que do governo. Enquanto os seus opositores apostaram tudo na conquista da opinião dos comentadores de jornais e televisões, Luís Filipe Menezes anda há muitos meses junto dos autarcas e das concelhias, os primeiros ganham nas sondagens o segundo apostou nos votos dos militantes.

Cavaco Silva: o Presidente da República está pouco interessado em saber o que se passa no PSD, mas estas directas não lhe são indiferentes na medida em que se a escolha recair sobre a “má moeda” ou em alguém da velha tralha cavaquista continuará indirectamente envolvido nos problemas internos do partido que em tempos liderou e transformou numa máquina de ganhar e perder eleições. É evidente que a nova geração do cavaquismo não vai participar.

Durão Barroso: preocupado com a recondução em Bruxelas o presidente da Comissão Europeia vai fazer de conta que nem soube que iam haver directas no PSD. Os barrosistas não contam com o apoio das bases do PSD e por isso apenas vão gerir os seus apoios de forma a não perder posições na eventualidade de se dar o milagre de o PSD regressar ao governo.

Marcelo Rebelo de Sousa: continuará a ser comentador televisivo.

É evidente que a solução desta equação está no poder autárquico, o PSD está cada vez mais transformado num partido autárquico, transformação que foi consolidada pela adopção da escolha do líder por eleições directas. Com os cargos do poder central reduzidos ao mínimo, o aparelho partidário depende das benesses dadas pelas autarquias pelo que o próximo líder será aquele em que um maior número de autarcas votar já que são estes que controlam os votos dos militantes ao nível local.