A semana passada foi abalada por dois casos pessoais, a denúncia do PSD de que a namorada de José Sócrates, segundo disse Rui Gomes da Silva todos sabemos quem é, vai ganhar algum à conta do da RTP e a ida de Jorge Coelho para a presidência da Mota Engil. Os dois casos nada têm que ver um com o outro, a não ser o facto de revelarem a pequenez da nossa classe política.
O mesmo partido (e a mesma seita desse partido) que lançou a suspeita de que Sócrates era gay e não assumia, Santana Lopes lançou mesmo um cartaz afirmando que todos o conhecíamos, para não referir um outdoor rasca da JSD, vem agora insinuar que a namorada de Sócrates tem um contrato com a RTP que só se justifica porque a jornalista em causa é namorada de Sócrates. Os mesmos que acusaram Sócrates de gay não assumido lançam agora insinuações sobre um pretenso benefício da sua namorada, isto é, o primeiro-ministro paga por ter cão e por não ter cão, se era gay não o assumia, se não é gay todos sabemos quem é a namorada.
À esquerda Jorge Coelho também recorre à linguagem comum para responder a todos os que criticaram a sua ida para a presidência da Mota-Engil chamando-lhes ciumentos. Há duas coisas de que os portugueses sofrem, os mesmos que tinham provas de que Sócrates era gay, conhecem de ginjeira as suas namoradas e ainda por cima são invejosos. Os políticos não só são rascas como tratam os eleitores como um bando de gente rasca, gente que tem inveja de Jorge Coelho e que considera a insinuação uma forma legítima de fazer política.
Para o PSD devemos suspeitar de quaisquer relações entre as namoradas, esposas e viúvas dos governantes e o Estado, se elas já devem ser objecto de desconfiança só pelo facto de terem qualquer relação terem ou terem tido uma relação íntima com um governante, sendo igualmente condenável a mera suspeita de que tal tenha sucedido e bastando como prova o boato, então se beneficiarem de qualquer contrato com o Estado passam desde logo a suspeitas da prática de prostituição política.
Jorge Coelho faz mais o menos o mesmo raciocino, ele sente-se acima de qualquer suspeita, é um homem honesto devidamente certificado por numerosas personalidades, desde Sócrates a Dias Loureiro, portanto, todos os que ousem pensar que ele vai para a Mota-Engil pelos nomes da lista telefónica e não pelo seu currículo de gestor de empresas, são uns invejosos, sofrem de dor de corno, uma doença tão portuguesa como o boato. É típico dos portugueses, têm inveja dos que como Jorge Coelho sobem graças ao mérito e admiram os que sobem por acertarem no Euromilhões.
O que têm em comum estes dois casos: que os nossos políticos não só acham que os portugueses são uns idiotas como os tratam como tal.