sábado, abril 26, 2008

Sucata


O que mais me impressiona na crise do PSD é que passados trinta anos desde a sua fundação e perante uma das suas maiores crises apenas um dos candidatos pertence a uma geração formada pelo próprio partido. Os restantes candidatos e candidatos a candidato são aquilo a que em gastronomia se designa por roupa velha, verdadeira sucata política que na última década foi incapaz de propor um projecto novo, apresentar ideias inovadoras ou sequer dizer o que pretendem para Portugal para além de rigorosos exercícios contabilísticos.

O problema não é exclusivo do PSD, é um verdadeiro mal nacional, sucede na política como nas empresas ou noutras instituições, em Portugal quem chega ao poder só sai de empurrão ou por se terem atingido todos os limites de idade. Dos juízes do Supremo aos professores catedráticos, dos presidentes dos bancos aos generais, o país recusa sistematicamente os mais jovens, é governado por uma verdadeira brigada do reumático. As maiores empresas são geridas por octogenários, os tribunais superiores e algumas universidades parecem centros de dia da terceira idade, agora o PSD sugere que primeiro-ministro e Presidente da República tenham mais de 70 anos. Quando são obrigados a largarem os lugares por excesso de idade os nossos líderes passam o testemunho a jovens de sessenta anos.

Os EUA podem ser governados por presidentes com pouco mais de quarenta anos, mas nas últimas presidenciais portuguesas só três candidatos perfaziam um total de 225 anos, dois séculos e um quarto! Isto significa que em Portugal as instituições do Estado e muitas das empresas e outras instituições da sociedade civil são geridas por uma geração formada há quarenta ou mais anos, com conceitos e valores dos anos cinquenta.

Por isso valores com a criatividade, inovação, mudança e ambição são tão pouco valorizados, por oposição à estabilidade, segurança e continuidade. É um país que não arrisca, que ao não confiar nos jovens não confia em si próprio, gerido por gerações que não confiam nas gerações seguintes que elas próprias formaram.

O grande drama do PSD é, afinal, o drama do país, ao fim de trinta anos de vida foi incapaz de dar o lugar a uma nova geração, as caras que se apresentam para resolver esta crise são as mesmas que estiveram em muitas das crises anteriores e, porventura, estão na origem de algumas dessas crises. Do ponto de vista do futuro do PSD ou do país uma boa parte dos candidatos que se apresentam não passam de sucata política que tenta apresentar-se como artigo novo.

Que futuro tem um partido que se rejuvenesce no seu passado?

A verdade é que o PSD vai fazer o que fez desde que Cavaco Silva o deixou órfão, vai adiar a renovação até que de crise em crise se aproxime da crise final.