(uma pequena homenagem a um jovem oficial da Armada que participou no 25 de Abril,
Passados 34 anos desde o 25 de Abril de 1974 os portugueses não só ainda não se entenderam com esta data da sua história, como não lhe deram a devida projecção porque preferem considerá-la como o ponto de partida ou o fim dos seus projectos. Uma boa parte da direita ainda não se recompôs da necessidade de ter ido a eleições de vez em quando, a esquerda persiste em considerar que o 25 de Abril é um momento indissociável do seu projecto político.
A esquerda que foi apanhada de surpresa pelos acontecimentos tem dificuldade em perceber que o 25 não foi o resultado de uma luta de décadas desta ou daquela organização política. A direita foi surpreendida e de repente achou que tudo poderia ter sido de outra forma, quando nada fez para que assim fosse.
Hoje alguns vão festejar tentando fazer crer que o 25 de Abril genuíno foi o dos acontecimentos que se lhe seguiram, outros, como um conhecido blogger, sentem-se mal na cidade e dizem que vão o mais longe possível, para junto da fronteira, talvez porque sinta o conforto da memória do franquismo, uma das ditaduras mais assassinas da história da Europa, talvez a memória dos bombardeamentos de Guernika os façam sentir bem com a sua consciência política.
É preciso libertar o 25 de Abril de quem não é capaz de perceber a sua dimensão universal, a grandeza de um movimento que teve a grandeza de perdoar aos facínoras do regime derrubado ou a sua importância na história da humanidade. O 25 de Abril é muito mais do que o das gaivotas de Vasco Gonçalves ou das atoardas idiotas do major Saraiva de Carvalho, é tudo isso e muito mais, é tudo o que se fez e o que ficou por fazer, foi um processo em que um povo se embebedou com a liberdade e construiu uma democracia. Talvez não seja perfeita, talvez os seus protagonistas posteriores não tenham sido os melhores, mas é uma democracia que nos orgulha enquanto povo.
Uma democracia que levou Chico Buarque a pedir-nos que lhe mandássemos um cheirinho de alecrim para um Brasil a viver em ditadura, uma democracia que ajudou a vencer o franquismo, uma democracia que ajudou a libertar uma boa parte de África.
É preciso libertar o 25 de Abril das nossas incapacidades, da tentativa de o converter em num chavismo europeu ou de aprisionar a projectos políticos que foram ultrapassados pelos acontecimentos de Abril e, mais tarde, pela própria história. É preciso que o 25 de Abril seja de todos os portugueses para que um dia seja de todos os europeus ou de todos os africanos, porque nessa data começou a sua liberdade.