Moro junto a uma escola d primeiro ciclo e há uns tempos estava a tomar café nas imediações quando um pai “babado” dizia que a “crincinha” que se cuja gritaria se ouvia dali era o seu filho. A criancinha que era motivo de tanto orgulho tinha doze anos, andava no terceiro ano de escolaridade e pesava mais de oitenta quilos, felizmente não tenho registo de incidentes mas imagino-a a brincar com outras crianças de seis ou sete anos e a professora a ter que se desdobrar entre alunos que são educados para aprender e alunos educados para andarem na escola só porque a lei obriga e a família pode perder o “rendimento mínimo”. Entretanto o “pai babado” estava a beber umas cervejas à conta do rendimento mínimo gerado por uma prole numerosa e, portanto, rentável, enquanto defendia que qualquer um podia andar armado.
Lembro-me desta pequena estória que se passou ao meu lado a propósito do incidente ocorrido há dois dias na Escola Básica do 1.º ciclo Arquitecto Ribeiro Teles, onde uma criança de 11 anos que frequenta o terceiro ano mandou a professora à merda, a que se seguiu o irmão do mesmo aluno que chamou a professora de vaca, acabando o espectáculo com a agressão dos pais da linda prole à professora. Como os pais agredira a professora durante o horário escolar não é difícil de adivinhar que vivem à conta do rendimento mínimo financiado pelos nossos impostos, incluindo os que a professora paga apesar de muito provavelmente ganhar menos do que os papás exemplares.
Analisando esta situação à luz do politicamente correcto, alicerçado em ideologias científicas, teremos que ter algum cuidado ao pronunciar-nos, teremos que fazer das tripas coração pois quer as crianças, quer os pais são vítimas da sociedade. A haver culpas esta só podem ser da ministra, as suas políticas é que levaram as crianças a mandar a professora à merda e a chamar-lhe vaca. Já quanto às agressões dos pais a culpa é da ministra e de José Sócrates, da ministra porque as suas políticas levaram os pais a pensar que podem bater em qualquer professor e de José Sócrates que provocou o seu desemprego levando-os a um estado de tão grande desespero que passaram a ser inimputáveis.
Os pedagogos, menos dados à política, vão-nos dizer que as criancinhas são vulneráveis e que a melhor solução é integrá-las em turmas normais, mesmo que daí resulte um ensino de qualidade duvidosa, mais umas caroladas em crianças com menos idade e metade do peso, educadas para respeitarem os professore e não agredirem ou responderem às agressões. Teremos de ter paciência, pelo menos até que as crianças vulneráveis atinjam a idade máxima para serem aceites em escolas do primeiro ciclo.
Vivemos num país de sonhos construído por uma geração que confundiu os sonhos com a realidade. Uma boa parte dessa geração reformou-se para aproveitar as condições vantajosas que ela própria criou para si e deixou às futuras gerações um país que mais parece um nó-cego, um país em que muito do que é fundamental ao desenvolvimento foi transformado num laboratório ideológico anacrónico, onde se tentou inventar uma sociedade imaginária inspirada mais na obra “Alice no país das maravilhas” do que em qualquer realidade existente tão elogiada em revistas do tipo “Sputink” e “Vida Soviética”.
Mas não pensemos mais nisso, a culpa é da ministra, desta, da anterior e dos próximos, e de todos os primeiros-ministros (excepto Vasco Gonçalves) que tanto se empenharam em destruir o país da Alice.