domingo, abril 20, 2008

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Desenho da calçada na Avenida da Liberdade, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Biswaranjan Rout - AP]

«A protester jumps over burning tires in Bhubaneswar, India. Hundreds gathered to block traffic following a clash over a temple festival Thursday. » [Washington Post]

JUMENTO DO DIA

A pobreza da primeira-dama

Maria Cavaco Silva deve ser a primeira esposa de um Presidente da República que é capaz de se manifestar desinteressada pelas questões sociais, mesmo que estejam em causa algumas das piores ilhas de miséria do país. Depois de várias primeiras-damas intervenientes temos em Belém uma Dona Gertrudes, as suas palavras a propósito de um estudo do ISCTE faz-nos pensar que estava na Madeira integrada num passeio turístico da terceira idade e não enquanto esposa de um Presidente da República. Triste e lamentável, enfim, a democracia só nos permite escolher o Presidente da República, a esposa foi ele que escolheu.

«Solicitada a comentar o cenário traduzido pelo relatório, Maria Cavaco Silva disse "não gostar de números". "Como não falei com o ISCTE não posso responder. Mas honestamente não acredito nisso. Não li o relatório, nem vou lê-lo! As pessoas da Segurança Social que falaram aqui comigo disseram-me que vão entrar em contacto directo com o ISCTE. Mas isso é com elas, não é comigo. Não é a mulher do Presidente que vai ter com o ISCTE pôr os seus números em causa", afirmou. » [Diário de Notícias]

COINCIDÊNCIAS DO ARCO DA VELHA

O advogado da acusação que conseguiu levar a julgamento vários agentes da PJ a julgamento no por suposta tortura de Leonor Cipriano, a algarvia condenada pela morte da filha Joana, foi "apanhado" a tentar fazer entrar na prisão meia dúzia de pastilhas de anfetaminas. O advogado foi entregar os pertences de uma detida, a pedido desta e da ex-senhoria, e dentro de um estojo de óculos iam as pastilhas. Não só o esconderijo era mais do que evidente, como esses mesmos pertences tinham sido alvo de buscas pela PJ, isto é, os que os superpolícias não descobriram foi descoberto por um agente dos serviços prisionais.

Eu não acredito em bruxas, mas que as há lá isso há.

Da próxima vez que qualquer advogado tencione patrocinar uma causa contra agentes da polícia deverá ter muito cuidado com o sítio onde põe os pés, não lhe vá acontecer mais alguma coincidência destas.

A ANEDOTA DO DIA

Patinha Antão também é candidato à liderança do PSD.

CAVACO NO ESTRANGEIRO

«Os relatos da longa visita de Cavaco Silva à Madeira - uma semana inteira, que a agenda divulgada está longe de justificar - deixaram-me a estranha sensação de que o Presidente está de visita a um país estrangeiro: uma espécie de Palop, só que um Palop muito especial onde pagamos um alto preço por a bandeira nacional ainda flutuar onde o governo local consente.

A visita começou mal antes mesmo de começar. Primeiro, porque foi antecedida de uma outra da segunda figura do Estado - essa anémona política que é Jaime Gama - que resolveu entronizar o dr. Jardim como símbolo supremo da vida democrática: o presidente do Parlamento nacional propondo como exemplo alguém que trata o parlamento regional como um lugar onde coabitam um bando de eunucos às suas ordens e “um bando de loucos” que se atreve a pôr em causa os ensinamentos do querido líder. Depois, porque antes mesmo de embarcar, já Cavaco tinha feito divulgar um comunicado anunciando ao que ia: elogiar a ‘obra’ do dito líder. E, enfim, porque, à partida, já o Presidente sabia que a sua agenda era determinada pelo dr. Jardim e de acordo com os seus desejos: estava afastado da Assembleia Regional, para que os “loucos” não envergonhassem a Região; estava afastado das traseiras da obra de sucesso do querido líder, onde entre 20 a 30% da população vivem abaixo do limiar de pobreza e em condições que deveriam obrigar o Presidente da República a perguntar alto e bom som para onde foi o dinheiro, além dos túneis e viadutos para encher o olho; e, finalmente, porque apenas lhe era consentido - e ele aceitou - receber a oposição representada no parlamento regional em “encontros informais”, no hotel onde Sua Excelência se hospedava, tal qual como receberia amigos ou conhecidos locais. E Cavaco Silva - o “sr. Silva” de Alberto João Jardim - aceitou tudo isto, muito mais do que é normal aceitar numa visita ao estrangeiro.

A visita de Cavaco à Madeira é uma nódoa que não sairá tão cedo, um momento de vergonha e capitulação que veio manchar uma Presidência até aqui pacífica, louvada e isenta de riscos. Mas, na primeira vez em que tinha de correr riscos políticos e assumir-se como representante primeiro da nação portuguesa, Cavaco Silva mostrou a massa de que é feito. E deixou muitas saudades de Presidentes com coragem e capazes de distinguir aquilo que, às vezes, é essencial e de que não há forma de fugir. Tivemos dois desses: Eanes e Mário Soares. Cavaco não tem esse instinto democrático inato: é um democrata por educação, não por natureza. Já o sabíamos, mas foi penoso ter de o recordar e logo a pretexto desta fantochada interminável e menor que é a longa chantagem de trinta anos que o dr. Jardim exerce sobre os órgãos de soberania e a política portuguesa.

O que eu gostava que um Presidente da República do meu país fosse fazer à Madeira era que, em lugar de se juntar ao coro dos elogios à ‘obra’ do dr. Jardim, tivesse um elogio para os portugueses que, trabalhando e pagando impostos ao longo de trinta anos, contribuíram para que a ‘obra’ se fizesse e para que o dr. Jardim fosse sucessivamente reeleito à conta disso. Que tivesse a coragem de resgatar a dívida de gratidão que a Madeira tem para com Portugal e que tem sido paga pelo dr. Jardim com intermináveis insultos e provocações, como se fosse nosso dever pagar e calar em troca do privilégio de a Madeira continuar portuguesa. Gostava que o Presidente explicasse aos madeirenses que ser português não é o resultado de uma conta de merceeiro, em que se pesa o deve e o haver e em que se reivindicam todos os direitos e se exige isenção de todos os deveres. E que, a continuar por este caminho, chegará o dia em que os portugueses vão exigir, não a “autonomia sem limites” de que falava o infeliz Luís Filipe Menezes, mas sim a independência da Madeira: a independência declarada por Portugal, entenda-se; não a independência declarada pela Madeira. Que chegará o dia em que os portugueses se vão perguntar por que é que hão-de continuar a sustentar o poder, os negócios e o exibicionismo mediático daquelas figuras patibulares que esperavam Cavaco no aeroporto do Funchal. A mim, se me perguntarem se quero continuar a pagar impostos para sustentar esta ‘autonomia’ da Madeira, representada e usufruída por aquela gente, eu respondo já que não. Que vão à vida deles e que arranjem quem lhes pague as contas, porque a mim nunca me pagaram para ser português nem eu aceitaria.

Cavaco Silva deveria ter mais cuidado, mais sensibilidade política e mais noção de Estado ao afirmar que “nenhum português contesta hoje a autonomia regional”. Qual autonomia: a que custa 60, a que custa 90 ou a que custa 120 milhões por ano?

Eu faço parte de um grupo, só aparentemente minoritário, dos que não acham o dr. Alberto João Jardim “engraçadíssimo”. Não lhe acho mesmo piada nenhuma. Portugal já não é, felizmente, aquela tristíssima gente que vimos nas reportagens televisivas desta semana à espera da comitiva dos drs. Cavaco e Jardim. Aquilo é o Portugal no seu pior - inculto, ignaro, subserviente perante o poder, mendicante, reverente, alimentado a ‘sopas de cavalo cansado’ e vendendo o voto por um chafariz. E também não sou sensível àqueles supostos esgares de humor de Cavaco Silva, debitando banalidades grandiloquentes, quando desce ao ‘povo’, protegido por um eterno esquadrão de gorilas que jamais dispensa. Acho tudo aquilo uma fantochada, o Américo Tomás revisitado num país que eu desejo para sempre defunto e sepultado.

Esta viagem de Cavaco à Madeira serviu para me explicar, se eu não soubesse já, a razão pela qual jamais votei ou votarei neste homem. Porque, ao contrário do que ele parece pensar, não é o cargo que está ao serviço dele, mas ele que deveria estar ao serviço do cargo. E não esteve.

P.S. 1 - Exit Menezes: fez muito bem, foi um erro de «casting», de dimensão política, que não podia ter solução boa à vista. Foram seis meses de total asneira, de cata-vento sem sentido, de gritante impreparação política. Que volte àquilo que fez bem e que leve com ele a tropa-fandanga do Cunha Vaz, o Ribau Esteves, o Branquinho, o Pedro Pinto, o Rui Gomes da Silva e, por favor, o Santana Lopes.

P.S. 2 - Jerónimo de Sousa foi a Angola e voltou com a certeza de que o Governo local e o MPLA estão empenhados na luta contra a corrupção. Também Bernardino Soares tinha ido à Coreia do Norte e voltou com a convicção de que aquilo era uma democracia. O PCP acredita mesmo que somos todos idiotas?

P.S. 3 - Apenas «pro bono»: fui director da Fernanda Câncio na ‘Grande Reportagem’ durante vários anos. Demo-nos o pior possível, pessoalmente. Mas nunca tive uma dúvida, nem tenho, de que é uma excelente jornalista, séria e competentíssima. Contestar a sua contratação pela RTP, com base em ligações pessoais, é simplesmente abjecto. Quando a direcção do PSD desce a este nível, o melhor mesmo é desaparecer do horizonte.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A GRANDE MANOBRA

«Luís Filipe Menezes anunciou anteontem à noite a sua demissão da presidência do PSD. Usou, como era de prever, a fórmula de Santana. Disse que recebera um partido "em estado comatoso" e que, em seis meses, tinha recuperado "a iniciativa política" no Parlamento e no país. Disse também que, desde o "primeiro minuto", fora "vítima" de uma "oposição interna diária, permanente, pouco corajosa" - da "pior campanha política" de sempre. Mas não disse uma palavra sobre si próprio. Não admitiu um erro, uma responsabilidade, um acto polémico ou ambíguo. A perfeição dele não está em causa. Tudo sucedeu por causa da malvadez do próximo. Ele é um inocente, que "não mata ninguém pelas costas". Quem "mata pelas costas" são os traidores que o mataram a ele.

Este homem, perseguido sem razão e martirizado sem misericórdia, já no extremo do ânimo e da paciência, resolveu - compreensivelmente - desistir. Quinta-feira confessou: "Para mim chega. Basta." Ia para casa, ou para Gaia, e não se tornava a candidatar a "chefe" do PSD. Ponto parágrafo. Só que não. Só que, tudo visto e considerado, como explicaram os comentadores, Menezes tenciona voltar. A cena da demissão não passa afinal de uma manobra. Marcando a eleição, directa, para 24 de Maio, Menezes não dá tempo ao "inimigo" para se organizar e espera que uma "vaga de fundo" (da sua gente como é óbvio) o devolva em triunfo à presidência, com mais "legitimidade" e força. Portugal, que julgou assistir a um melodrama, assistiu de facto a uma farsa.

Isto devia desqualificar um político. O talento histriónico não substitui a seriedade e o país não é, em princípio, uma audiência de telenovela. Infelizmente, Menezes não se coíbe com esta espécie considerações. Depois do "sacrifício", seguiu para um jantar de propaganda, para garantir que "as pessoas começam a confiar no PSD" (pelo menos, 26 por cento) e esclarecer que saíra por causa de "meia dúzia de iluminados". Contra a vontade das "bases", que, evidentemente, o amam. Menezes, como certos dos seus notórios predecessores, precisa para sobreviver de um clima de excitação e de instabilidade. Ganha com a demagogia e com a guerra. Perde com a rotina democrática, que deixa à mostra a sua incompetência e o seu delírio. Estes meses vão ser bons meses para ele.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PSD-M EXIBE CAVACO SILVA

«Nos dois concelhos, a maioria PSD não convidou os vereadores da oposição. Por entre os banhos de multidão, as palmas, as flores, as cantorias, o folclore, talvez o Presidente da República não tenha dado por isso, mas João Carlos Gouveia, líder do PS/M, vereador em São Vicente, juntamente com a oposição municipal "proscrita pelo PSD", assistiu à passagem do Chefe de Estado concluindo ser esta "mais uma atitude do partido do poder que ofende o professor Cavaco Silva. No fim, "os assessores do senhor Presidente da República vieram cumprimentar-nos", disse ao DN. » [Diário de Notícias]

Parecer:

É lamentável como Cavaco Silva se deixa instrumentalizar por gente que não sabe respeitar a democracia, dando apoio implícito a gestos inaceitáveis.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se junto da Presidência da República.»

CARVALHO DA SILVA AJUDOU NO ACORDO NA EDUCAÇÃO

«No dia 29 de Março, na altura do Governo Presente em Viseu, o ministro do Trabalho telefona a Manuel Carvalho da Silva pedindo-lhe um encontro, que acontece no gabinete do ministro. Tinham passado 11 dias sobre o encontro da delegação da CGTP com o primeiro-ministro, em São Bento, onde a guerra na Educação fora aflorado. Os cem mil manifestantes que se juntaram no Terreiro de Paço foram a almofada necessária para que Carvalho da Silva pedisse “uma saída para este conflito”, sem a qual, terá deixado claro, não haveria possibilidade de acalmar todos os outros sectores. Sócrates, por seu lado, não deixou passar a oportunidade de ter pela frente o líder sindical para solicitar a sua intervenção na resolução de um problema que, a agudizar-se, não traria senão prejuízos para ambas as partes. Carvalho da Silva foi sensível à argumentação do primeiro-ministro, talvez ‘sugestionado’ pelo facto de estar em curso a revisão do Código Laboral - de resto uma das prioridades na agenda que a CGTP deixou em São Bento - e de os sindicatos, participando na solução, ganharem a médio prazo créditos sobre o Governo.» [Expresso assinantes]

Parecer:

O acordo pareceu-me demasiado fácil.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Elogie-se o gesto de Carvalho da Silva.»

SÓCRATES MANDOU JARDIM À FAVA

«José Sócrates não tem prevista nenhuma deslocação à Madeira até ao final do seu mandato, em 2009. Apesar dos esforços de Cavaco Silva, que esta semana visitou o arquipélago com a missão assumida de levar a paz às relações entre governos (o da República e o da Região), São Bento deixa claro: o primeiro-ministro está interessado em manter uma “boa relação institucional” com a Madeira, mas não mais do que isso. A Alberto João Jardim “não se mostram os dentes”, é a explicação avançada.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Convenhamos que depois de Cavaco optar por discursos sobre meteorologia ainda conseguisse que Sócrates fosse à Madeira para o beija-mão a Alberto João.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se a decisão de Sócrates.»

GALP RECORRE A MÚSICA DE BOB DYLAN

«Bob Dylan vai entoar a canção de apoio da Galp Energia à selecção nacional de futebol, da qual a marca gasolineira é patrocinadora. A música ‘Paths of Victory’ não é um original criado para a Galp e já integrava o álbum ‘The times they are a-changin’, editado em 1964.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Têm bom gosto.

O DONO DE ABRIL

«O secretário-geral do PCP disse este sábado que Portugal «perde muito» com o Tratado da União Europeia, considerando a sua assinatura dois dias antes da celebração da Revolução de 1974 como «mais um acto de provocação a Abril», noticia a Lusa. » [Portugal Diário]

Parecer:

Este Jerónimo de Sousa acha que o 25 de Abril é propriedade do PCP.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Diga-se ao tio Jerónimo que tenha juízo.»

O "BARACK OBAMA" DO PSD

«Pedro Passos Coelho, candidato à liderança do PSD, está a reunir apoios entre vários sectores do partido que vêem nele um sinal de ruptura e, até, como foi dito, o «Barack Obama» dos sociais-democratas, noticia a Lusa.

Esta sexta-feira o antigo líder da JSD tinha reunido os apoios influentes de Miguel Relvas, membro do governo de Durão Barroso, do economista Nogueira Leite, secretário de Estado com Cavaco Silva, do deputado Almeida Henriques e da ex-chefe de gabinete de José Luís Arnaut, Rita Marques Guedes. » [Portugal Diário]

Parecer:

Continuo a preferir a escolha de Sarkozy por Menezes, sempre há a Bruni.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se uma gargalhada.»

O JUMENTO NO TECHNORATI

  1. O "Pontos Soltos" dá destaque ao post dedicado à luta pela liderança do PSD.
  2. O "Cu-Cu" gostou da futura ministra italiana.
  3. O "Agora Blogo Eu" está preocupado com os problemas ortopédicos de Ana Benavente.
  4. O "Largo das Alterações" faz uma boa reflexão sobre o que não mudou em Portugal.
  5. O "Varal de Idéias" pescou uma foto d'O Jumento.

LEVI VAN VELUW

A REUNIÃO PRIVADA DO PAPA COM AS VÍTIMAS DOS ABUSOS SEXUAIS [Link]

MANIX INTENSE