O livro de análise económica que Cavaco Silva vendia nos seus tempos de professor está para a economia como os livros de ciências da natureza do ensino básico estão para os livros de medicina. E é com base nesses princípios elementares que se tenta explicar um sistema económico que todos os dias nos surpreende com novos fenómenos, novos comportamentos dos agentes económicas e novas mutações à escala mundial.
A verdade é que os economistas têm muitas dificuldades em perceber o passado e em prever o futuro. A história do pensamento económico é uma sequência de grandes economistas a tentarem explicar o mesmo fenómenos, apesar de na sua essência a economia capitalista não ter mudado muito nos seus fundamentos cada corrente económica foi a melhor explicação na sua época, a todos foi dada a razão desde Quesney a Milton Friedman. Sucede na chamada ciência económica o mesmo que o futebol, o que é verdade hoje deixa de o ser amanhã o mesmo acontecendo às previsões em que é a verdade a velha afirmação de João Pinto, antigo jogador do FCP, prognósticos só depois do jogo.
Todos os economistas conseguiram prever e explicar a actual crise económica, mas só depois de ter acontecido, um ou outro, entre muitos milhares, previram-na mas a verdade é que se um economista previr uma crise económica de seis em seis meses mais cedo ou mais tarde acerta. Alguns vão lembrar-nos que fulano de tal acertou na crise, mas esquecer-se-ão das vezes que falharam. Sucede o mesmo com os políticos, estão sempre a prever uma desgraça para a economia e de vez em quando acertam, depois vêm dizer que avisaram mas ninguém os ouve.
Vem isto a propósito da posição dos 28 economistas (diria quase 30 mas não conseguiram chegar a um número redondo), nunca encontraram uma solução para os problemas da dependência externa, não previram a desgraça (a não ser Medina Carreira que já previu todas as desgraças que vão acontecer em Portugal nos próximos cem anos). Já ficaria contente se conseguissem prever as consequências do processo de integração económica na Península Ibérica e o impacto que isso terá na economia portuguesa, e nem lhes exijo que considerem dois cenários, um com e outro sem TGV.
Tenho muitas dúvidas sobre previsões económicas feitas com recurso à regra de três simples, sem ver a economia em permanente mutação. Tenho muitas dúvidas em relação a previsões económicas feitas por economistas que em vez de dizerem o que fazer optam por ser especialistas nos movimentos da mão invisível e só têm certezas sobre o que não fazer.