quinta-feira, junho 11, 2009

Exemplos

No seu discurso enquanto Presidente da Comissão do Dia de Portugal António Barreto exortou os portugueses, disse:

«Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo “ethos” deveria ser o de servir.»

Apelou a que “políticos, empresários, sindicalistas e funcionários” usem menos da palavra e optem por dar o exemplo. Ora, o que não tem faltado na sociedade portuguesa são exemplos.

Poderia começar pelo exemplo do próprio António Barreto, há uns tempos atrás o sociólogo ficou muito excitado com as mentiras contidas num livro dedicado à guerra colonial e usou essas mentiras como se verdades universais se tratassem para dar largas à sua visão da história. Supostamente era uma carta dirigida por Rosa Coutinho a Agostinho Neto onde o primeiro, depois de "reunião secreta com os camaradas do PCP", ordenava ao presidente do MPLA aterrorizar "os brancos [portugueses], matando, pilhando e incendiando." E exortava: "Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos." Apesar e há muito se conhecer o conteúdo e a falsidade dessa carta António Barreto usou-a e apesar de todos os desmentidos tardou duas semanas a pedir desculpa.

Outro bom exemplo vem do meio cavaquista que agora tanto aprecia António Barreto, é o caso de Dias Loureiro que é um verdadeiro pote de bons exemplos. Ainda esta semana soubemos através do Correio da Manhã que Dias Loureiro é um dos ex-políticos mais pobres do país, tão pobre, tão pobre que nem tem uma barraca na Pedreira dos húngaros em seu nome, talvez por ter ido à falência durante a sua passagem pelo BPN. Outro bom exemplo que deu ao país foi o pedido de demissão do Conselho de Estado, um pouco tarde, quando já se tinha esgotado a tentativa de Cavaco de o apresentar como inocente, mas, enfim, pediu a demissão.

E o que dizer dos exemplos de humildade dos que deixam a política para provarem aos portugueses que enquanto andaram nela sacrificaram o seu bem-estar pois, como se tem vindo a constatar, são gestores de sucesso. Ninguém imagina quanto é que personalidades como António Vara, Jorge Coelho, Joaquim Ferreira do Amaral e muitos outros. Que melhor exemplo nos poderiam ter dado senão adiarem as suas brilhantes carreiras para darem o seu melhor de forma desinteressada como políticos?

Não são apenas os políticos que no dão grandes exemplos, dos funcionários públicos que também foram visados por António Barreto nos chegam bons exemplos. Um dos maiores símbolos da luta pela liberdade de expressão é um tal professor Francisco Charrua que se tornou num herói por ter chamado “filho da p…” a José Sócrates. Até estranho que Cavaco Silva ainda não o tenha condecorado com a Ordem da Libedade ou com a medalha de mérito educativo.

E por falar em linguagem digna dos nossos melhores poetas o que dizer do procurador que há poucos meses disse tudo o que lhe apeteceu a um agente da PSP e acabou por ser ilibado num processo aberto no Ministério Público. Ficámos a saber que a pobre alma andava desorientada com um divórcio e que por isso ganhou o direito de dizer o que lhe ia na alma.

Ainda há poucos dias Cavaco Silva deu-nos um exemplo ao queixar-se de que até tinha perdido dinheiro no BPN e ainda por cima antes da crise financeira e apesar de ter feito um negócio com acções da SLN onde, segundo o jornal Expresso, ganhou mais do dobro do que investiu. Que melhor exemplo nos poderia ter sido dado por um Presidente do que ser a primeira vítima do BPN.

Exemplos e espécimes exemplares são coisa que não falta neste país.