terça-feira, junho 30, 2009

O país da indecisão

O pior que se pode fazer num país com escassos recursos e num mundo em permanente evolução é nada decidir, uma decisão tardia ou uma não decisão podem ter consequências mais graves do que uma má decisão. Pode-se questionar a estratégia de betão de Cavaco Silva (que agora defende estradinhas salazaristas) mas a verdade é que se Cavaco tivesse gasto todos os fundos comunitários neste momento haveriam muitos mais BMW e analfabetos, do mal o menos, sempre se aproveitou qualquer coisa, o que não sucedeu com os fundos do FSE.

Pelos mais variados motivos uma boa parte dos líderes deste país gostam que nada se decida, mesmo que isso signifique para uns que o país tenha sido congelado em 1975 e para outros se mantenha pobre e atrasado como a direita tanto aprecia.

A esquerda conservadora, incapaz de mudar ideologicamente, odeia qualquer desenvolvimento, qualquer progresso que torne os seus valores ideológicos e romantismos herdados do século XIX ainda mais arcaicos do que já são. Passam a vida a tentar encontrar sinais que confirmem as certezas bebidas no “socialismo científico”, esperam que o mundo volte aos tempos da Revolução de Outubro.

A direita gosta de cultivar o dogma da incompetência da esquerda, herdou do fascismo o desprezado pelas ideias alheias, a certeza de que só na direita há competência e capacidade de decisão. A esta postura arrogante junta-se o mecanismo da corrupção, que enriqueceu uma boa parte dos cavaquistas (eram tão corruptos que construíram um banco e roubaram o próprio banco), para uma boa parte desta direita a luta pelo poder não passa de uma disputa de comissões e outras benesses.

Nenhuma grande decisão em Portugal é adoptada no momento certo, é adoptada quando se torna inevitável e quando o atraso com que foi adoptada elimina quase totalmente os benefícios daí resultantes. Não só somos um país com um problema de atraso, como o processo de decisão é gerador de atraso.

Tudo serve para impedir que se decida, para adiar a decisão para as calendas gregas ou, pior ainda, para que essa decisão proporcione benefícios indevidos. Alguém duvida de que Lisboa terá um novo aeroporto? É curioso ver como direita e esquerda se têm entretido a evitar que se decida o que quer que seja.

O problema era da localização até que Cavaco Silva tomou posição e fizeram-se estudos de viabilidade e concluiu-se pela construção em Alcochete. Foram poucos os que defenderam a manutenção da Portela e os que defenderam esta posição foi por considerarem o impacto negativo da deslocalização do novo aeroporto.

Depois veio a crise e Manuela Ferreira Leite mudou de posição, começou por defender que o dinheiro deveria ser distribuído pelos pobres, depois disse que não havia dinheiro, mais tarde propôs que estas decisões resultassem de um pacto entre PS e PSD e, por fim, argumentou com o endividamento externo. Foi então que Cavaco Silva alinhou pelo mesmo argumento e defendeu que em vez de grandes obras o país deveria construir poucas estradas, quase disse que deveríamos substituir a Portela por um aeroporto da LEGO.

Temos, portanto, um presidente que põe o país a estudar a localização do novo aeroporto e que um ano depois defende que nada deve ser construído, provavelmente porque quer reservar essa decisão para um governo em que seja ele a mandar.

A verdade é que muitos dos nossos políticos se estão nas tintas para o país, acham que as grandes decisões devem ser tomadas em função dos seus próprios interesses políticos ou, pior ainda, dos seus interesses pessoais. Mais do que discutir o que fazer uma boa parte das nossas elites está interessada em que nada se faça, que nada se decida.

Se em vez do Marquês de Pombal fossem estes políticos a governar Portugal no tempo do terramoto, Lisboa ainda estaria por reconstruir ou teríamos duas cidades, uma pequena cidade de Lisboa onde é a Baixa e um imenso bairro de palacetes algures para os lados da Quinta da Marinha.