Pelos mais variados motivos uma boa parte dos líderes deste país gostam que nada se decida, mesmo que isso signifique para uns que o país tenha sido congelado em 1975 e para outros se mantenha pobre e atrasado como a direita tanto aprecia.
A esquerda conservadora, incapaz de mudar ideologicamente, odeia qualquer desenvolvimento, qualquer progresso que torne os seus valores ideológicos e romantismos herdados do século XIX ainda mais arcaicos do que já são. Passam a vida a tentar encontrar sinais que confirmem as certezas bebidas no “socialismo científico”, esperam que o mundo volte aos tempos da Revolução de Outubro.
A direita gosta de cultivar o dogma da incompetência da esquerda, herdou do fascismo o desprezado pelas ideias alheias, a certeza de que só na direita há competência e capacidade de decisão. A esta postura arrogante junta-se o mecanismo da corrupção, que enriqueceu uma boa parte dos cavaquistas (eram tão corruptos que construíram um banco e roubaram o próprio banco), para uma boa parte desta direita a luta pelo poder não passa de uma disputa de comissões e outras benesses.
Nenhuma grande decisão em Portugal é adoptada no momento certo, é adoptada quando se torna inevitável e quando o atraso com que foi adoptada elimina quase totalmente os benefícios daí resultantes. Não só somos um país com um problema de atraso, como o processo de decisão é gerador de atraso.
Tudo serve para impedir que se decida, para adiar a decisão para as calendas gregas ou, pior ainda, para que essa decisão proporcione benefícios indevidos. Alguém duvida de que Lisboa terá um novo aeroporto? É curioso ver como direita e esquerda se têm entretido a evitar que se decida o que quer que seja.
O problema era da localização até que Cavaco Silva tomou posição e fizeram-se estudos de viabilidade e concluiu-se pela construção em Alcochete. Foram poucos os que defenderam a manutenção da Portela e os que defenderam esta posição foi por considerarem o impacto negativo da deslocalização do novo aeroporto.
Depois veio a crise e Manuela Ferreira Leite mudou de posição, começou por defender que o dinheiro deveria ser distribuído pelos pobres, depois disse que não havia dinheiro, mais tarde propôs que estas decisões resultassem de um pacto entre PS e PSD e, por fim, argumentou com o endividamento externo. Foi então que Cavaco Silva alinhou pelo mesmo argumento e defendeu que em vez de grandes obras o país deveria construir poucas estradas, quase disse que deveríamos substituir a Portela por um aeroporto da LEGO.
Temos, portanto, um presidente que põe o país a estudar a localização do novo aeroporto e que um ano depois defende que nada deve ser construído, provavelmente porque quer reservar essa decisão para um governo em que seja ele a mandar.
A verdade é que muitos dos nossos políticos se estão nas tintas para o país, acham que as grandes decisões devem ser tomadas em função dos seus próprios interesses políticos ou, pior ainda, dos seus interesses pessoais. Mais do que discutir o que fazer uma boa parte das nossas elites está interessada em que nada se faça, que nada se decida.
Se em vez do Marquês de Pombal fossem estes políticos a governar Portugal no tempo do terramoto, Lisboa ainda estaria por reconstruir ou teríamos duas cidades, uma pequena cidade de Lisboa onde é a Baixa e um imenso bairro de palacetes algures para os lados da Quinta da Marinha.