quinta-feira, junho 04, 2009

A Europa não existe

O debate a que assistimos durante a presente campanha eleitoral leva-nos à conclusão de que a Europa não existe, o projecto europeu pouco mais é do que uma manta de retalho que vai sendo por cosida por entidades em que os cidadãos não se sentem representados. Por outro lado os cidadãos também não dão grande importância ao processo de decisão europeia estando alheados dos grandes temas que interessa ao futuro da Europa.

O processo de integração europeia tal como originalmente foi desenhado desapareceu com os últimos processos de adesão, hoje a Europa é uma entidade política artificial cuja gestão corrente cabe a funcionários que ninguém conhece e conduzida politicamente por reuniões de conselho que mais não fazem do que gerir equilíbrios.

Para explicar esta realidade não basta bater nos políticos embora estes dêem uma preciosa ajuda a uma má compreensão da importância política da Europa, quando um candidato promete resolver a crise económica com fundos europeus é natural que os portugueses vejam a Europa como uma imensa mama onde podemos tugir sempre que estamos em dificuldade não se pode esperar que os portugueses entendam a Europa em enquanto projecto político.

A integração económica que inicialmente foi promovida pela União Aduaneira e, posteriormente, pela eliminação das barreiras internas ficou-se por aí, hoje, mais do que antes dos últimos alargamentos, mais do que um mercado a economia europeia é um conglomerado de mercados onde se multiplicam os desvios de concorrência. O investimento e o crescimento deixou de resultar das vantagens resultantes da eliminação de barreiras para se assistir a uma concorrência entre economias, dando lugar a fenómenos de deslocalização em resultados de grandes assimetrias entre sistemas financeiros, sistemas fiscais, custos da mão-de-obra e diferentes níveis de desregulamentação do mercado laboral.

A repartição dos benefícios da integração em favor da coesão económica e social deu lugar à concorrência desleal entre economias e governos, onde se misturam paraísos fiscais com regulamentações laborais incompatíveis com o padrão de qualidade de vida desejável para os europeus, os governantes deixaram de lutar pelo progresso dos seus povos para aderirem a medidas que tornem as economias mais competitivas à custa de direitos sociais. Se algumas fábricas chinesas exportam graças ao dumping na Europa há governos que promovem o dumping social forçado para obterem vantagens competitivas numa economia que de integrada tem muito pouco.

Mas o alheamento dos cidadãos também é da sua responsabilidade, os europeus estão cada vez mais preocupados com o governo da junta de freguesia do que com o governo nacional e muito menos com o governo da Europa. O fenómeno não é novo, se comparada com a abstenção nas presidenciais americanas o a abstenção nas europeias não surpreende assim tanto. E nos EUA o cidadão comum tem muito mais respeito pelo presidente do que os europeus têm por Durão Barroso, aliás, a maioria nem sequer quer saber quem ele é.

Para os nossos políticos as próximas europeias não passam de uma má sondagem, basta ouvir os seus discursos para percebermos que é assim que as entende. Uma má sondagem porque os seus resultados serão distorcidos em consequência do elevado nível da abstenção.