O processo de integração europeia tal como originalmente foi desenhado desapareceu com os últimos processos de adesão, hoje a Europa é uma entidade política artificial cuja gestão corrente cabe a funcionários que ninguém conhece e conduzida politicamente por reuniões de conselho que mais não fazem do que gerir equilíbrios.
Para explicar esta realidade não basta bater nos políticos embora estes dêem uma preciosa ajuda a uma má compreensão da importância política da Europa, quando um candidato promete resolver a crise económica com fundos europeus é natural que os portugueses vejam a Europa como uma imensa mama onde podemos tugir sempre que estamos em dificuldade não se pode esperar que os portugueses entendam a Europa em enquanto projecto político.
A integração económica que inicialmente foi promovida pela União Aduaneira e, posteriormente, pela eliminação das barreiras internas ficou-se por aí, hoje, mais do que antes dos últimos alargamentos, mais do que um mercado a economia europeia é um conglomerado de mercados onde se multiplicam os desvios de concorrência. O investimento e o crescimento deixou de resultar das vantagens resultantes da eliminação de barreiras para se assistir a uma concorrência entre economias, dando lugar a fenómenos de deslocalização em resultados de grandes assimetrias entre sistemas financeiros, sistemas fiscais, custos da mão-de-obra e diferentes níveis de desregulamentação do mercado laboral.
A repartição dos benefícios da integração em favor da coesão económica e social deu lugar à concorrência desleal entre economias e governos, onde se misturam paraísos fiscais com regulamentações laborais incompatíveis com o padrão de qualidade de vida desejável para os europeus, os governantes deixaram de lutar pelo progresso dos seus povos para aderirem a medidas que tornem as economias mais competitivas à custa de direitos sociais. Se algumas fábricas chinesas exportam graças ao dumping na Europa há governos que promovem o dumping social forçado para obterem vantagens competitivas numa economia que de integrada tem muito pouco.
Mas o alheamento dos cidadãos também é da sua responsabilidade, os europeus estão cada vez mais preocupados com o governo da junta de freguesia do que com o governo nacional e muito menos com o governo da Europa. O fenómeno não é novo, se comparada com a abstenção nas presidenciais americanas o a abstenção nas europeias não surpreende assim tanto. E nos EUA o cidadão comum tem muito mais respeito pelo presidente do que os europeus têm por Durão Barroso, aliás, a maioria nem sequer quer saber quem ele é.
Para os nossos políticos as próximas europeias não passam de uma má sondagem, basta ouvir os seus discursos para percebermos que é assim que as entende. Uma má sondagem porque os seus resultados serão distorcidos em consequência do elevado nível da abstenção.