domingo, junho 14, 2009

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Teatro Estúdio Mário Viegas, Lisboa

IMAGEM DA SEMANA

[Ben Curtis/Associated Press]

«A supporter of presidential candidate Mir Hossein Mousavi put a poster of him in front of her face during an election rally in Tehran, Iran, Tuesday.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

Pinto Monteiro

O Procurador-Geral parece estar a concorrer com o Presidente da República e com o primeiro-ministro e não perde uma oportunidade para dar entrevistas e chamar a si o protagonismo político, como se o centro do poder político fosse o Ministério Público em vez do parlamento. É um fenómeno tipicamente terceiro mundista pois nos países com democracias maduras o Procurador-Geral não anda nem quer andar nas bocas dos jornais, ma o nossos jovem vindo de Almeida deslumbrou-se com os salamaleques da capital e parece passar mais tempo nas redacções dos jornais do que no seu gabinete, isto quando não ocupa o seu tempo a receber o jet-set como sucedeu com uma famosa visita de cortesia do então presidente do BCP, um dos bancos envolvidos na Operação Furacão.

Desta vez usou a entrevista para dizer que as coisas estão mal na justiça em Portugal como estão noutros países, como estão noutros sectores do país. Não é verdade, na Itália ocorreu um caso de corrupção no futebol, tudo foi investigado, o julgamento foi feito e as equipas que desceram de divisão já estão a disputar a Liga dos Campeões, por cá o Apito Dourado ainda anda embrulhado e não deu em quase nada, aliás se não fosse a justiça desportiva tudo ficaria na mesma.

Não é verdade, nos outros países não há escândalos como a paragem de processos que ficam a aguardar pelos ciclos eleitorais ou a fuga cirúrgica ao segredo de justiça.

Não é verdade, enquanto nos EUA o Madoff já foi a julgamento por cá a Operação Furacão virou brisa e no caso BPN tudo aponta para que seja o Oliveira e Costa a pagar todas as favas.

Ó SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DOS PRAZERES

Acabe lá com essa idiotice de nos proibir o prazer de fotografar dentro da Tapada das Necessidades, não vá alguém propor que o espaço se passe a designar por Tapada das Máquinas Fotográficas.

Há gente que gosta de proibir e o presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres deve ser um deles, deve sentir-se grande sempre que alguém é obrigado a pedir-lhe autorização para fotografar no local. Não há parque de Lisboa onde não seja permitido fotografar, do Jardim Botânico ao Jardim da Gulbenkian, da Tapada da Ajuda ao Parque de Monsanto.

O único local onde tal não é permitido é a Tapada das Necessidades, provavelmente o Presidente da Junta receia que alguém vá para a Tapada das Necessidades fotografar o ministro dos Negócios Estrangeiros quando vai fazer as necessidades no seu WC privativo no Palácio das Necessidades. É caso para dizer que não havia necessidade.

AVES DE LISBOA

Rola-turca [Streptopelia decaocto]
Local: Parque da Bela-Vista

FLORES DE LISBOA

Rosa do jardim da Fundação Calouste Gulbenkian

7J - A DATA DO ATENTADO ELEITORAL CONTRA O PS

«Se há coisa que ficou clara na derrota confrangedora do PS para baixo da barreira mítica do milhão de votos foi que, mais do que políticas, José Sócrates tem de mudar a forma como as elege, como as comunica e a imagem do seu governo sempre que as justifica. A governação para as estatísticas (na saúde, na educação, na segurança) e a governação show off (glosando medidas que valem por si, como o Magalhães) não valem em nada quando milhares perdem o emprego diariamente ou vêem as suas empresas fecharem. Sócrates devia ter ouvido Cavaco e transmitido a verdade dos factos e da crise de forma clara, mandando calar os ministros que insistem em vender ilusões. O que os eleitores puniram acima de tudo nestas eleições europeias - que os portugueses continuarão a desvalorizar enquanto figuras como José Lello as considerarem "a feijões" (dixit, DN, 11 de Junho) - foi uma certa forma de fazer política. Foi a arrogância do ter sempre certezas sem admitir qualquer discussão (até na escolha de Vital), o quero, posso e mando sem dar ouvidos a quaisquer sugestões, a falta de humildade para arrepiar caminho da maioria dos ministros. E é por isso que boas reformas, boas decisões e opções estratégicas correm o risco de cair nestes três meses em que o Governo, já sem tempo para alterações profundas e acossado pelo aviso de 7 de Junho (7J) e pela pressão da oposição (à esquerda e à direita, com Alegre pelo meio), dificilmente deixará de ceder às tentações eleitoralistas.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Filomena Martins.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A ÚLTIMA FRONTEIRA

«Adez mil metros de altitude e com o céu limpo, durante a noite, parece que toda a floresta se prepara para arder em chamas. São as queimadas, quase todas sem licença nem controlo, com que os sem-terra ou os grandes produtores agrícolas vão devastando, dia após dia, extensas áreas da selva amazónica para a converterem à agricultura. Há qualquer coisa de profundamente inquietante naquele espectáculo de centenas ou milhares de fogueiras ardendo lá em baixo: o pulmão do planeta arde, enquanto os chineses esperam pela soja ou pelo gado que ali há-de nascer e ser criado, onde antes havia a floresta tropical.

Por estes dias, o presidente brasileiro Luís Inácio ‘Lula’ da Silva tem na sua mesa uma proposta do Congresso, a MP 458, que, se obtiver a sua assinatura, representará um retrocesso de trinta anos numa política já de si bastante condescendente de preservação da mata amazónica. A proposta, assim como a situação actual na Amazónia, foram, a semana passada, alvo de uma condenação violenta e concertada de todas as organizações ambientalistas mundiais e brasileiras, com o WWLF e a Greenpeace à cabeça. Mas ‘Lula’, é fácil de perceber, está mortinho por assinar a lei. No seu espírito, não se trata de uma luta entre os ‘ruralistas’ e os ambientalistas, mas entre os sem-terra e os radicais ecologistas. A Amazónia é grande e Lula não vê grandes razões para que ela não vá sendo amputada aos poucos para satisfazer a “legítima ambição” dos 25 milhões de brasileiros que vivem nas margens da grande floresta, ansiando por uma oportunidade de terra, de criação de gado e de fixação na zona. E ‘Lula’ compreende bem o que lhes vai na cabeça: basta-lhe recordar-se do seu passado de “emigrante do pau-de-arara”, fugindo com a mãe e os irmãos de um Nordeste onde só havia seca e fome para vir procurar outro futuro nas grandes cidades. Esse futuro ele encontrou-o, como trabalhador metalúrgico, sindicalista, deputado e, finalmente e contra toda a previsibilidade, Presidente da República. Tem sido, na minha opinião de observador externo, o melhor Presidente que o Brasil já teve desde a ditadura dos generais, mas é demasiado esperar dele uma visão política que vá além das satisfação, a qualquer preço, das necessidades básicas daqueles que lhe são próximos. O ‘povo’ de Lula é o que quer uma oportunidade, uma terra para cultivar e criar gado e, se isso, além do mais, favorece a balança comercial e dá de comer a mais gente, porque não há-de a Amazónia pagar a factura? Só nos dois primeiros anos do Governo Lula, em 2003 e 2004, 51.000km2 da floresta amazónica foram ocupados por ‘posseiros’, à revelia da lei. São esses invasores que a MP 458 vem agora regularizar, permitindo-lhes adquirir, a preços favoráveis, sem licitação e com condições de pagamento excepcional, as terras que eles roubaram ao património colectivo brasileiro que é a Amazónia. Mas não se pense que são apenas os pequenos agricultores sem terra os beneficiados: são todos, as grandes empresas produtoras de gado, os grandes fazendeiros agindo a coberto de testas-de-ferro, gente que nem sequer vive na Amazónia e que bem podiam dedicar-se à criação de gado em tantas outras extensas regiões do infindável território brasileiro. Só que o ecossistema da Amazónia — justamente devido à presença da floresta maciça — garante condições de fertilidade dos solos que são uma tentação a que ninguém resiste. Não resistem os que lá vivem, os produtores de gado e os políticos locais, os tais ‘ruralistas’, que dependem do voto dos que lá estão. E não resiste o Presidente, mesmo que o não quisesse e porque preso dentro de um absurdo sistema constitucional onde a sua base política maioritária não representa mais do que 15% do Congresso. E, por isso, não é apenas a Amazónia que todos os anos é esquartejada mais um pouco: nos últimos três anos, até a ‘preservadíssima’ Mata Atlântica — que outrora cobria todo o litoral brasileiro e entrava pelo interior, até ao coração de Minas, por exemplo — perdeu mais 100.000 hectares para a exploração pecuária. No ano passado, houve um deputado norueguês que lançou o escândalo e a indignação nacionalista no Brasil, ao propor que a comunidade internacional, através das Nações Unidas, comprasse a Amazónia ao Brasil, para garantir a sua preservação. É preciso lembrar que a Amazónia não é apenas o território onde vivem algumas das últimas tribos de índios primitivos do planeta, não é apenas a maior reserva de diversidade de fauna e flora à face da terra, com inúmeras aplicações na medicina e outras áreas, não é apenas a maior bacia hidrográfica que se conhece: é também e sobretudo, um terço das reservas de oxigénio de todos os habitantes deste planeta. No dia que a Amazónia desaparecer, nós sufocamos: nós todos, e os brasileiros também.

Mas a proposta que tanto escandalizou o Brasil não é muito diferente, todavia, daquilo que Lula defende: é apenas menos imoral. Há dias, o Presidente brasileiro declarava o seguinte: “Não podemos aceitar o discurso dos países ricos que, enquanto produzem carros da melhor qualidade e comem da melhor qualidade, querem que a gente apenas preserve a floresta para eles terem o oxigénio que pensam que a Amazónia produz. Eles não podem querer que nós apenas preservemos para eles poderem respirar”. Logo, concluía ele, “é preciso que os países, que já devastaram todas as suas florestas, comecem a pagar para que a gente preserve as nossas”. Ele, Lula, “quer preservar a floresta, mas preciso cuidar dos 25 milhões de pessoas que vivem lá e que querem ter carro e geladeira”. Este discurso é um clássico da demagogia terceiro-mundista. Os tais países ricos de que fala Lula — e que no passado, de facto, se comportaram com o Brasil como exploradores das suas riquezas — hoje são quem permite ao Brasil, mesmo em plena crise mundial, manter um superavit da balança comercial e do investimento externo. O que Lula propõe é que o resto do mundo pague ao Brasil para respirar — e porque Deus deu ao Brasil, entre tantas e tantas riquezas mal aproveitadas em benefício de tão poucos, essa imensa riqueza que é a Amazónia. Não é muito diferente do que propunha o deputado norueguês. Só que, enquanto este propunha comprar a Amazónia ao Brasil, Lula propõe apenas alugar o direito de respirar, mas salvaguardando o direito de tudo continuar na mesma, com o Brasil a roubar todos os anos um pouco mais de área à floresta, para que os 25 milhões de pessoas ou de votos tenham carro e ‘geladeira’. E como para haver carros tem de haver estradas, o Governo brasileiro prepara-se para aprovar também o sinistro projecto da BR-319, uma via rápida que rasgará a Amazónia de sul a norte, a pretexto de não deixar Manaus isolada por terra do resto do Brasil.

E isto faz o Brasil, num momento em que os grandes predadores ambientais à escala planetária — os Estados Unidos e a China — já deram mostras de começar a levar a sério aquilo a que Lula chama displicentemente o “radicalismo ecologista”. Obama está, aparentemente, a inverter de cima a baixo a política grosseiramente ignorante do patético George W. Bush, e os dirigentes chineses começam a aprender com os desastres ambientais causados por projectos megalómanos como a barragem das Três Gargantas e com um crescimento completamente desordenado e selvagem, que no futuro não muito distante haverá um alto preço a pagar por políticas que apenas olham aos interesses imediatos. A história do Brasil é uma sucessão de ciclos baseados numa aposta única em busca de um eterno eldorado que pudesse dispensar tudo o que fosse planeamento, crescimento sustentado, inteligência de gestão: o ciclo do algodão, o do ouro, o da borracha, o do café. Todos acabaram no desastre económico e social, por exaustão natural. É pena que a lição nunca mais seja aprendida. » [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

SÓCRATES CORRIGE DECLARAÇÕES DE RENDIMENTOS

«José Sócrates corrigiu este ano quatro das suas declarações de rendimentos entregues no Tribunal Constitucional como ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território e como deputado, em 1999, 2000 e 2001. Os aditamentos, assinados pelo primeiro-ministro a 24 de Março deste ano, revelam o montante do seu rendimento anual como trabalhador dependente em cada um daqueles anos: o valor, que era omisso nas declarações daqueles anos, oscila entre 79 302 euros, em 2000, e 82 045 euros, em 2001.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Tratando-se de rendimentos legais sobre os quais incidiram impostos não entendo a tentativa de quem usa isto para fazer insinuações, como alguém fez na caixa de comentários. O problema do rendimentos dos políticos são os rendimentos que não declaram porque foram obtidos ilegalmente sou sobre os quais não incidiram os impostos devidos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Esqueça-se o assunto.»

TÍTULO 17

«A líder do PSD vai começar a desenhar o quadro de escolhas de nomes e de propostas-base para as próximas eleições parlamentares. Tendo em conta a experiência e os resultados das europeias, Manuela Ferreira Leite vai revolucionar o partido. Muitas caras novas, discurso apelativo e voltado para o dia-a-dia das pessoas, propostas de governo alternativas e credíveis.

A identificação e a disposição das suas pedras, para o xadrez das próximas eleições legislativas, vai decidi-lo Manuela Ferreira Leite nas próximas semanas. Tal como o fez na escolha do argumentário principal do PSD e na do cabeça de lista para as europeias. " Goste--se ou não se goste dela", comentou um dirigente do PSD ao DN, "ela é a líder assumida do partido, bem ou mal, decide e pronto".» [Diário de Notícias]

Parecer:

O problema é saber o que vai fazer das velhas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Ferreira Leite se seguiu o mesmo critério na escolha do candidato à autarquia de Lisboa.»

TANNI THAI

AMRI