É evidente que Ferreira Leite não está assim tão certa da vitória, os 33% de votos que obteve nas europeias não chegariam aos 30% com a abstenção habitual das legislativas. Mas também é verdade que a direita chegará ao poder se o BE e o PCP mantiverem o score eleitoral alcançado nas europeias o que, aliás, é muito duvidoso.Com uma aliança PSD-CDS Cavaco não terá grandes dificuldades em designar Ferreira Leite como primeira-ministra, já que qualquer aliança à esquerda é inviável. Não faz sentido o PS aliar-se ao PCP ou ao BE, nem nenhum destes partidos aceitaria tal aliança já que a luta que travam pela liderança da esquerda conservadoras obriga a uma lógica de oposição permanente.
Outro sintoma desta euforia da direita que paree contar com o ovo no cu da galinha foi o comportamento de Cavaco Silva que decidiu mandar o prestígio da Presidência da República entrando na luta política de forma quase irresponsável, metendo-se na questão da PT-TVI como se fosse um líder do partido mais interessado em lançar em insinuações sobre o primeiro-ministro do que saber a verdade. Quem actua como actuou Cavaco Silva não quer transparência, quer fazer passar uma mentira. Aliás, se a crise financeira leva Cavaco a defender transparência (esperemos que o seu modelo de transparência não seja o seu negócio com acções da SLN pois esse foi mais próprio de um amigo do trafulha do Oliveira e Costa do que de um presidente) então deveria chamar Pinto Monteiro a Belém e perguntar-lhe porque razão nos EUA o Madoff já está a se julgado e em Portugal o Dias Loureiro nem sequer foi ainda ouvido, nem será pois alguém parece andar a arrastar o processo até às silly season.
Esta arrogância nas hostes cavaquistas que sonham com algo sempre ambicionado pela direita, deter todo o poder e assim fazer tábua rasa da democracia, só pode ter uma consequência, levar muitos eleitores que se abstiveram a dizer não e a participar nas próximas eleições. Como se viu nas europeias o voto em branco, a abstenção, o voto nulo e mesmo o voto castigador só serve para levar a direita ao poder.