quinta-feira, maio 08, 2008

O PCP mudou de estratégia?


Algo mudou na estratégia política do PCP, ainda que não tenhamos ouvido algum discurso de Jerónimo de Sousa ou lido um comunicado do Comité Central. De repente fez-se quase silêncio, até a manifestação da CGTP no 1.º de Maio me pareceu monótona.

De repente desapareceram as posições públicas em defesa da democracia, deixaram de ocorrer manifestações espontâneas convocadas por SMS, deixámos de assistir a “esperas” a Sócrates, até já nem lhe chamam fascistas e outros mimos a que nos estávamos a habituar, os sindicatos deixaram de acompanhar a agenda do primeiro-ministro com manifestações hostis, até a Fenprof parece que se mudou para a UGT.

De repente o PCP mudou de estratégia de marketing político sem nos explicar as razões, a agressividade foi abandonada, para dar lugar a um discurso cuidadoso. Do exterior vieram notícias difíceis, as actividades dos amigos das FARC não ajudam, a possibilidade de os camponeses cubanos poderem comprar um par de botas estilhaçou a imagem de um paraíso imaginário nas Caraíbas, o velho amigo do Zimbabué começa a ser incómodo demais, o facho olímpico foi uma dor de cabeça para quem se converteu tão tardiamente ao maoismo na versão capitalista.

Mas ainda que haja um claro conflito entre o discurso interno e os seus modelos externos, não me parece que seja essa a razão da estratégia, a alteração da maquilhagem para que Sócrates deixe a imagem de sucessor de Lenine, Estaline, Kim Il Sung, Mao e Fidel, para a versão mais dócil do avô cantigas deverá dever-se à aproximação das eleições legislativas. O grande líder ortodoxo metamorfoseia-se em avô cantigas, da mesma forma que o PCP se transforma em CDU, o PCP guarda o seu programa político herdado do século XIX, para apresentar um programa de governo dócil, em nome de uma frente unitária de fachada.

Entretanto a despesa vai ser assumida pela CGTP, que aproveita a reforma da legislação laboral para preencher o calendário das manif, ainda que tenha muito pouco a contestar nesta reforma e sinta muitas dificuldades em explicar porque não apoia as medidas no domínio do combate à precaridade.