quinta-feira, fevereiro 25, 2010

A comissão parlamentar de palhaços e choramingas

O mínimo que se pode concluir do que estamos a assistir no parlamento a propósito da suposta fala de liberdade, para uns de expressão e para outros de imprensa, é um espectáculo ridículo, uma comédia onde se mistura a patetice de deputados, a cagança de alguns directores de jornais e a arrogância de jornalistas.

É quase deprimente ver o director do Expresso ir, anos depois, fazer queixinhas aos deputados dizendo que há uns anos atrás o primeiro-ministro lhe terá telefonado numa sexta-feira numa suposta tentativa de impedir a saída de uma notícia, o primeiro-ministro até terá estado ao telefone durante uma hora. Só espero que José Sócrates não dedique um hora por cada notícia que sai a seu respeito pois o país estaria sem governo há mais de dois anos.

Mas o director do Expresso esqueceu-se de contar e os deputados esqueceram-se de o questionar porque razão o Expresso deixou de publicar qualquer notícia sobre o “caso mensalão” (um caso de corrupção ocorrido no Brasil em que o Grupo Espírito Santo estaria envolvido) desde o momento em que Ricardo Salgado ameaçou o jornal de não voltar a colocar publicidade naquele jornal. Pinto Balsemão e o director do Expresso bem protestaram e afirmaram a independência do jornal, mas a verdade é que nunca mais se ouviu falar de “mensalão” em Portugal, nem o Expresso nem qualquer outro órgão de comunicação social voltaram ao assunto.

Aquilo a que temos assistido é a um espectáculo de cobardia com jornalistas e directores de jornais a irem ao parlamento fazerem queixinhas, mais parecem crianças de um infantário a queixarem-se à professora de que o menino Sócrates lhe puxou o cabelo.

Outro queixinhas foi o José Manuel Fernandes que se esqueceu de quando Ferreira Leite, então ministras das Finanças lhe telefonou furiosa porque o Público deu conta de um negócio estranho envolvendo o edifício da Direcção de Finanças de Lisboa, Ao que parece o jornalista João Ramos de Almeida teve que aguentar a fúria de José Manuel Fernandes por ter feito publicar a notícia num dia em que ele não estava em Lisboa, ao ponto de ter motivado a revolta da redacção do jornal.A verdade é que o jornalismo português está muito longe de ser exemplar em matéria de isenção, quando leio uma notícia favorável a uma empresa nem esperam pela semana seguinte para publicarem a publicidade paga por essa empresa, basta procurar na mesma edição para a encontrar.

Se os directores dos nossos jornais e os seus jornalistas são assim tão intimidados pelo poder, como explicam os milhares de notícias contendo mentiras e insinuações sobre o primeiro-ministro? O regabofe a que temos assistido em relação a alguns processos é tão grande que os directores de alguns jornais deveriam sentir vergonha de irem ao parlamento com queixinhas. Como pode uma jornalista que se diz de investigação (terá assaltado o Ministério Público para roubar cópias de processos?) de falar em falta de liberdade de expressão se há vários anos que vive à conta da publicação de cópias de processos que se encontram em segredo de justiça?

O debate sobre a liberdade de imprensa até poderia ser um debate com muito interesse mas isso implicaria que em vez de chamarem o Mário Crespo que ganha milhares ouvissem os jornalistas que foram despedidos, os que escrevem o que os directores mandam a troco de um contrato precário. Antes de ouvirem choramingas deveriam fazer um estudo apurado sobre o que se publica, a veracidade do que foi publicado, os objectivos político-partidários ou os interesses empresariais que motivam certas notícias ou estão por detrás da linha redactorial de alguns órgãos de comunicação social. Além de ouvirem directores e jornalistas que mais não são do que homens de mão desses mesmos directores, deveriam ouvir também outros jornalistas, se necessário a coberto da protecção da identidade, aí sim, saberíamos muito sobre a liberdade de imprensa em Portugal.