terça-feira, fevereiro 23, 2010

Confiem na justiça, diziam eles

Esta deve ter sido a frase mais ouvida há uns anos atrás, quando a investigação do processo Casa Pia estava no auge, com essa frase pretendia-se sugerir que se deixasse a investigação seguir o seu curso, que permitissem que os magistrados desempenhassem as suas funções, que se aguardasse pela decisão dos tribunais. Recordo-me que os que mais usavam o processo para fins político eram os que mais repetiam a frase, recordo-me também que na época os sindicalistas do Ministério Público se desdobravam nesse apelo.

Como os tempos mudaram, os mesmos que nesse tempo apelavam à confiança na justiça são os que não querem que a justiça funcione, os que dantes queriam levar gente a tribunal querem agora que os julgamentos sejam feitos nos jornais em nome da liberdade de imprensa. Até os sindicalistas do Ministério Público que eram defensores incondicionais do então Procurador-Geral, emitem agora comunicados pressionando e questionando o Procurador-Geral da República.

Os que mais confiavam na justiça são os que agora desconfiam tanto da justiça que até andam a teorizar sobre a legitimidade de violar a lei quando estão em causa valores que elegem como superiores. Agora já não nos dizem para confiar na justiça, dizem-nos para confiar apenas no magistrado de Aveiro e na Felícia Cabrita.

Já não confiam no Supremo Tribunal de Justiça ou nas decisões do Procurador-Geral da República, só confiariam na justiça se tivessem conseguido constituir arguidos os seus adversários políticos ou se, pelo menos, conseguissem forçar a sal demissão.

Pelo menos uma vez estou de acordo com todos eles, não confio nesta justiça feita por gente muito duvidosa, gente que usa os segredos de processos judiciais para montar armadilhas políticas, ente sem escrúpulos que fala em nome da democracia para justificar métodos grotescos próprios de fascistas.

Como posso confiar na justiça se o próprio Procurador-Geral da República não pode confiar nos seus colaboradores tão próximos? Como posso confiar na justiça se dentro de um grupo restrito de seis pessoas em quem o Procurador-Geral confiava houve pelo menos uma que violou a lei e foi entregar o processo aos jornais?

Quanto recebeu o responsável por esta fuga de informação, que objectivos políticos pretendia alcançar? Das duas uma, ou estamos perante um corrupto ao mais alto nível ou face a um criminoso que não hesita em violar a lei?

Confiar na justiça? Sinceramente, confio mais os detidos no estabelecimento prisional de Lisboa do que nesta justiça e mesmo nesta política, pelo menos ali a traição é condenada, não se trai em quem confia em nós como fez alguém da Procuradoria-Geral da República, não se traem os amigos como fez um blogger que para se vender à direita usou as mensagens de mail que recebeu para lançar insinuações.

Vivemos num tempo de podridão e muitos dos que andam a questionar o carácter de personalidades políticas não passam de vermes sem princípios, gente sem princípios, bandidos que recorrem a métodos fascistas para eliminar adversários políticos e até para trair amigos.