sábado, fevereiro 20, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Baixa de Lisboa

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Almeida (imagem de A. Cabral)

IMAGEM DO DIA

[David Guttenfelder-AP]

«Pfc. Elias Prado takes cover from dust stirred up as a helicopter takes off from a Marine base in Marja, Afghanistan, where a coalition operation is underway.» [The Washington Post]

JUMENTO DO DIA

Manuela Ferreira Leite

Depois do que sucedeu com o Provedor de Justiça começa a ser evidente que Manuela Ferreira Leite vai querer condicionar a escolha do novo governador do BP, para que a escolha recaia sobre alguém das bandas do PSD. Só que Manuela Ferreira Leite que Durão Barroso ocupa a vaga portuguesa na Comissão Europeia e que é ao governo e não ao parlamento que cabe a escolha do governador do banco central.

A fixação de Ferreira Leite nestes cargos só pode ter uma justificação, a sua vingança por não ter sido escolhida para presidente da CGD, cargo para o qual o seu nome foi um dos três sugeridos a José Sócrates. Se Ferreira Leite fosse hoje presidente da CGD seria tão exigente?

O ATAQUE AO BLOGUE "CÂMARA CORPORATIVA"

Os ataques por parte de algumas personalidades e blogues da direita ao "Câmara Corporativa" são antigos, começaram pela crítica e insinuações ao anonimato do Miguel Abrantes e ganharam dimensão, agora, com a venda a baixo preço de um dos participantes do "SIMplex".

Parece que descobriram agora que ali há a mão de uma central governamental e a mão de assessores do governo, argumento que não passa de um elogio ao blogue e aos supostos assessores. O blogue é publico e basta uma leitura para se perceber que ali não é usada informação que não seja pública.

O que incomoda a direita não é a suposta participação, é a qualidade da crítica e, pior do que isso, o bom uso da memória. O que eles dizem é algo do género "se o "Câmara Corporativa" fosse escrito por cidadãos comuns não seria tão eficaz, não se lembraria de muito do que se passou no passado, não se lembrariam dos nossos podres".

A verdade é que o "SIMplex" antecipou o resultado das eleições ao ter derrotado e desmontado o "Jamais", uma obra de Pacheco Pereira, a verdade é que anda por aí muito boa gente a defender a liberdade de expressão e que quer calar o "Câmara Corporativa".

A FRASE DA SEMANA

«Apesar de tudo, Sócrates tem uma virtude inestimável: conseguiu fazer despertar um amor pela liberdade de expressão em quem nunca mostrou que lhe tivesse sequer amizade. É bonito que o espírito antidemocrático seja um veículo de democratização. Confuso, mas bonito.» Ricardo Araújo, na Visão

Para quem não conhece bem este Mário Crespo devo informar que não é apenas o apresentador do 260 Minutos" que dar ar de ter sido ele a fazer o trabalho de reportagem, foi também quem deu a voz ao programa África Livre da Renamo, emitido a partir de Johannesburgo nos anos 80. isto é, era a voz de um grupo que fez política recorrendo ao puro banditismo e que raptava crianças para as usar como soldados.

SOU IMPORTANTE (SÓ POR OSMOSE)

«Sinto-me fascinado por pertencer à mais poderosa Imprensa do mundo. Nas televisões e jornais portugueses pode faltar tudo, reportagens, bom gosto, palavras coerentes, compaixão, ironia, tudo, até gente, mas não falta quem valha milhões. E não falo de patrões de Imprensa, falo de jornalistas. Desses, que em todo o mundo se compram com salários medianos, por cá têm legitimamente (ou, ouvindo-os, assim parece) o rei na barriga. Então não é que temos uma pivot televisiva por causa da qual um governo empurrou a PT para comprar a TVI por 150 milhões de euros?! 150 milhões parece-vos muito? Amigos, ainda estamos em peanuts, que é como a CNN diz amendoins quando fala da compra da Saab. O Toyota dos jornalistas portugueses acaba de dizer numa comissão parlamentar que o seu patrão perdeu um negócio de 10,7 mil milhões por causa dele. A última vez que uma administração me chamou à pedra por dinheiro tinha eu bebido Coca-Colas a mais do bar do quarto de hotel. Calculo o pó que Belmiro deve ter ao meu camarada José Manuel Fernandes. Mas o interessante é que a mais poderosa Imprensa do mundo quando vai ao Parlamento diz: "Eu sofri pressões e isso é normal" ou "eu sofri pressões e isso não é normal"... Achismos como os do reformado apanhado pelo microfone de um repórter de rua.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

CAÇA ÀS BRUXAS

«A acusação de tentar interferir na orientação editorial de uma cadeia de TV através de orientações dadas a uma empresa sob tutela governamental é muito grave. É suficientemente grave para ser levada a sério por toda a gente: acusado, acusadores e espectadores. É suficientemente grave para, desde logo, não ser feita sem indícios e intuitos sérios. É suficientemente grave para ser apreciada com gravidade.

Mas nas primeiras audições parlamentares sobre liberdade de informação, anteontem, ficou claro que ninguém ali parece levar a acusação a sério. Ou que ninguém ali acha que se trata de uma acusação séria (talvez porque ninguém ache realmente mal governos interferirem na comunicação social, excepto se forem os governos dos outros?). Assim, convocou-se um pivot de uma TV privada que se queixa de que um jornal privado lhe censurou uma crónica na qual basicamente contava que lhe contaram que o primeiro--ministro, à conversa com um terceiro num restaurante, lhe teria chamado doido (ou maluco?). Em declarações anteriores, o pivot assumira ter decidido não publicar a crónica quando o director do jornal lhe vocalizara por telefone as suas dúvidas sobre ela. No Parlamento surgiu uma nova verdade: foi o director a decidir a não publicação. O pivot lembra-se tão mais perfeitamente quanto estava com a mulher na cama a ler um livro de Mailer sobre Hitler e o telefonema do director do jornal lhe evocou "a banalidade do mal", expressão de Hannah Arendt a propósito do nazismo.

O mal, pois: o pivot garante que o telefonema do director do jornal é uma "censura" por "interferência governamental". Em duas horas de audição parlamentar em directo na TV, ninguém lhe exige que o prove. Exigir ou até solicitar explicações, justificações, factos, é, ficámos a saber, coisa de nazis, não de gente de bem. Muito menos de deputados. Ou jornalistas: no mesmo dia foi notícia um blogue criado para apoiar o PS nas legislativas. Um dos membros passou aos outros mails de "assessores governamentais" com informação sobre actividade do Governo e respectivo argumentário. "Governo montou rede de apoio na Internet"/ "Campanha com meios públicos", dizem duas páginas de jornal que se eximem de explicar por que motivo assessores governamentais não podem responder a pedidos de informação ou participar em campanhas ou até em blogues. Para quê? É mais uma corajosa denúncia da "rede tentacular do Governo", seguida ontem pela revelação de que o tal membro do blogue que recebia os mails foi contratado pelo Governo (muitos meses antes de o blogue começar) para, como economista, fazer um estudo qualquer. Caramba, querem mais quê? Seja quem for que trabalhe para o Governo ou troque mails com pessoas do Governo ou se atreva a "defender" o Governo, está na tramóia, na "rede". É do mal. E ai dos que não o condenam, dos que não o perseguem, dos que não o denunciam, dos que não o cospem e execram, dos que não o abjuram, dos que pedem provas. Arderão na mesma fogueira.

É banal, é. E mete tanto nojo que não se surpreendam se as pessoas não levarem nada disto - nada mesmo - a sério.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

EX-ALEGRISTAS APOIAM FERNANDO NOBRE

«Vários fundadores do Movimento Independente de Cidadãos (MIC), que nas últimas presidenciais apoiaram Manuel Alegre, estão ao lado da candidatura de Fernando Nobre que hoje é formalmente apresentada. Entre os ex-alegristas, ninguém perdoa ao histórico socialista a colagem a José Sócrates. A preparação da candidatura do presidente da Assistência Médica Internacional começou ainda em Dezembro. Logo na altura foi decidido manter oculta a candidatura, apurou o DN. Em Janeiro, no máximo secretismo, foi dado o passo decisivo com a criação dos núcleos distritais de apoio, que estão a desenvolver a recolha de assinaturas.

Jorge Silva, antigo mandatário em Viseu das campanhas de Alegre para a liderança do PS e para as presidenciais, foi dos primeiros a dar a cara pela candidatura de Fernando Nobre. O psicólogo justifica a decisão com o "desencanto" provocado pela actuação de Alegre, que "não se separou dos partidos". Jorge Silva defende um perfil "menos ligado aos partidos" para o próximo Presidente da República. "Mais próximo das pessoas e dos seus reais problemas", diz o ex-mandatário de Alegre, a quem acusa de "não ter hoje os mesmos princípios que tinha em 2006". » [Diário de Notícias]

Parecer:

Isto começa mal para Manuel Alegre, resta esperar que estes "alegristas" não estejam a pensar em usar Fernando Nobre para criar o novo PRD.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pela evolução da candidatura de Fernando Nobre.»

FERREIRA LEITE QUER NOMEAR GOVERNADOR DO BP

«Mas a valsa do adeus tem um compasso de espera. Antes da passagem do testemunho, quer ser ouvida sobre a sucessão de Vítor Constâncio à frente do Banco de Portugal, ao assumir que os partidos da oposição "têm uma palavra a dizer", relativamente "à exclusão de determinados nomes que começam a surgir como boatos, e exigir que uma instituição com o prestígio e a importância do Banco Central não possa ser entregue a qualquer pessoa" mas a alguém que congregue um perfil de "competência, isenção e independência". » [Diário de Notícias]

Parecer:

É mais do que evidente que o PSD vai querer que um dos seus fique com o cargo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Siga-se o exemplo dado pelos governos do PSD neste capítulo.»

O DESPACHO DE PINTO MONTEIRO

«São duas visões sobre os mesmos factos: para João Marques Vidal, procurador do DIAP de Aveiro, algumas escutas telefónicas do processo "Face Oculta" indiciavam a prática do crime de atentado contra o Estado de direito, alegadamente cometido pelo primeiro- -ministro, José Sócrates, e um plano do Governo para controlar a comunicação social. O procurador-geral não concordou. Pinto Monteiro, porém, admitiu que pode estar em causa uma relação "pouco transparente", mas não lhe compete investigar questões do domínio político.

Os despachos que hoje o DN revela são da autoria de ambos os magistrados. Ontem, apesar de várias tentativas, o DN não conseguiu obter o despacho de Pinto Monteiro na sua totalidade - que incluiria as escutas telefónicas a Armando Vara com José Sócrates. Por isso, apenas se transcreve os motivos que levaram o PGR a arquivar o caso, ao mesmo tempo que se mostra (para comparação) os fundamentos do procurador de Aveiro que o levaram a extrair uma certidão do processo "Face Oculta" e a pedir uma investigação sobre o primeiro-ministro.» [Diário de Notícias]

Parecer:

O melhor seria divulgarem tudo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Divulgue-se todo o processo.»

A CANDIDATURA DE FERNANDO NOBRE NA BLOGOSFERA DA EXTREMA-ESQUERDA

Vale a pena passar pelos blogues de gente ligada ao Bloco de Esquerda e ler as reacções à candidatura de Fernando Nobre, dariam um execelente manual de destruição de uma personalidade política, reduzem-no, tratam-no como uma criança, dizem que não vai unir a esquerda. É curioso como é o Bloco de Esquerda que assumiu o ataque a Fernando Nobre e a defesa de Manuel Alegre, até já se esqueceram de que nas últimas presidênciais lançaram a candidatura de Francisco Louçã contra a de Manuel Alegre.

No "Ladrões de Bicicletas" Nuno Teles reduz Fernando Nobre a um inexperiente manipulado nas mãos de um manhoso Mário Soares. Lembra-se das anteriores eleições para dizer que Soares está a vingar-se, mas esquece-se de que o apoio de Louçã a Alegre visa muito mais dividir o PS e a esquerda do que evitar a eleição de Cavaco:

«Mas, cinco anos depois, Mário Soares mostra que não esqueceu. E não perdoou. Mas mostra mais do que isso. Mostra que entre o paroquialismo político e a unidade da esquerda com reais possibilidades de derrotar Cavaco, Mário Soares e a sua "entourage" escolheram o primeiro. De acordo com as notícias que têm vindo a público, Soares terá sondado sete (!) nomes para poder atirar contra Alegre.

Fernando Nobre foi quem aceitou. Para isso terá contribuído o espírito de missão e a admirável militância de Fernando Nobre. Mas, aparentemente, contribuiu também a sua inexperiência política. Todos os outros nomes que Soares sondou perceberam imediatamente que não eram os interesses da esquerda que motivavam a candidatura. E por isso recusaram. Nobre não teve a mesma clarividência e por isso acaba instrumento de um desígnio que não é o seu.» [Ladrões de Bicicletas]

TIMOFEEV C.

AIDES