quarta-feira, fevereiro 03, 2010

O fim de um modelo romântico

A actual crise financeira sobrepõe-se e amplia as consequências da crise em que a economia portuguesa já estava, para não dizer que sempre esteve, a economia portuguesa não encontrou a via do desenvolvimento muito graças a uma visão paternalista do Estado. Os portugueses ainda não perceberam que não será o Estado, seja ele maior, mais pequeno ou mais eficiente que promoverá o desenvolvimento económico.

Mesmo assim uma boa parte da nossa classe política, presa a ideologias que querem comprovar à custa do país, insiste em querer fazer-nos crer que é no Estado que estão as soluções para todos os nossos males. À esquerda temos várias versões de romantismo que clamam por mais impostos para os ricos e um Estado que tudo resolve e todos emprega, como se o filão dos impostos sobre os ricos fosse inesgotável, a verdade é que não são só não são os ricos que mais pagam impostos como são eles os únicos beneficiários das encomendas do Estado. Pior ainda, é bem mais cómodo enriquecer com encomendas estatais do que procurar mercados concorrendo num mercado global.

O resultado de trinta anos durante os quais o paternalismo do Estado fascista deu lugar ao paternalismo promovido por uma esquerda que esconde por detrás do romantismo a incapacidade de se renovar ideologicamente, é um desastre. Um Estado ineficaz que absorve boa parte dos recursos nacionais, um sistema de saúde que não responde às necessidades dos que pagam mais impostos, o sistema de ensino que não responde às exigência da do mundo actual, um modelo de segurança em degradação, a defesa a especializar-se em equipamentos de fachada para vaidade dos generais e uma justiça feita à medida do enriquecimento dos magistrados.

Temos uma economia num beco sem saída, precisa de mais Estado para assegurar o crescimento económico, mas isso só é possível desviando recursos do sector privado para o sector público, isto é, o acréscimo de despesa pública é conseguido ou com mais impostos ou com o aumento da dívida que ninguém sabe como será paga.

Só que de poucos nos serve esta ilusão de crescimento pois fica por resolver outro problema bem complexo que é o desequilíbrio externo. Este desequilíbrio externo só é possível exportando mais produtos, como temos a concorrência da mão-de-obra a baixo custo da China e de outras economia emergentes esses produtos terão de ser mais sofisticados do que as nossas exportações tradicionais. Ou seja, para exportar mais teremos de investir mais em tecnologia e na capacidade técnica dos nossos trabalhadores. Mas como poderão as empresas investir em tecnologias se estão a ser tratadas como vacas destinadas a serem mungidas pelos impostos? Como poderão os nossos trabalhadores serem mais qualificados se o sistema de ensino tem por primeiro objectivo assegurar o bem-estar dos seus profissionais? Como poderão as empresas sobreviver se cada vez que recorrem ao tribunal terão de esperar uma década por uma decisão e pagar chorudas custas judiciais para alimentar as alcavalas da nobreza judicial?

O aumento da despesa do Estado pode criar a ilusão do crescimento económico, assistimos a isso quando a CEE inundou Portugal de ecus, mas os resultados estão à vista, um Estado ainda mais pesado e ineficaz e um sector privado viciado nas encomendas do Estado.