quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Um mero exercício especulativo

Imaginem que o governo de José Sócrates decidia atribuir mais duas licenças de televisão e que entregava a primeira a uma empresa de Almeida Santo e a outra ao Grande Oriente Lusitano. Como reagiriam os que defensores pós-25A da democracia portuguesa?

Comecemos por Cavaco Silva, não é difícil de adivinhar que diria aos jornalistas que o assunto o preocupava e que era necessário assegurar o pluralismo na comunicação social. O seu assessor Fernando Lima iria tomar um cafezinho com um jornalista do Público para lhe dar conta das preocupações do chefe.

Ferreira Leite diria que não lhe tinham dado ouvidos quando alertou para a asfixia democrática, Pacheco Pereira repetiria o que Ferreira Leite disse e Paulo Rangel iria a apnhar o próximo avião para Estrasburgo onde faria mais uma intervenção contra o fim do pluralismo na comunicação social, alertando a Europa para o fim próximo da democracia portuguesa tão dificilmente alcançada por ele e pelos seus pares cavaquistas do PSD.

Os magistrados amigos da louraça jornalista de investigação do 'Sol' receberiam uma carta anónima denunciando que um amigo de Sócrates andava metido num negócio de automóveis importados da Alemanha e, por mero acaso, gravavam as conversas íntimas de Sócrates durante dois ou três meses. Quando tivessem matéria iam a um juíz de instrução que depois de ler atentamente o Código Penal descobriria um cime que se encaixasse nas conversas e enviava as certidões para o PGR. Unes tempos depois a jornalista de investigação conseguia penetrar nos cofres da PGR e descobriria as famosas certidões, cuidadosamente escondidas dos olhares públicos po Pinto Monteiro.

Os professores catedráticos de direito descobririam quye na entrega das licenças havia matéria para suspeitar de crime e perguntariam a Pinto Monteiro porque não fez nada. Mário Crespo convidava a doentinha Manuela Moura Guedes para uns copos e no intervalo fariam uma declaração pública de defesa do pluralismo.

Os blogues da direita juntavam 50 mafarricos e iam manifestar-se junto da Assembleia da República, no blogue a Regra do Jogo alguém descobria que havia ligações do Simplex à empresa de Almeida Santos, onde o deputado Galamba recebia uma avença por conta de pareceres sobre imprensa.

Enfim, caia o Carmo e a Trindade.

Desculpem-me o descuido, esqueci-me de um pequeno pormenor, isto não é um mero exercício de imaginação, neste caso não poderia dizer que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, quando governava este país o actual Presidente da República e ex-sócio da Sociedade Lusa de Negócios (a tal que provocou um buraco de mais de dois mil milhões cujo processo parece ter sido abafado pelo ruído de outros processos) quando era primeiro-ministro decidiu algo muito parecido, atribuiu duas licenças de televisão, uma ao número um do PSD e outra à Igreja Católica que mais tarde a vendeu a um conhecido crente.