sexta-feira, novembro 23, 2012

A ironia presidencial


Num país de graxistas para que um Presidente deixe o pessoal maravilhado com o que faz ou diz não tem de se esforçar muito, todas as suas piadas têm graça e se der um traque um daqueles imbecis, dos que aparecem sistematicamente ao seu lado pensando que ao ficarem na fotografia passam a ser personalidades históricas, corre ao jornalista mais próximo para lhe pedir a gravação de tão inspirada melodia, servirá de toque no telefone para que familiares e amigos pensem que ée um íntimo presidencial.
  
Hoje, o Presidente decidiu ironizar com os que comentam o seu silêncio:
  
«Todos sabem que o silêncio do Presidente da República é de ouro, hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por onça»
 
Imagino que à sua volta a imensa comitiva, incluindo mordomos, enfermeiros e caparros policiais fizeram aquele sorriso que transmite um misto de gozo e de admiração, como se estivessem traduzindo as palavras presidenciais com um “ora tomem!”. O Cavaco disse, o pessoa sorriu com cara de parvo, os jornalistas correram para as redacções, a populaça ouviu e as vacas da Graciosa mostraram um ar feliz de quem vive alegremente no meio de pastos verdejantes.
  
O problema é que se Cavaco afirma que o seu silêncio pode ser vendido na casa e penhores publicitada pelo António Sala ao preço do ouro, o que significa que a esta hora já o senhor Costa do BdP está a negociar com uma fábrica de sabões a possibilidade de transformar o silêncio de Cavaco em barras para que as possa guardar nos cofres das nossas reservas do precioso metal.
 
Em tempos Cavaco disse que algumas acções não valiam nada e matou a bolsa de valores de Lisboa levando muitos portugueses à falência, mais tarde, já como pensionista, dedicou-se à alquimia financeira e transformou lixo em preciosas acções que lhe proporcionaram lucros chorudos, se agora o silêncio vale ouro o homem até a dormir ajuda Portugal.
   
Por acaso discordo de Sua Excelência e não me parece que o silêncio presidencial tenha o valor do ouro, nem sequer o de uma onça de tabaco não queimada. Queimada talvez pois as palavras de Cavaco não só costumam irritar-me os ouvidos como uma baforada de fumo costumam irritar os não fumadores. Não deve ser essa a opinião do Vítor Gaspar para quem o silêncio de Cavaco valeu milhões em dinheiro de subsídios subtraídos de forma inconstitucional aos funcionários e pensionistas, ou aos banqueiros e outros oportunistas que estão enriquecendo de novo com esta imensa transferência de riqueza feita sob a capa do ajustamento.
    
E se o silêncio de Cavaco vale ouro quanto valeu ao país o seu alarido constante no tempo de José Sócrates? Quanto custou ao país a crise política, o agravamento da crise financeira e o chumbo do PEC IV tão zelosamente promovidos pelo sarrabulho de Cavaco Silva?

Aditamento: Quanto terá valido em ouro o silêncio de Cavaco, por exemplo, no dia da greve geral?