De repente a Procuradoria-Geral da República passou a ser um dos locais mais concorridos da capital, são mais os que pedem ao Procurador-geral para os receber dos que se dirigem a Fátima para pedir os favores da Virgem. Dantes o que era possível solicitava-se ao Governo e se este não acatasse as preces ia-se ao Palácio de Belém no caso de se tratar algo do domínio do impossível, um milagre, a solução estava em Fátima. Agora a moda é ir ao Palácio Raton orar perante do altar do Pocurador-Geral.
Tem sido mais fácil ao Vaticano beatificar candidatos santos do que sucedeu com a escolha do último PG, o PSD foi mais exigente com os critérios de escolha do que os advogados do Diabo nomeados pelo Vaticano. E a razão é simples, o perdão da justiça terrena é bem mais eficaz e palpável do que se tem revelado a justiça divina.
Com o processo Casa Pia os políticos perceberam que os despacho dos Procuradores-Gerais podem ser mais eficazes do que os debates parlamentares ou mesmo que os outdoors de uma campanha política. Uma investigação pode ter efeitos mais arrasadores do que uma campanha eleitoral que custa milhões. Foi o processo Casa Pia que permitiu a sobrevivência política do Governo de Durão Barroso e substituiu a liderança do PS, foi muito mais útil do que a poderosa campanha publicitária paga pelo PSD (ou sabe Deus por quem) para levar o Durão Barroso ao poder.
O normal seria os portugueses avaliarem os políticos pelos seus contributos para o progresso do país, a justiça teria um papel marginal condenando os que em vez do interesse do país optam por estar ao serviço dos seus próprios interesses. O normal seria as legislaturas chegarem ao fim e os novos governos serem escolhidos em função dos resultados e das propostas alternativas. Mas com o processo Casa Pia os políticos descobriram que é mais fácil destruir um político com base em suspeições do que propondo alternativas.
Corre-se um sério risco de os portugueses passarem a escolher os políticos mais com base nas informações que lhes chegam com base nas fugas ao segredo de justiça, do que em função da forma como governam ou das alternativas que propõem, e nessa altura quem decide o futuro do país serão os que gerem as fugas ao segredo de justiça, os eleitores não passarão de marionetas nas suas mãos.Para quem não consegue suportar o facto de estar na oposição talvez seja uma boa estratégia, um qualquer processo teria mais efeitos práticos nas sondagens que teimam em ser negativas do que tudo o que se possa fazer para melhorar a sua imagem. Num tempo em que os golpes militares deixaram de ser moda, parece que os processos judiciais passaram a ser a forma mais democrática de mudar governos, até porque em vez de soldados são os próprios eleitores a executar o golpe de estado.