segunda-feira, novembro 13, 2006

Saúde: Grátis ou à Borla? (1)

[Imagem de Marine Link]

Não venho escrever sobre o brilhante anúncio da PT nem reflectir sobre a diferença entre o que é grátis e o que nos sai à borla. Mas eu tenho um termo para distinguir o dinheiro ganho através do vencimento com o dinheiro ganho no jogo, o primeiro gasto-o com cuidado, o segundo esfuma-se num instantes por “dinheiro macaco”.

A Constituição da República determina a gratuitidade dos serviços de saúde, e ainda bem que assim é, basta olhar para a realidade americana para se perceber a diferença. É suposto que os serviços gratuitos são acessíveis quer aos que têm muito, como aos que têm pouco, não são recusados a ninguém, independentemente do custo de um tratamento. Isso é um serviço de saúde gratuito.

É gratuito mas não é à borla, tem custos e esses custos são suportados pela sociedade através da arrecadação de impostos, nos tempos que correm já não há borlas na Casa da Moeda, se o país não tem dinheiro ou cobra mais impostos ou pede emprestado, não pode criar a falsa ilusão de riqueza produzindo mas umas notas.

Talvez mereça a pena recordar o que significa borla e para isso reproduzo o que consta no DicionárioHouaiss da Língua Portuguesa:

  • Borla s.f. (1858 cf. M5) 1 calote passado em prostituta 2 P B PE ajuda (para gozar um prazer ou aproveitar gratuitamente um serviço) “conseguiram uma b. para entrar no teatro” 3 MOÇ falta do professor a uma aula “tivemos uma b. a matemática hoje”; à ou de b. 1 P B PE infrm. de graça; sem pagar “viajar de b.” 2 p.ext P infrm. muito barato “este almoço foi de b.!”.

Vejamos agora a palavra grátis:

  • Grátis adj 2g 2n (1502 CDP 1 33) 1 de graça, gratuito “entrada g.” adv. 2 de graça, gratuitamente “come-se g. naquele local, se conheceres o dono” ETIM at. Gratos "de graça, sem custo"; ver grat-.

Há alguma diferença epistemológica entre ser gratuito e ser à borla, e a maior parte das opiniões que por aí vou ouvindo enquadram-se mais no conceito de “borla”. Não há cidadão português, mesmo entre os que se escapam aos impostos, que na hora do debate não defendam a gratuitidade, pouco importa que os impostos que pagam compensem o que recebem, ou que os recursos que podem ser arrecadados através dos impostos sejam limitados, o que importa é que a saúde seja à borla, que tenhamos a sensação de que não pagamos nada, de que ninguém pagou nada.
Gratuitidade significa solidariedade social, borla significa irresponsabilidade social.

PS: Para continuar.