Capela dos Ossos, Évora
O próximo refendo sobre a questão da interrupção voluntária da gravidez, tal como o anterior, enferma de um erro de base, a ordem da pergunta que é colocada aos eleitores. Eu vou votar sim, quando na verdade estou a votar não, e os que votam não estão, de facto, a votar sim.
uem vota não está a votar sim ao aborto clandestino, sim à prisão de mulheres que fazem em condições desumanas o que as mulheres de quase todos os países desenvolvidos fazem em hospitais e com o apoio de pessoal clínico qualificado. Manter a actual lei é um sim ao actual estado de coisas, em que nenhuma vida é protegida, nem a das mães, nem a dos filhos como defendem os defensores da manutenção das penas de prisão.
Não vou votar sim a nada, não vou votar sim ao aborto porque não há lei que obrigue quem quer que seja a abortar, o que está em causa neste referendo não é um sim ao aborto, é um sim ou um não à situação actual, e eu sou pelo não à condenação das mulheres, pelo não ao aborto clandestino, pelo não á imposição à sociedade de convicções individuais. O que se vai decidir neste referendo não é se as mulheres devem ou não fazer abortos, é se devem ou não ser condenadas se optarem por essa decisão.
Quem vai votar no não está a dizer sim à condenação das mulheres, sim à manutenção de uma lei anacrónica, sim à humilhação das mulheres forçadas ao aborto clandestino ou a viajar para a fronteira em busca de uma lei que respeite a sua decisão. Os que votam sim não desejam que hajam abortos, não estão a dizer sim ao aborto, estão a dizer não à prisão, não à pena de morte executada a frio em quartos de “parteiras”, não estão a dizer sim a nada. Por isso o meu sim é um não ao que actualmente se passa para protecção das “boas consciências”.
Votar sim ao aborto é o que muitos dos que votam não têm feito ao longo dos anos opondo-se a todas as mudanças na sociedade que possam reduzir as situações que conduzem muitas mulheres ao beco escuro do aborto clandestino.
Voto sim porque mas estou a dizer não.