Manuel Alegre, que durante anos andou a armar-se em defensor da cidadania por oposição ao primeiro-ministro do seu partido eleito pelos cidadãos que a que abusivamente se armou em defensor, decidiu fazer aquilo a que em qualquer escola primária se designa por graxa, passou a mão pelo pêlo do PS e fê-lo atacando Cavaco Silva por pressionar o governo. Isto é, quem usou o “milhão de votos” que conseguiu numas presidenciais em que foi derrotado para pressionar e chantagear o governo durante quatro anos, critica agora Cavaco que foi eleito nas mesmas presidenciais por fazer o mesmo em relação ao governo. Enfim, é a vantagem de em vez de estar sujeito a regras constitucionais adoptar as suas próprias em defesa da cidadania.
Cavaco Silva, que há quatro anos anda a fazer de conta que é Presidente da República e de que ainda não sabe se é candidato, usou o seu estatuto de Presidente da República para defender o Cavaco Silva candidato que faz de conta que ainda não é para responder a Manuel Alegre. Se a forma como respondeu revelou um Cavaco esganiçado que perdeu a calma, mostrou também um Cavaco pobre intelectualmente e com dimensão para presidente de uma junta de freguesia.
Cavaco não percebe que quem é inteligente não precisa de dizer que o é e quem sabe de economia acaba no ridículo por passar o tempo a dizer que sabe muito de economia, ainda por cima diz que ainda se lembra do que sabia da matéria com o ar de quem acha que já passou o seu tempo mas ainda sabe mais de economia do que o seu rival. Quem não conhecesse as duas personalidades e ouvisse a resposta de Cavaco Silva poderia pensar que era uma associação recreativa e não um país o que está em causa.
Dizer que sabe muito de economia para reforçar a sua posição como Presidente da República é uma forma um pouco miserável de ver um país, por esta ordem de ideias ainda aparece um médico a concorrer por considerar que o problema do país é do domínio da saúde mental ou mesmo um cónego invocando que só a intervenção divina pode salvar este país. Os argumentos de Cavaco Silva evidenciam quão pequenino é ele enquanto político, pequenino demais para ser Presidente da República de um país como Portugal, estamos muito mal mas não tanto para que tenhamos de voltar a entregar o país ao cuidado de um especialista em finanças, já o fizemos uma vez e os resultados não foram os melhores.
Esta pequena troca de galhardetes puseram uma evidência algo que a nossa classe política insiste em não ver ou em não querer ver, nem Alegre nem Cavaco estão à altura, nenhum dos dois tem dimensão para o cargo de Presidente da República. A campanha eleitoral para as presidenciais vai parecer uma luta no recreio de um lar da terceira idade, com dois teimosos a não perceberem que é tempo de se retirarem e darem o lugar aos que fazem parte do futuro.