O que os especuladores estão fazendo é tentar obter mais juros pelos empréstimos a algumas economias portuguesas, partem do pressuposto de que estando em causa países da zona euro o incumprimento nunca virá a ocorrer e, portanto, o resultado será o aumento dos lucros dos investidores.
Só que o aumento do custo dessa dívida pode conduzir alguns países a uma situação bem mais difícil do que aquela que deu às empresas de rating a oportunidade de estimular a especulação e aumentar a sua própria importância na gestão do mercado financeiro. Estão convencidos de que as economias mais ricas serão forçadas a socorrer as mais vulneráveis, no fim os investidores obterão muitos milhões de lucros.
Só que correm o risco de matar a galinha dos ovos de ouro, já lançaram a Grécia numa profunda crise financeira e, pior do que isso, transformaram essa crise financeira numa crise política que pode transformar-se numa imensa dor de cabeça. Se essa crise se alargar à Espanha, Portugal e Irlanda ninguém é capaz de prever as consequências.
Uma crise social greve nestes países conduzirá ao agravamento da crise económica e a situações de ingovernabilidade e se isso suceder é mesmo muito provável que hajam países que sejam incapazes de cumprir com os seus compromissos com os credores. Os meninos que trabalham nas empresas de rating poderão ser jovens muito brilhantes, mas são de um tempo em que a história é coisa de um canal de televisão que passa documentários a preto e branco e que o perigo do comunismo morreu com a URSS.
Só que o contágio vindo da Grécia pode não se limitar à situação financeira, pode desencadear movimentos políticos de dimensão imprevisível. Se a especulação permite aos investidores aumentar os lucros graças ao serviço prestado pelas empresas de rating, uma situação de incumprimento generalizado poderá levar uma boa parte da banca internacional à falência. Nesse caso não serão apenas os países do sul a sofrerem as consequências.
A combinação do euro com a livre circulação de mercadorias tem levado ao enriquecimento de alguns países europeus à custa de outros, os que enriqueceram querem agora mais benefícios com o argumento de existe maior risco em emprestar-lhes dinheiro. Este é um circulo vicioso de consequência imprevisíveis para a economia europeia, já não são só as economias da Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda que estão em risco, é o euro e a economia europeia, é um modelo de integração económica pensado apenas para fazer bons negócios e em que para tudo o resto é cada um para si.
As empresas de rating têm grandes responsabilidades, mas os políticos europeus que conceberam uma zona monetária onde pouco mais existe do que uma moeda e um banco central decorativo não se podem eximir às suas responsabilidades. Estão a conduzir a Europa para um beco sem saída e para a maior crise económica da sua história.
Desenganem-se os que pensam que serão apenas os gregos a pagar a factura pelo desvario financeiro dos que os governaram ou pela loucura do sub-prime. Se a Europa não enfrentar esta crise, limitando-se a considerar que é apenas um caso de “polícia financeira” da competência do FMI, terá de pagar a factura dos erros de um processo de integração monetária mal amanhado e conduzido a pensar apenas nos benefícios.