Dançar o tango

Que Manuela Ferreira Leite não tinha ar de saber dançar o tango já todos tínhamos percebido, aliás, recordava-me uma daquelas velhinhas que acompanham as netas aos bailes da aldeia para terem a certeza de que as moçoilas não voltam para casa com palha agarrada às cuecas. Se tivesse que imaginar a anterior líder do PSD a dançar só arriscaria um daqueles pares de velhinhas que dão um pé de dança, na melhor das hipóteses imaginá-la-ia a dar uns passitos mais o Pacheco Pereira.

Não quero com isto dizer que no PSD não há jeito para a dança, nos últimos anos o partido até teve algumas semelhanças com uma sala de baile, tanto foram os dirigentes que por ali dançaram. Desde os tempos de Cavaco Silva em que o pessoal andou a dançar um corridinho bem ensaiado durante dez anos que o PSD organiza matinés de dança com uma grande frequência, os dirigentes nem chegam a aquecer o par.

Se fosse o dr. Marques Mendes a dizer que não sabe dançar o tango não só não ficaria admirado como estaria mais tranquilo, sabendo-se que homem pequenino ou é velhaco ou é dançarino o facto de não saber dançar só abonaria a seu favor. Se Durão Barroso garantisse que não sabe dançar o tango acreditaria nele, o homem cedo nos disse que preferia a valsa a dançar o “malhão, malhão”. Mas sinceramente estava convencido que um líder do PSD formado nos tempos em que uma boa parte do trabalho político da JSD era feito em bailaricos saberia dar uns passitos.

Até compreendo que o líder do PSD diga que não sabe dançar o tango se com isso pretende dizer-nos que não "tangueado" por José Sócrates. Assim como defendeu uma nova diplomacia depois da visita de Sócrates a Espanha, também poderia dizer que em vez de fazermos figuras tristes a dançar tango com passos de portanhol melhor seria ensaiarmos com os paliteiros de Miranda. Mas dizer muito simplesmente que não sabe dançar o tango depois de andar anos e anos a ensaiar com um professor tão como Ângelo Correia é que me surpreendeu.

Pelo menos podemos ficar descansados numa coisa, se não sabe dançar o tango então não sabe "tanguear-nos", o que é um bom princípio. Mesmo assim arrisco-me a sugerir que seja feito um peditório nacional para pagar um curso de dança ao líder do PSD, da próxima vez não se sujeitaria à humilhação de contar as suas fraquezas em clubes de empresários americanos, até porque se arrisca a que algum lhe pergunte se, afinal, dançou uma coladera. De qualquer das formas, se alguma vez se decidir por um pé de dança com José Sócrates terá de se deslocar à Nova Zelândia, só aí poderá aprender as danças rituais dos Maori, que parece ser o género praticado na política por José Sócrates.