sábado, maio 08, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Pernilongos (Himantopus himantopus) no Sapal de Castro Marim

IMAGEM DO DIA

[Alex Brandon-AP]

«Bottlenose dolphins swim in oily water Chandeleur Sound, La. Oil giant BP's oil rig exploded April 20 in the Gulf of Mexico, killing 11 workers. » [The Washington Post]

JUMENTO DO DIA

Cavaco Silva, o tal que sabe de economia

É ridículo ver um candidato a Presidente da República usar o estatuto de Presidente para fazer campanha e responde de forma indirecta a outro candidato ao mesmo cargo, é ainda mais ridículo ver Cavaco Silva dizer que sabe de economia para sem qualquer argumento dizer que a verdade está do seu lado.

Se Cavaco sabe tanto de economia como afirma, coisa que não posso aferir pela sua actuação enquanto ministro das Finanças e primeiro-ministro, deverá saber que a economia não é propriamente uma economia exacta, isto é, as suas opiniões ou conclusões estão longe de ser uma verdade absoluta como se fossem um novo Teorema de Pitágoras.

Se Cavaco sabe tanto de economia deve lembrar-se de um ministro das Finanças incompetente que revalorizou o escudo com objectivos eleitoralistas e pôs o país a mendigar às portas do FMI.

É pena que Cavaco só saiba de economia quando está em campanha ou quando faz intriga contra o governo com o objectivo de usurpar competências para cujo desempenho não foi eleito.

UM PAÍS DE IRREFLEXÕES SUAVES

«O deputado Ricardo Rodrigues justificou meter os gravadores no bolso como acto "irreflectido". É isso que me preocupa, a falta de irreflexão deste acto irreflectido. Isto é, a dimensão comedida da irreflexão. Ter um acto irreflectido, então, para um português público é olhar, enquanto fala, para gravador nº 1, encostar-se à cadeira, olhar para o gravador nº 2, ir falando sempre, levantar-se e bater com a porta metendo os gravadores no bolso, em gesto mágico tão abracadabrizante que nem em câmara lenta o vídeo que por aí anda nos mostra como um dos gravadores se volatizou... Isto é que é perder a cabeça? E, atenção, na minha exposição dos factos menti para dar um pouco de emoção: disse que houve um bater com a porta. Não, aquele acto irreflectido não teve emoção nenhuma, nem uma porta batida! Repito, é isso que me preocupa. A suavidade da irreflexão, ao que parece, é o máximo de perder a cabeça que um político português se pode permitir. Eu ficaria mais tranquilo se o teor das perguntas e a insistência malcriada das perguntas tivessem levado o deputado a dar um par de bofetadas ao jornalista. Faltam-nos os perderes de cabeça a sério. Mas irreflexões moles, admito, vão mais com o meio ambiente geral. Um país em forma de iras suaves.» [DN]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

ESTADO DE EXCEPÇÃO

«O decretar de tolerância de ponto a propósito da visita do Papa deu o mote para o clima de histeria confessional que assola o País. No site do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o visitante é denominado por "sua santidade", assim como numa circular do presidente da Câmara de Lisboa. Pela PSP descobrimos serem os agentes que vão conduzir o papamóvel "católicos e casados pela igreja".

Nos media, sucedem-se as reportagens "giras" sobre "preparativos", da forra a ouro dos microfones que o Papa usará às crianças de seis anos treinadas para gritar "viva o Papa". O que os pais que trabalham no sector privado vão fazer aos filhos expulsos das escolas estatais (as privadas, incluindo a generalidade das católicas, não encerram), que efeito terá a tolerância de ponto no sector público da saúde e na economia, ou o que os restaurantes e similares vão fazer ao lixo durante três dias ( ecopontos e caixotes nas zonas do trajecto papal serão retirados) não interessa, parece, nada. A propalada maioria sociológica adepta do catolicismo (maioria cuja efectiva aderência os próprios "orientadores", como o cardeal Policarpo, questionam) legitima a conclusão de que "o país é católico". E portanto, voluntária ou involuntariamente, somos todos católicos e, mais, felizes devotos do Papa.» [DN]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FALAR ÀS CRIANÇAS

«Assim como os políticos têm por hábito recorrer ao futebol para explicar certas coisas, alguns economistas comparam frequentemente as finanças do País com o orçamento familiar. E das duas uma. Ou acreditam no que estão a dizer, e é trágico; ou fazem-no para que o povo os entenda, e é patético.

Embora a palavra economia derive efetivamente das palavras gregas oikos e nomo, podendo ser traduzido por "administração da casa", não há nada mais distinto nas sociedades modernas do que as finanças de um país e as de um lar. Desde logo por uma diferença abissal de objetivo. Nas famílias a poupança é central; nos países é a despesa. A título de exemplo, li algures que os Estados Unidos têm défices, praticamente ininterruptos, desde o século 18. Mais de 200 anos de défices!

A comparação das finanças públicas com o orçamento familiar é aliás uma ideia salazarista. Durante o fascismo os défices eram baixos e a doutrina de rapar o tacho prevalecia no Estado e nas famílias. Em consequência o país não tinha nada e vivia numa profunda miséria. Não existiam estradas, escolas, hospitais, nada. Portugal era ruralista e medieval.

Num país moderno a despesa é um investimento nos cidadãos. Hospitais, serviços sociais, subsídios de desemprego, reformas, servem para garantir as condições de existência. Estradas, aeroportos, escolas, centros de investigação, museus, servem para que cada um possa desenvolver-se, realizar os seus projetos e assim fazer evoluir o país.

A comparação não tem portanto qualquer sentido e a maioria dos que a usam, e dela abusam, fazem-no imaginando que desse modo a populaça entende melhor o assunto. Ou seja, estes economistas tratam as pessoas como crianças.

Não são os únicos. A infantilização do discurso político, económico e cultural é uma evidência. Hoje a maioria das empresas recorre à imbecilidade para promover os seus produtos. O consumo tornou-se numa paródia. Daí o recurso sistemático à parvoíce, à palhaçada, ao mau gosto. Nunca existiram tantos humoristas, tanto cómico, tanta exploração da alarvidade. Tudo para agradar a um público infantilizado, menorizado na sua capacidade de discernimento e maturidade. Anda por aí uma campanha de uma marca de roupas que diz "seja estúpido", coisa que publicitários e marca advogam certamente pois, em boa verdade, o seu público-alvo são os estúpidos, os que se deixam levar por estas campanhas néscias.

Mas é na televisão que a criancice atinge o seu expoente máximo. Transformando tudo em entretenimento, desde um filme, um desastre rodoviário, um concurso ou um atentado, em nome da velocidade e da massificação a TV trivializa todos os assuntos e reduz as mensagens à sua versão mínima, primária e necessariamente infantil. A sua influência estende-se muito para lá das pantalhas. Nos jornais crescem os títulos; na literatura vende-se futilidade; nas pessoas prevalece a imitação.

Por arrasto, a política também vai construindo frases curtas e emitindo mensagens cada vez mais primárias. O tempo de antena leva os políticos a evitarem qualquer argumentação sólida e optarem pelo slogan. A política faz-se de muitas parcas palavras e de poucas ideias fortes. Um pensamento elaborado não dá votos. Pelo contrário, o trocadilho e a graçola garantem títulos e tempo de antena. Louçã e Portas são bons exemplos dessa redução do discurso político à lógica do cartoon e da caricatura.

E nem o Presidente da República, sempre tão sério na fácies, escapa ao recurso da infantilização. Ainda recentemente, em visita a uma feira de chouriços, apelou aos portugueses para que comprem mais produtos nacionais. Mas não ficou por aqui. Acrescentou que se o fizermos o país não precisa de pedir tanto dinheiro emprestado lá fora. Não foi certamente o economista que falou, mas o presidente que considera ser sua missão meter algumas coisas nas cabeças elementares das crianças. Ou seja, os portugueses.

Enfim, o infantilismo é uma doença de tipo viral das sociedades avançadas. Transmite-se por via dos media, é altamente contagiante e dissolve os cérebros numa massa ignara.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Por Leonel Moura.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

ARROGÂNCIA SINDICAL

«O presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), António Martins, considerou esta sexta-feira "da mais profunda ignorância" as críticas ao organismo, considerando que partem do "pressuposto errado" de que a associação tem uma "atitude sindicaleira".

"Os juízes, através da sua associação, procuram o aperfeiçoamento na sua formação, a reflexão com a comunidade jurídica e académica e com outras profissões para melhor desempenharem as suas funções, de realizar justiça em cumprimento do mandato constitucional que o povo lhes atribuiu", defendeu António Martins, citado pela agência Lusa.» [CM]

Parecer:

Quem é este senhor para chamar arrogantes aos que criticam uma associação sindical absurda que faz mais política activa do que sindicalismo?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se ao senhor juiz sindicalista que tenha mais respeito pelos que no uso do direito de opinião criticam a sua associaçãozinha.»

UM MAGISTRADO MUITO EMPENHADO

«O juiz de instrução do caso "Face Oculta" quer os despachos de arquivamento do procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, relativos ao crime de atentado contra o Estado de direito. António Costa Gomes, ao que o DN apurou, já enviou dois ofícios ao PGR pedindo os documentos que ainda se encontram na Procuradoria, mas que o juiz entende que fazem parte do processo "Face Oculta" de Aveiro. Mas, até ontem, nunca obteve qualquer resposta.

Os despachos de arquivamento do procurador-geral (um de Julho e outro de Novembro de 2009) foram proferidos após o Ministério Público de Aveiro ter entendido que, das escutas telefónicas do caso "Face Oculta", resultavam indícios de um alegado plano do Governo, liderado por José Sócrates, para controlar a comunicação social. Daí a suspeita de crime de atentado contra o Estado de direito.» [DN]

Parecer:

Será que nos outros processos se empenha tanto?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»

ESTUDANTE EM REGIME PRISIONAL

«João (nome fictício), de 14 anos, estuda no 8.º ano da Escola Secundária de Vila Nova de Paiva, mas passa grande parte do tempo lectivo de castigo, fechado numa sala de aulas, sozinho.

A escola assume que não tem outra solução porque o aluno é rebelde, mas os funcionários e colegas do aluno condenam a situação. A Comissão Nacional de Protecção de Jovens em Risco (CNPJ) critica e a Confederação Nacional de Pais (Confap) dizem que a conduta da escola "é um absurdo".

A situação vivida pelo adolescente foi denunciada pela própria irmã, que também estuda na mesma escola. "Passa grande parte dos dias fechado, sozinho, numa sala de aulas", contou ao DN uma funcionária do estabelecimento, esclarecendo que o duro castigo foi aplicado esta semana. "Esteve enclausurado na segunda-feira. Desesperou tanto que se fartou de gritar e bater com a cabeça nas paredes da sala. Meteu dó", desabafou a auxiliar, denunciando que "estes castigos acontecem muitas vezes". » [DN]

Parecer:

Estranho.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Investigue-se e, se for caso disso, leve-se o caso à justiça.»

ALEGRE TERÁ DE ESPERAR

«Francisco Assis garantiu ontem que o tema das eleições presidenciais não vai constar na agenda da reunião do secretariado nacional (SN) do PS convocada para a manhã de segunda-feira. "Não creio que conste na agenda", "não se decidirá, certamente [quem o PS apoia]", "é um tema que não está na ordem do dia das estruturas de decisão interna do PS", afirmou o líder parlamentar socialista.

Dito de outra forma: da reunião não sairá nenhuma declaração pública oficial sobre as presidenciais. Como recordava ao DN um dirigente socialista, o SN "é um órgão executivo" e portanto "não seria apropriado" envolvê-lo na tomada de posição do partido sobre o apoio a Manuel Alegre. » [DN]

Parecer:

Vai ser candidato de Louçã durante mais algum tempo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Empreste-se uma cadeira a Manuel Alegre.»

PASSOS COELHO FOI APRESENTADO AOS EMPRESÁRIOS DO NORTE

«O almoço serviu para Passos Coelho dar a conhecer as suas ideias a alguns dos mais importantes empresários portugueses, incluindo Carlos Martins (da Martifer), Manuel Violas, Adalberto Neiva Oliveira, Aprígio Santos, Mário Ferreira (da Douro Azul), Carlos Saraiva e Joaquim Barroca (da Grupo Lena), entre outros.» [DE]

Parecer:

Digamos que foi apresentado num baile de debutantes no Porto, ridículo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se uma gargalhada.»

PINTO DA COSTA DIZ QUE BENFICA É O CLUBE DO REGIME

«O FCP é incómodo porque inverte a lógica centralista do país?

Não me posso esquecer que no dia em que o FCP jogou com o Benfica a final da taça da cerveja (Taça da Liga ou Carlsberg Cup), o primeiro-ministro veio desejar publicamente a vitória do Benfica. Naturalmente que ele não tem nada contra o FCP, até porque ele nasceu no Porto, embora se diga que é de Castelo Branco. Ele tem bom relacionamento comigo, aliás, até tenho simpatia por ele. Agora, veio quase pôr o Benfica novamente no papel de clube do regime. Estou curioso para ver quantos ministros e secretários de Estado vão estar no Estádio da Luz no domingo.» [i]

Parecer:

É a crítica mais original a Sócrates.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se o merecido sorriso.»

O ESPECULADORES FORAM VÍTIMAS DE SI PRÓPRIOS

«As principais praças norte-americanas voltaram a registar uma forte queda, numa sessão de alta volatilidade, pressionadas pelo questionamento da integridade do sistema de "trading" nos EUA e pelos receios de que a crise na Grécia e o seu eventual contágio a outros países da Zona Euro possa penalizar o crescimento económico mundial.O Nasdaq fechou a cair 2,33% para 2.265,64 pontos e o Dow Jones cedeu 1,33% para 10.380,06 pontos. » [Jornal de Negócios]

Parecer:

Tanto especularam que agora estão a ser vítimas dos receios que promoveram.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Que aprendam a lição.»

VÍDEO DE SOLDADOS DO AFEGANISTÃO A IMITAR LADY GAGA É SUCESSO NO YOUTUBE

«O vídeo em que soldados norte-americanos, ao serviço no Afeganistão, imitam Lady Gaga e Beyoncé no tema "Telephone" é um êxito extraordinário no Youtube. Uma dessas imitações do teledisco reúne já mais de três milhões e meio de visitas. » [JN]

NO "ALBRGUE ESPANHOL"

O post "Não há inocentes", por Nogueira Leite:

«Portugal vive uma crise gravíssima, sendo agora claro que os credores querem garantias explícitas de que vamos mesmo mudar de vida. Não é apenas o Estado que tem de viver com muito mais parcimónia de meios. Somos todos nós que temos de ser mais produtivos, poupar mais e ganhar em linha com aquilo que efectivamente produzimos.

Em Portugal não há apenas um responsável, nem a situação tem origem recente. Seria muito fácil e até, no meu caso, conveniente, apontar José Sócrates e o seu governo como únicos responsáveis. Têm uma importante dose de responsabilidade que os portugueses e a história um dia lhes cobrarão. Mas não serão os únicos: o insustentável modelo português tem muitos progenitores e até alguns padrinhos, estes no sector privado. Trata-se de todo um modo de vida que é insustentável e que, para sermos justos, temos conceder que resulta de mais de 20 anos de acções e de inacções.

Porém, a questão hoje já não é sequer apenas um problema português, nem uma dificuldade do “arco mediterrânico” da zona euro. É um problema europeu. Há muitos incendiários estrangeiros mas os culpados são europeus: os países do sul que se deixaram desgovernar e os políticos dos 27 que construíram e governaram instituições europeias fracas e inoperantes. Basta lembrar a candura da admissão do engano grego ou os elogios de Durão Barroso ao nosso PEC.»

KRYSZTOF NOWAKOWSKI