sábado, maio 29, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Thomas Peter-Reuters]

«Water from the Oder river covers the garden of a house near the Polish border in Germany.» [The Washington Post]

JUMENTO DO DIA

Pedro Passos Coelho, líder do PSD

Fica bem a qualquer político defender a redução do número de deputados, cortes na despesa do parlamento ou a redução dos ordenados dos políticos, esta última foi mesmo a medida que Passos Coelho exigiu como condição para viabilizar as medidas de austeridade.

O que não fica nada bem é um dirigente partidário superar as dificuldades financeiras do seu partido ou muito simplesmente aumentar o seu staff recorrendo a truques para que sejam os contribuintes a pagar a despesa. Disfarçar a sua equipa de assessores disfarçando-os de assessores parlamentares é algo mais do que um abuso, é uma fraude porque os contribuintes pagam as assessores da Assembleia da República para melhorar a qualidade do que se faz no parlamento e não para ajudar a promover um líder partidário.

Se Passos Coelho quer ser o modelo que pretende dizer que é deve recuar nesta fraude e recolher os seus assessores à sede do PSD pagando-lhes com fundos do PSD e não com o dinheiro dos contribuintes tão sacrificados. Não só deve fazê-lo por se tratar de uma forma grave, como não lhe ficaria mal pedir desculpa aos portugueses, até porque estes gestos de humildade não devem servir apenas de truques de imagem para efeitos eleitorais.

(Imagem do "Câmara Corporativa".

ONDE ESTARÃO OS MEUS AMIGOS ESPANHÓIS?

No dia em que o FCP jogou em casa do Manchester United na Liga dos Campeões na época em que alcançou o título liderado por José Mourinho estava em Roterdão num seminário, vi o jogo na companhia da delegação espanhola composta maioritariamente por adeptos do Real Madrid.

Da Liga a conversa foi parar ao Europeu e quando lhes disse que havia um jogador chamado Ronaldo que deveriam ter em consideração riram-se, até brincaram com o nome comparando-o como o de Ronaldinho, que nesse tempo jogava na equipa madrilena. Nunca mais os vi, mas por vezes interrogo-me se terão voltado a lembrar-se dessa conversa, Portugal ganhou à Espanha nesse Europeu com a ajuda de Ronaldo, mais tarde o Real Madrid deu uma fortuna para comprar o jogador português e para a próxima semana vão fazer uma festa por terem contratado José Mourinho.

As voltas que a vida dá.

CAVACO SILVA, O PARLAMENTO E O TGV

Desde que o PS deixou de contar com uma maioria Cavaco Silva tornou-se um adepto das decisões parlamentares. Será que agora que o parlamento votou contra a suspensão da construção do TGV Cavaco Silva muda de discurso em relação a este projecto?

SEM ALEGRIA

«Desde 2006 que sabemos isto: Cavaco tem a intenção de fazer um segundo mandato. E é inevitável que o seu pessoalíssimo projecto de poder implique que nessa segunda estada em Belém tente explorar todas as virtualidades da indefinição que a Constituição portuguesa prescreve para a função, coisa que nenhum presidente fez até hoje mas que nem por isso está indisponível.

Acresce a isso - e por motivos que decerto se prendem com as características do seu projecto, plenamente desvendadas nestes quatro anos nos quais logrou suplantar as mais cassandricas previsões - que Cavaco tem sido apontado como o primeiro presidente em democracia a correr o risco de não ser reeleito. O que implicaria, em princípio, uma entusiástica movimentação de interessados e respectivos apoios. » [DN]

Parecer:

De Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O CASO DE ESTUDO DO "SPECIAL ONE"

«Apanhei-me a ler a entrevista de José Mourinho ontem publicada pelo jornal desportivo AS, saboreando as respostas. No dia anterior, tinha ouvido Mozer numa tertúlia televisiva. O brasileiro convivera com Mourinho nos dias do Benfica, quando o ainda não Special One começava a carreira de treinador sozinho. "Fiquei admirado com o que ele sabia, como os melhores", disse Mozer, que varreu isso como se fosse menor porque quis sublinhar: "O mais importante, mesmo, é que ele era mais inteligente 'que' todos." Ser mais inteligente de todos é uma presunção, ser mais inteligente que todos é um estatuto ganho por múltiplas provas. Afinal já era o Special One... As fotos destes dias de Mourinho revelam um homem que passou por um risco. Ou, como as fotos, aquela cena, que poderia ser fingida, de se abraçar a um jogador a chorar. A verdade é outra, é de um tipo que jogou tudo e está, por estes dias, na ressaca. O presidente do Inter topou-o, nem o tentou reter porque o que tinha para dar era dinheiro e o que o outro queria era saber, outra vez, onde ir mais longe. José Mourinho tem um desafio consigo próprio. Isso acontece com muito boa gente e geralmente é lamentável de se ver. Agora, quando um tipo se lança reptos e os ganha sucessivamente é admirável. Dá-nos um desejo inconfessável: já agora, deixa-me ver quando ele bate contra a parede.» [DN]

Parecer:

De Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

E A PT VENCEU A TELEFÓNICA...

«O ataque da Telefónica à PT fracassou. Não à custa da “golden share” do Estado nem por causa de centros de decisão nacional do BES. Mas porque um investidor sem temperaturas nem pátrias está contra a oferta. A PT venceu a Telefónica no mercado.~

A Brandes é um fundo de investimento gigante, um investidor institucional com 8% da PT, o terceiro maior da empresa. Se quiser, chame-lhe “um especulador”. Em declarações ao Negócios, a Brandes recomenda que PT e Telefónica se entendam, o que é um pontapé na virilidade espanhola. Mais do que isso: a Brandes diz que a proposta de 5,7 mil milhões de euros pela posição da PT na Vivo incorpora um prémio elevado “mas não reflecte a estratégia de longo-prazo e o valor operacional da Vivo para a Telefónica”.

Este é precisamente o argumento que a administração da PT usou para recusar a oferta da Telefónica. E é aceite por um fundo de investimento que serve de farol a outros dos que, como ele, só olham para um critério: dinheiro. » [Jornal de Negócios]

Parecer:

De Pedro Santos Guerreiro.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PARA O MUNDO E EM FORÇA

«Escrevo normalmente à terça e quarta, dia de entrega. A velocidade das notícias, que acelera quando se aproxima o fim de semana por causa dos semanários, não permite que os textos tenham grande atualidade. Mesmo assim acompanho diariamente a informação, leio jornais, vejo telejornais. Faço-o por uma espécie de sentido do dever, já que o exercício é tudo menos aliciante.

Os portugueses, vá-se lá saber porquê, são dados aos piores defeitos. A inveja, a má-língua, o preconceito, o derrotismo. Gostam muito de falar, sobretudo mal, mas pouco de fazer. Essas características invadiram praticamente todo o espaço mediático. É muito raro ler ou ver algo realmente interessante, aprender qualquer coisa de novo ou simplesmente ter acesso a uma informação útil e estimulante. Jornais e tempos de antena são quase inteiramente preenchidos por más notícias, profetas da desgraça e insídias. A alarvidade também aumentou muito nestes últimos tempos. As poucas coisas positivas que vão aparecendo limitam-se à promoção e venda. Hoje, em Portugal, só existem sorrisos nos anúncios.

Dirão que a culpa é da crise. Não há boas notícias para dar. Mas, na verdade, a crise é uma condição do ser português. Com ela ou sem ela o negativismo predomina. Uma das frases preferidas dos portugueses é dizer que isto está mal, mas ainda vai ficar pior. Por cá adora-se este tipo de disparatadas profecias.

Felizmente nem todos se comportam assim. Os media, como sempre, só transmitem um lado da história. Um número significativo de portugueses vai descolando, literalmente, do país. E digo literalmente porque ao invés da maioria que não consegue pensar para lá das historietas do burgo, começam a ser muitos os que já vivem no mundo. Não é por acaso que as exportações têm vindo a crescer, em vários setores e de forma substancial. Já lá vai o tempo em que a única coisa que se encontrava fora de Portugal era o Mateus Rosé. Agora, para além dos produtos tradicionais como os têxteis ou o calçado, temos construção, tecnologia, comunicação, energia, inovação, cultura. Quem viaja dá-se conta da presença de nomes familiares em vários pontos do globo. São muitos os portugueses que obtêm reconhecimento internacional na política, nos negócios, nas artes, no desporto e não só no futebol. A perceção local de que isto não tem saída nem futuro, não é a mesma que os outros têm sobre nós.

Temos de facto um problema de pequenez. Para além das tão faladas incongruências estruturais, qualquer atividade económica, científica ou cultural que se queira realmente afirmar debate-se com essa questão. Dez milhões de habitantes, não é nada. Ainda para mais, com um nível de pobreza que impede a participação ativa de uma parte considerável da população. Não temos escala.

Mas a pequenez não é um problema em si mesmo. Outros países têm uma dimensão similar ou menor. A pequenez só é um obstáculo quando se vira para si mesma. Quando se pensa como limite. De resto, estamos no mesmo sítio de toda a gente. No planeta Terra.

O mundo já foi uma vez o nosso destino. Volta a sê-lo. Só é preciso ter uma grande vontade. Até porque a situação não é tão negra como a pintam. Portugal é um bom sítio para trabalhar. O clima e a vida quotidiana, ajudam. Temos também alguns talentos naturais, como jeito para falar outras línguas e uma postura de abertura e simpatia. Se a isto juntarmos ambição e criatividade, a pequenez transforma-se facilmente numa boa plataforma de exploração planetária.

O território já não é geográfico, é mental e comunicacional. Estar no mundo não significa estar num determinado lugar, mas agir sobre o que circula, partilhar ideias, realizar coisas que se disseminam por toda a parte. É preciso fazer parte da conversa como diz com frequência uma amiga americana. Estar no mundo é uma atitude, mais do que uma diáspora.

Por isso toda esta choramingueira, os rancores, os ódios, a mediocridade, o primitivismo das ideias e das palavras, que dia após dia enchem papel, olhos e ouvidos, já fartam. Não há paciência para o Portugal derrotado.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

De Leonel Moura.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

'NO NAME BOYS' VÃO TER SECÇÃO NAS CADEIAS

«O acórdão proferido esta sexta-feira pelo coletivo de juízes da 5.ª Vara do Tribunal Criminal de Lisboa sobre o processo dos No Name Boys determinou 11 penas efectivas, a maior das quais de 12 anos, oito absolvições e 19 condenações com penas suspenas. » [CM]

Parecer:

É tempo de livrar o futebol português de marginais que transformam a ida a um estádio num gesto menos recomendável. As claques podem ser saudáveis desde que não se deixem infiltrar por criminosos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprovem-se as penas.»

MOURINHO APRESENTADO COMO ESTRELA

«Madrid está a postos. A postos para mais um acto hollywoodesco encenado por Florentino Pérez e que terá José Mourinho como actor principal e o Santiago Bernabéu como palco privilegiado, pois tudo se conjuga para que o treinador português seja apresentado em pleno relvado com as bancadas compostas por adeptos, embora a data ainda esteja por definir - as previsões apontam para terça--feira. Um cenário que não é inédito nos merengues, mas que desta feita prima pela inovação por se tratar, não de um atleta, mas de um treinador, algo muito pouco habitual. Uma cerimónia especial marcará, portanto, o primeiro dia de Lo Speciale no Real, que antes mesmo da primeira subida ao relvado do Bernabéu terá de cumprir o habitual acto de assinar o contrato que o vinculará ao clube para as próximas quatro épocas.» [DN]

Parecer:

Longe vão os tempos em que Mourinho foi corrido do Benfica e um director desportivo do Sporting se ter demitido depois de o ter tentado contratar contra a vontade dos sportinguistas que pretendiam um treinador adepto do clube. O Benfica acabou por chegar ao título, mas com o Sporting foi o que se viu.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo espectáculo.»

GOVERNO CONVIDA A MAIS UM ATAQUE POPULISTA

«Os concelhos do interior do País estão em risco de ver reduzido o ensino básico a três escolas. A estimativa é do Sindicato dos Professores da Região Centro depois de conhecidas as negociações entre o Ministério da Educação e a Associação Nacional de Municípios para o encerramento de todas as escolas com menos de 20 alunos.

As negociações entre aquela associação e o Ministério da Educação (ME) já estão a decorrer e foram ontem confirmadas ao DN por Fernando Ruas, que assumiu a intenção do Governo de "encerrar escolas do ensino básico com menos de 20 alunos". » [DN]

Parecer:

O PS arrisca-se a ter os votos dos seus dirigentes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver a onda de populismo que esta medida vai gerar.»

IGREJA CATÓLICA DESILUDIDA COM CAVACO

«"Já não lhe exigíamos que fosse tão longe como o rei da Bélgica, que abdicou por um dia para não assinar uma lei que não queria assinar. Mas se o fizesse [o veto] ganhava as eleições." A frase é do cardeal-patriarca de Lisboa, em entrevista ontem à Rádio Renascença e é um espelho contido das profundas divisões no eleitorado católico. O choque pela promulgação do casamento entre homossexuais no seio de algum eleitorado natural de Cavaco Silva vai ao ponto de alguns questionarem se o Presidente da República (PR) não pôs em causa a reeleição. » [i]

Parecer:

A verdade é que Cavaco fez a opção que fez a pensar nos votos do centro, convencido de que o voto dos mais conservadores está mais do que certo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pelas presidenciais.»

SANTANA JÁ FALA DE OUTRO CANDIDATO PRESIDENCIAL DA DIREITA

«Santana Lopes está desiludido com a atitude do Presidente. Para o antigo secretário de Estado de Cavaco, o dossiê presidenciais está em análise. "On verra! Sabe-se lá se aparece outro candidato?!", diz» [i]

Parecer:

Não me admiraria nada que agora que o PSD está convencido de uma vitória eleitoral nas próximas legislativas prescinda de Cavaco Silva.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»

OS SUPERIORES INTERESSES DE PORTUGAL

«O Presidente da República, Cavaco Silva, recusou, esta sexta-feira, comentar críticas do cardeal patriarca de Lisboa à promulgação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, frisando que as suas decisões visam os «superiores interesses de Portugal».

«Eu sou Presidente de Portugal e em todas a minhas decisões eu pondero os superiores interesses de Portugal, em particular naqueles actos que não têm efeitos práticos», declarou Aníbal Cavaco Silva aos jornalistas, no final de uma visita a Coimbra. » [Portugal Diário]

Parecer:

Grande Cavaco, abdica dos seus valores em nome dos superiores interesses da nação.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

YURI BIRD